1 de agosto de 2011

Se eu fosse uma flor, minha vida seria um botão

Com esta frase termina o primeiro episódio de Ichi Rittoru no Namida (Um Litro de Lágrimas), dorama exibido pela Fuji TV de outubro a dezembro de 2005, baseado no livro de mesmo nome, um diário mantido pela própria Aya Kito, uma colegial de 15 anos que vê sua vida se transformar completamente a partir de um diagnóstico perturbador.

ikeuchi

Filha de uma família humilde, sua mãe era higienista e seu pai possuía uma pequena loja de tofu, onde todos da família ajudavam antes de irem a escola, Aya era uma garota como outra qualquer, com todos os anseios e sonhos comuns às pessoas de sua idade. No entanto, sua mãe começa a perceber que a filha apresenta dificuldade para caminhar, caindo constantemente, além de não conseguir equilibrar a comida no hashi, servir seu pai, ou seja, apresentava dificuldades em executar algumas ações básicas para qualquer criança. Preocupada, a mãe conversa com a filha – que também estranhava os fatos, mas os atribuía ao cansaço e por ser “estabanada” – e decidem procurar um médico. Antes que isso acontecesse, Aya sofre uma queda e lesiona o queixo, precisando ir ao hospital. Lá, a mãe conta ao médico suas preocupações, e, após alguns testes, decidem fazer exames mais elaborados.

O resultado não podia ser pior. Descobre-se que Aya tinha degeneração espinocerebelar, uma doença progressiva e rara, que atinge “a medula espinhal, tronco encefálico e cerebelo, ocorrendo a degeneração gradual de tais pontos em grau celular, ou seja, nos neurônios, levando ao impedimento do transporte do impulso elétrico até o Córtex Cerebral, o que causa uma inicial mal interpretação e resposta de impulsos elétricos trazidos do Sistema Nervoso Periférico, que geralmente correspondem a impulsos motores, até a total inibição dos membros e o óbito.[Wikipédia.pt-br]” Assim, o paciente vai perdendo o controle sobre a coordenação motora, a fala e a visão, porém, em nenhum momento, suas memórias e faculdades mentais são atingidas, e ele passa por todo o processo lúcido, sem poder – dependendo do grau da degeneração – se comunicar.

AnneZlataNina

Confesso que remoí este texto por uns bons pares de dias. Relatos de jovens que tem suas vidas marcadas por mudanças brutais sempre me tocaram de forma especial, e, mesmo agora, nem sendo mais tão jovem assim, a história de Aya me tocou. Senti o mesmo ao acompanhar o drama de Anne Frank durante o horror nazista, a de Zlata Filipovic em sua Bósnia bombardeada, e até mesmo das angústias de Nina Lugovskaia em uma Rússia marcada pelas incertezas de um líder atormentado. Sem dúvida, relatos assim tem de servir para que saiamos do estado de letárgica nulidade que muitas vezes nos encontramos, pois as personagens citadas acima, cada qual ao seu modo, soube como lutar e conviver com a situação em que se encontravam, por piores que possam ter sido.

Eu gosto do som das bolas ecoando no ginásio, da sala quieta depois da aula, da paisagem que se vê da janela, do piso de madeira do corredor, das conversas em frente à sala de aula, gosto de tudo. Talvez eu só esteja incomodando, talvez eu não esteja ajudando ninguém, mesmo assim, eu quero ficar aqui. Afinal, aqui é o lugar onde estou.

A partir de então acompanhamos a luta de Aya, que já se inicia perdida. O processo é difícil, passando pela não-aceitação, e a pergunta que todos em seu lugar também fariam: por que ela? Por que justo ela havia sido escolhida? Em eventos aparentemente simples a partir de então é que se percebe toda a grandeza da garota, assim como nossa pequenez ao reclamarmos de coisas tão simplórias, mesmo sabendo que muitos enfrentaram com resignação problemas infinitamente maiores. Apesar de todas as dificuldades, e todas as barreiras que a doença lhe trouxe, Aya seguiu em frente do modo como a vida lhe permitia.

As pessoas não deviam viver o passado. É o suficiente fazer o possível no presente.

Lágrimas1Após a exibição do dorama, um dos maiores sucessos da tv japonesa até então, reacendeu-se o interesse pela história de Aya, fazendo seu livro voltar à lista de mais vendidos, alcançando a marca de  1,8 milhões de exemplares no Japão. Por aqui, a NewPop lançou, em 2010, a versão em mangá de Um Litro de Lágrimas, numa edição bastante elogiada (capa ao lado), mas que ainda não tive acesso. Para quem quiser assistir ao dorama – é praticamente impossível que seja exibido deste lado do globo – os links podem ser encontrados aqui.

Pesquisando pela internet, as impressões das pessoas que assistiram ao dorama e/ou sabem da história de Aya sempre diziam praticamente a mesma coisa: era um verdadeiro exemplo de vida, e choraram bem mais que “um litro de lágrimas”. Concordo. Mas é bem mais agradável lembrar da última frase de Aya em seu diário:

O fato de eu estar viva é uma coisa tão encantadora e maravilhosa que me faz querer viver mais e mais.

É bem mais fácil quando há um sopro, mesmo que íntimo e ilusório, de esperança.

6 comentários:

  1. De antemão, sabendo que o livro é baseado em fatos reais, já lemos com outra emoção, pois o tempo todo, reafirmamos que a história não é inventada. Deve ser muito doloroso ser saudável para logo saber que tem uma doença incurável.
    Não é o meu tipo de leitura e fiquei curiosa quanto a doença. Procurei na web e pude constatar que ela não é rara. Veja este relato.
    O Título do livro já diz tudo sobre a aceitação e adaptação que passou Aya Kito.
    Boa semana! Beijus,

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  2. Luma,

    também creio que seja isso: o fato de ser uma história baseada em fatos reais nos aproxima mais de seus personagens. E mexe muito co a gente, rsrs.

    Beijos.

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  3. Acho incrível como eles transformam tudo em mangá. Não de um jeito negativo, não, já ocorreu d'eu me interessar por livros através do mangá.
    Agora me deu curiosidade em ler dois dos livros que você citou.

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  4. Dy, gosto muito de ler mangás, nãoé apenas um quadrinho, é uma verdadeira forma de arte.

    Abração.

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  5. UM Ótimo livro Adorei .. Nina é apaixonante seu pensamento critico encanta.. recomendo esse livro pois é um dos melhores que já pude ler,

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