6 de outubro de 2011

Meme Literário de Um Mês Dia 06: Quem (ou o quê) inspirou seu amor por livros?

bannermemeliterario2011postsÉ impossível responder a esta pergunta sem me lembrar de um dos posts mais gratificantes que escrevi. Mais uma vez, ele “nasceu” através de uma ideia da Vanessa, do Fio de Ariadne, que propôs uma blogagem coletiva em comemoração ao Dia Nacional do Livro Infantil, e que tinha como tema “Quem foi seu Monteiro Lobato”, que, de acordo com as palavras da Vanessa na chamada para a blogagem, pretendia discutir:

Como são feito os leitores? Como eles nascem e como são moldados? Com esta coletiva busco a resposta para a seguinte pergunta: Quem foi seu Monteiro Lobato? Houve alguém na sua vida que tenha sido incentivador de seu amor pela leitura? Qual foi o pontapé inicial da sua jornada por este mundo apaixonante que é a literatura?

Lá, no distante 18 de abril de 2009, em um blog que nem existe mais, eu respondi assim:

Bom, quando se trata de formação moral/intelectual meu pai tem um importante papel na minha criação. Isso pode ser considerado normal (ou mesmo banal), mas alguns fatores me levam a pensar que, ao menos no meu caso, merece um destaque especial.

Meu pai era mais um filho de uma família enorme, cuja matriarca era uma índia do sertão de Alagoas, uma família pobre e numerosa comandada por um pai severo. Ele só estudou até o primário, no mais foi trabalhar na lavoura para garantir a subsistência e viver oprimido pela miséria, pela seca, e pelo próprio pai, até que, não conseguindo mais tirar o sustento da terra onde viviam, vieram para São Paulo.

Meu pai tinha tudo para ser um pai como o dele foi: severo, ausente, ignorante e chegado numa bebida. Mas não foi.

Meu pai foi o extremo oposto. Desde cedo imprimiu em seus filhos à importância de estudarem para que, segundo palavras dele, "não terminassem ignorantes como ele", e também para que "tivessem uma vida melhor".

E ele se empenhou nisso, penso que a esperança, a vontade de ver seus filhos se tornarem o que ele não conseguiu - sequer pôde - ser, foi o que o motivou tanto. Me lembro bem do primeiro gibi que ganhei dele, era do Pato Donald, a história que mais gostei se passava no Egito, reli várias vezes (não era sempre que o dinheiro sobrava e dava para comprar gibis), foi ali que comecei a gostar de ler.

Do primeiro gibi ao primeiro livro, já falei dele aqui, foi rápido, e daí em diante meu pai sempre me incentivou, perguntando o que estava lendo, e até mesmo perguntando - em tom de censura - o porque de não estar lendo.

Meu pai era um leitor voraz, da D.O.Leitura, que pegava na prefeitura daqui, até livros de bolso do tipo western ou VC Andrews, de jornal antigo até nossos cadernos de escola - que, quando passei para o colegial, sempre arrancavam dele uma exclamação de "não entendo nada do que está escrito aqui" e eu respondia que "também não entendo Mendel muito bem" . Era um hobby, como o cultivo de orquídeas.

Meu pai era assim. Um nordestino de origem e formação humilde, vida sofrida, oprimida e marcada pelo trabalho, que, mesmo assim, superando todas as expectativas ou previsões, se tornou um PAI que gostava de orquídeas.

Se devo alguma coisa a alguém é a ele, e tenho a plena consciência de que devo, muito.

Devo a educação que tenho, o curso que faço, a vida que levo. Me devo por inteiro, por tudo o que sou, embora não corresponda a um vigésimo do homem que ele foi.

Já se passaram mais de dois anos desde a publicação deste post, e ainda sinto o mesmo carinho por ele. Bom isso. Mas tenho que por alguns pingos nos is: minha mãe também tem grande culpa em cartório, mas, na época de confecção do post, alguns fatos pessoais tinham acontecido a pouco tempo, e influenciaram minha escrita. Fica o registro.

O Meme Literário de Um Mês foi proposto pela Tábata, do Happy Batatinha. Visite para ver a lista completa de participantes.

Para ler minhas outras respostas, clique aqui.

7 comentários:

  1. Báh Luciano que texto lindo! Que história de vida linda! Sempre me emociono com pessoas que conseguem sobreviver as adversidades e resignificar suas vidas!
    estrelinhas coloridas...

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  2. Mi, eu sou suspeito pra falar, rs, mas é mesmo ;)

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  3. Luciano me comovi lendo seu texto. Apesar de meu pai não ser nordestino e nascido aqui mesmo em Sampa ambos têm uma história bem parecida. Meu pai sendo pedreiro, sempre incentivou em nós, filhos, o amor aos estudos e aos livros. Ele sempre falava: Não deixarei terras, nem outros bens materiais como herança pra vocês. Minha herança é o estudo que fará de vocês pessoas melhores do que fui. Lindo isso não?

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  4. Roseli,

    Eles pensavam semelhante, e com bastante sabedoria. Somos privilegiados.

    Beijo.

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  5. Nossa Luciano que história bonita, que bom saber que seu pai é tão importante em sua vida. Meus pais também são grandes incentivadores, meus irmãos e meu marido, mas depois que comecei a exagerar nas leituras eles ficam até com medo de falar sobre livros comigo...kkkk..porque ai não paro mais...por isso que agora me encontro mensalmente com pessoas que amam tantos os livros quanto eu e converso virtualmente com muitos blogueiros, para o pessoal não dizer que só sei falar disso quando estou com eles...kkk...ai falo só com os amantes da literatura como eu....beijokas amigo...tava com saudade do seu universo aqui...\o/

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  6. Elis, meu pai teve uma importância enorme em minha história. Devo muito a ele ;)

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