19 de setembro de 2011

Encontro com Rama – Série Rama Vol. 01 [Resenha #029]

Encontro com RamaOs meteoros sempre foram corpos celestes que, ao mesmo tempo, fascinaram e amedrontaram a raça humana, devido ao seu inegável potencial de causar um evento de extinção – como, de fato, ocorreu a milhões de anos com os dinossauros. Muito desse medo está relacionado, também, a completa impotência do ser humano ante esses corpos: o que fazer para mudar sua trajetória e impedir que um corpo errante se choque contra a Terra?

A essas perguntas diversas respostas foram dadas, todas elas no campo das teorias, e muitas absurdas. Em Encontro com Rama, livro lançado em 1973 por Arthur C. Clark, um dos maiores nomes da ficção científica de todos os tempos – basta dizer que é o autor de 2001: Uma Odisseia no Espaço – a Terra fora atingida 3 vezes por estes corpos, causando incontáveis mortes, e grandes prejuízos materiais.

A fim de evitar que o fato se repetisse, foi criado o programa Spaceguard, que tratava de localizar, catalogar e vigiar estes corpos celestes, sendo possível inclusive reconhecer sua rota no espaço e saber se tratava-se de um risco a humanidade. Foi assim que avistaram um objeto além da órbita de Júpiter, catalogado pelo número 31/439, que não parecia ter nada de especial, até que se tomou consciência de que seu tamanho era gigantesco e que sua trajetória cruzaria com a órbita de diversos planetas do sistema solar. Passaram a chamá-lo Rama, e ele tornou-se, de repente, o centro das atenções.

Neste ponto do livro os acontecimentos acontecem bastante rápido: sabe-se em sequência que Rama é cilíndrico e, provavelmente, oco. Tal objeto tão singular, e talvez o primeiro encontro interestelar de duas formas de vida inteligentes da história da humanidade devia ser visto mais de perto, então designam o Comandante Norton, da Endeavour, para pousar no “asteroide”. Em Rama, o Comandante Norton terá a difícil missão de explorar o lugar, grandioso, convivendo com o dilema de não ter tempo suficiente para proceder com uma exploração minuciosa, assim como não gostaria de provocar qualquer tipo de dano à estrutura, tudo isso somado ao fato de que, em hipótese alguma, deseja expor sua tripulação a riscos desnecessários.

A partir daqui, Clark diminui a velocidade dos acontecimentos, liberando homeopaticamente as informações sobre o estranho mundo. A narrativa é bastante consistente, e Clarke se mostra “de posse” dos fatos, mantendo o ritmo de forma que cada nova descoberta produza no leitor uma surpresa única, tornando-a ainda mais impactante. As descrições do interior de Rama são o ponto forte do livro, mas não é tão fácil imaginar um mundo cilíndrico, onde tudo parece ser feito em grupos de três, e a intervalos de 120º. Existe, por exemplo, escadarias com milhares de degraus, estendendo-se a alturas quilométricas, e o mais curioso de tudo, um mar cilíndrico.

Foi o ponto da descrição de Rama que tive mais dificuldade em assimilar. A imagem que se forma ao imaginarmos que navegamos por um mar com as mesmas dimensões e quantidades de água subindo pelas paredes ao nosso redor e também no teto é de esmagar qualquer coração. Imaginem uma garrafa com água em seu interior, agora coloquem a garrafa na horizontal e imaginem que a água, por força de uma estranha gravidade, fique colada a parede, formando um imenso vazio no centro, como em um anel. Agora coloque isso numa escala milhares de vezes maior e podem ter uma ideia.

Fora isso e o texto é bastante leve, e até mesmo bem-humorado, como na passagem em que Norton questiona a presença de mulheres com certas “aptidões” físicas à bordo de naves espaciais:

"O Comandante Norton havia decidido há muito que certas mulheres não deveriam ser admitidas a bordo; a imponderabilidade tinha, sobre os seus seios, efeitos tremendamente perturbadores. O caso já era sério quando ficavam imóveis; mas quando se punham em movimento e estabeleciam-se vibrações harmônicas, a dose era excessiva para quem não tivesse autocontrole. Estava convicto de que pelo menos um grave acidente espacial fora causado pela estupefação dos tripulantes à passagem de uma bem-dotada oficial pela cabine de comando."

Primeiro de quatro livros da série Rama, Encontro com Rama é, em muitos aspectos, uma grande introdução do que virá a seguir, e é pressentido por um dos personagens no final do livro

Os ramaianos fazem tudo em grupos de três.

Encontro com RAMA (Rendesvouz with RAMA, 1973Tradução de Leonel Vallandro) Arthur C. Clarke – 190 páginas, ISBN 8520903096, Editora Nova Fronteira.

{C+}

Rama AlephSó para constar: linda essa capa da Aleph, para sua edição de Encontro com Rama.

Um comentário:

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Oscar