25 de janeiro de 2016

Miniaturista, de Jessie Burton [Resenha #240]

Miniaturista


Sinopse: Em 1686, a jovem Nella Oortman se casa com Johannes Brandt, um bem-sucedido mercador de Amsterdã, e se muda do interior da Holanda para a cidade grande. Nella acredita que o casamento com um homem rico e poderoso irá lhe proporcionar uma vida repleta de glamour e felicidade, no entanto, não é o que ela encontra quando chega à nova casa: por causa das viagens a trabalho, Johannes não é dos maridos mais atenciosos e Marin, sua irmã, se encarrega de controlar cada aspecto do lar e da família Brandt, revelando-se extremamente opressiva e dominadora.

Para agradar a nova esposa, Johannes a presenteia com uma miniatura da casa em que moram e, logo, Nella encontra um miniaturista para confeccionar algumas peças. No entanto, tudo começa a mudar quando o miniaturista passa a enviar obras que nunca foram pedidas, mas que não apenas refletem a realidade, como parecem anunciar futuras tragédias.

Encantador, belo e repleto de mistérios, Miniaturista é uma magnífica história de amor e obsessão, traição e vingança, aparência e verdade.


Aproveitando uma sequência de boas leituras – tanto em ritmo quanto em qualidade – que nem de longe lembrava a ressaca que enfrentei no quarto trimestre de 2015, decidi por ler mais um livro de uma autora que não conhecia, e que, no caso, se tratava também do livro de estreia dela.

Miniaturista conta a história de Petronella – Nella – uma jovem que nem chegara aos dezoito anos e tivera que se casar com um rico mercador de Amsterdã, em grande parte apoiada na esperança de ter uma vida confortável e constantemente lembrada dos momentos de incerteza que vivera com seu pai, viciado em jogo, que colocara o próprio bem estar da família em risco.

O primeiro grande choque vem quando ela se muda para Amsterdã, partindo de uma pequena cidade do interior, e se encanta com a opulência da cidade, para logo ser confrontada pela indiferença que beira a animosidade de Marin, sua cunhada, que é quem governa a casa, e até mesmo da criada, Cornelia, que a trata com frieza.

Nella é jovem, inexperiente, e ainda iludida por uma imagem idealizada de como será um casamento, mas o marido, mercador, tem outros interesses e compromissos, sendo bastante omisso para com ela, apesar de tratá-la sempre bem nos raros momentos em que se encontram.

A dinâmica familiar é interessante. Johannes, o marido, trata bem os criados, Cornelia e Otto – um jovem negro que resgatara em uma de suas viagens e que agora vivia sob olhares e ofensas das pessoas pelas ruas – ao passo que a irmã é sempre controladora e dona de uma língua mais do que afiada. Ela é quem atiça o irmão, pergunta sobre os negócios e quais as razões de não ter tomado ainda tal atitude, que poderia, segundo ela, arruiná-los, dado como ele reconhece, a intangibilidade de sua riqueza, fortemente apoiada em sua posição e influência.

O que sobra para Nella fazer então? Com a cunhada mantendo firmes as rédeas da casa, ela não pode fazer o papel de esposa, ainda mais levando-se em conta o fato de que o marido nunca está lá para ela, saindo sempre depois do café da manhã e chegando tarde da noite.

Johannes, para tentar se redimir, dá para Nella uma casa de bonecas, sem perceber o quão ridículo é o presente: por que Nella gostaria de brincar de bonecas se, agora, estava casada e pronta – digo mais, ansiosa! – para começar uma família?

Há muito mistério no livro. Os Brandt, família para qual nela entra ao se casar, são ricos e proeminentes, mas se escondem em um casulo repletos de segredos que podem destruí-los. E talvez este seja até mesmo um mistério maior que o da miniaturista, a figura que dá nome ao livro e que faz as peças que enfeitarão a casa de bonecas de Nella, mas que parece saber demais sobre a rotina da família, de uma forma quase doentia.

É interessante o panorama social que a autora constrói – o livro se passa nos anos 1600 – em uma Holanda dominada por ideais nacionalistas e fortemente amparada na fé e no conceito de que, socialmente, cada um cuida do outro, pois a república apenas pode prosperar se os cidadãos agirem em conjunto, harmonia.

Mas há muita hipocrisia entranhada na sociedade. O dinheiro é uma moeda que pode comprar quase tudo, desde amores e silêncio, até vinganças intrincadas. Eu torci para um final feliz para Nella, a cada página que ela se desviava para um caminho que se mostrava desastroso torcia com todas as orças para que ela se encontrasse, que ao final a autora fosse caridosa. Talvez ela tenha sido.

O livro deixa muitas pontas soltas, em especial no que diz respeito a miniaturista, e, apesar de ter gostado muito, torço intimamente para que a autora não se atreva a escrever uma continuação. Foi fechado um ciclo com o final do livro, os personagens merecem seguir com suas vidas e reconstruí-las da melhor forma possível, e acho que bem mais interessante os desdobramentos imaginados, as dúvidas e os medos que os leitores possam ter que algo que a autora venha a nos entregar, apesar de confiar em sua habilidade criativa.

Recomendo fortemente.

Miniaturista  - Dados

Miniaturista, de Jessie Burton (The Miniaturist, 2014 Tradução de Rachel Agavino, 2015) – 352 páginas, ISBN 9788580578164, Editora Intrínseca.

{A+}

Um comentário:

  1. Que bacana. Sabe que eu já li outras resenhas deste livro, mas nenhuma assim tão positivo.
    Fiquei animada agora.

    Gostei da Nella. Gostei de tudo!

    Bjkssss

    Lelê

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