12 de setembro de 2011

O primeiro livro a gente nunca, nunca esquece

O primeiro dia de funcionamento da biblioteca na escola onde fiz o primário – e todo o resto também, rs – foi uma festa. Todas as séries formando fila para fazer a carteirinha e escolher seu primeiro livro, e começar a embarcar na grande aventura que é ler.

Não sei se já contei a vocês, mas saí da pré-escola aos 6 anos já sabendo ler e escrever. Claro que em alguns momentos precisava de ajuda para entender o significado da palavra, ou para compreender o que uma frase dizia, mas já dava para me aventurar sozinho em águas mais calmas sem problema algum.

Como era da 1ª série “B”, turma da Tia Mary – embora sempre tenha me recusado a chamar professores de tio ou tia – tive que esperar muito tempo até que o 1ª “A” todo fizesse a tal carteirinha e escolhesse um livro. Ao menos por aqui, na primeira série as classes são abarrotadas de alunos, mas os anos vão fazendo algo misterioso com eles, alguns se mudam, reprovam, desistem, outros desaparecem sem deixar rastro, dando margem a cochichos sobre coisas mirabolantes que devem ter acontecido, até que, no 3º ano do ensino médio, minha turma, que lá no começo da vida escolar, esperando numa fila enorme para fazer o empréstimo do primeiro livro, era composta de mais ou menos 35 crianças em cada turma – A e B – se resumia a duas turmas que, juntas, não somavam 40.  Pensando agora, acho que nem todos tiveram a sorte que tive.

Mas voltando à fila,  me lembro de ter ficado nervoso e errado o nome da rua em que morava uma ou duas vezes, mas nada tão traumático. Depois de um “pode ir” mais falado com um gesto de cabeça que com a boca,  vindo de uma bibliotecária que depois se mostraria muito simpática – e que o tempo tratou de colocar para trabalhar, dezesseis anos mais tarde, em uma sala em frente à minha Smiley piscando  – me vi  defronte a um mar de livros distribuídos sobre grandes mesas.

por um trizNão demorei tanto na escolha – não se precisa escolher muito quando você ainda não leu nada, a não ser revistas em quadrinhos, e pouco entende de qualidade – e saí de lá com Por um triz a Elis ficava sem nariz debaixo do braço. Escolha rápida, decisão certa. Com que frequência isso acontece?

Acho que o li umas três vezes. A história da menina infeliz com uma pinta na ponta do nariz, e que tentara apagá-la com uma borracha, fazendo com que seu nariz caísse (!) me encantou na época. Na passagem em que o nariz some, levei a mão instintivamente ao meu nariz, coisas que se faz quando é pequeno.  Aí é um pega-pra-capar dela atrás do nariz que, entre outras coisas, vai parar no bico de um galo.

“Por um triz” foi escrito pelo grande João das Neves, com ilustrações de Denise Rochael, e é, ainda hoje, publicado pela Editora Dimensão. Todo o mérito ao autor e à ilustradora. Se sou um leitor hoje, muito devo à eles por este primeiro contato.

Já contei esta história em outro blogue que tive, mas achei que devia recontá-la aqui. Vale a pena lembrar de coisas boas.

9 comentários:

  1. Como já te falei/escrevi várias vezes em alguns dos meus blogs, Pedro Bandeira foi quem me deu às boas vindas ao mundo da literatura, com sua maravilhosa Ritinha - até tracei paralelos entre ela e a Emília em um dos meus posts, você inclusive o leu -, na época da alfabetização; ao passo que Monteiro Lobato, alguns anos depois, despertou definitivamente a paixão irremediável pela literatura que até hoje me inflama, hehe. Gostei muito do teu texto, também me fez reviver a minha infância, minhas primeiras descobertas literárias. E a propósito, você atualmente é bibliotecário, ou assistente em biblioteca? Abração!

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  2. Jorge, é sempre bom relembrar os tempos de infância, onde não tínhamos tantas preocupações como hoje, e éramos felizes com muito menos. Então, o setor onde trabalhei por um tempo no ano passado era vizinho de uma biblioteca, mas depois fui retransferido para meu setor de origem, pelo qual sou concursado, a tributação, que é onde trabalho agora. Mas até gostaria de trabalhar em uma biblioteca, mesmo não tendo muito a ver com minha formação universitária. Seria por amor mesmo ;)

    Grande abraço, saudades do Escrivaninha.

    PS: hoje à noite termino o link-me do Poesia, quero testar uma coisa no Gimp, acho que ficará bacana.

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  3. Eu também adoraria trabalhar numa biblioteca, pelos mesmos motivos óbvios que o seu. Aliás, bem que eu adoraria Biblioteconomia como uma segunda graduação.

    Também com saudades da minha Escrivaninha (ou Confissões), mas as coisas tão meio difíceis atualmente. Ainda tenho que comentar a respeito, esclarecer os (escassos) leitores e amigos virtuais, sobre as últimas reviravoltas na minha vida, em alguns dos meus blogs. Creio que você já deve saber uma parte, através do e-mail que te enviei pela última vez, nem me lembro direito. E a propósito, adorei o novo layout. Abração!

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  4. Então Jorge, o blog ainda está aqui do lado como "Escrivaninha", vou mudar já para Confissões. Sabe que fui aprovado no vestibular para cursar Biblioteconomia na Unesp? Pena que não pude levar adiante, era minha primeira opção de profissão ;)

    Ah, e boa sorte com tudo por aí, espero que tenha dado tudo certo.

    Abraços.

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  5. Oie, Lu ( posso te chamar assim, né?)

    Isso é verdade, o primeiro livro a gente nunca esquece mesmo...Eu não lembre quais desses eu li primeiro... A Ilha Perdida - Maria José Dupré e A Marca de Uma lágrima Pedro Bandeira.

    Beijos
    Luciana

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  6. Olá Luciana,

    Claro que pode ;) somos xarás, rs. Ah, os primeiros livros são inesquecíveis, deixam em nós, com todo o direito, sua marca.

    Beijo.

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  7. Gosto dessas histórias com os livros, na verdade gosto mais de contar minhas histórias com os livros do que os livros em si!!! Quando vi o titulo corri aqui para ver a história.

    O primeiro livro que lembro ter lido foi o "Mico Maneco" de Ana Maria Machado foi minha Tia Shely que indicou, ela nos levava para a pequena biblioteca nas sextas-feiras e era mágico... Ler era, foi e talvez sempre será minha forma de fuga, era tão bom ir para aqueles mundos onde bichos falavam, as princesas tinham um final feliz, e os jovens venciam as adversidades e os monstros do mar... Eu queria tanto ser Simbad :)

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    1. Nada melhor - mas nada mesmo! - que uma infância com livros. Nem tenho o que acrescentar ao comentário ;)

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