13 de março de 2012

La Bodega [Resenha #042]

La BodegaSinopse: La bodega é um tributo à Espanha, país que o autor, Noah Gordon, descobriu já na idade adulta e pelo qual se apaixonou. “Depois de algum tempo, constatei que desejava escrever sobre um homem que vivia na Espanha e se atrevia a sonhar que poderia elaborar um bom vinho”, conta. Para escrever o romance, ele visitou vinhedos, conversou com moradores da região rural catalã e fez ampla pesquisa sobre a guerra que sacudiu o nordeste espanhol ao fim do século XIX. Assim nasceu Josep Alvarez, personagem com a inteligência, a complexidade, a força e a sensibilidade que o autor sempre imaginou. Os leitores espanhóis foram os primeiros a conhecer a trajetória do jovem que deixou a casa do pai em busca de oportunidades e retornou a ela para recuperar as terras e transformá-las em uma produtiva vinícola. A edição espanhola de La bodega chegou às livrarias em outubro de 2007, com tiragem inicial de 200 mil exemplares e ocupa desde então as principais listas de mais vendidos do país.

Ganhei “La Bodega” nas trocas promovidas pelo troca-troca de livros criado pela Vanessa, do Fio de Ariadne, no ano passado. Fiquei bastante feliz por, em se tratando de trocas, o livro estar em excelente condições, novo mesmo; além de ser uma oportunidade de se conhecer Noah Gordon, autor americano do qual, há alguns anos atrás, me falaram muito bem a respeito.

Em La Bodega, acompanhamos a jornada de Josep, seu retorno ao vilarejo onde sua família morava, após quatro anos trabalhando na França, e a forma como tem de se adaptar a uma realidade bem diferente da que deixara para trás. Ambientado nos anos 1870, o autor desenha em sua narrativa uma Espanha envolta em uma guerra civil, com disputas acerca do trono que recomendo leia sobre para poder entender melhor o texto. Demorei a fazer isso, e, algumas vezes, ficava flutuando na leitura. A vida também não é fácil, trabalha-se muito nos vinhedos da região para conseguir uma renda ínfima, que mal lhes permite subsistir, e as leis não colaboram com os filhos que não sejam primogênitos: segundo ela, a posse de três quartos do vinhedo vai para o irmão mais velho, e o restante para os demais.

Sendo o segundo filho, Josep não teria direitos em herdar as terras de usa família, onde produziam um vinho de péssima qualidade, que acabava vendido para servir de matéria-prima para a fabricação de vinagre. Porém, ao retornar ao lar, após a morte de seu pai, encontra tudo abandonado por seu irmão, Donat, que preferira ir morar na cidade, colocando a propriedade à venda. Numa negociação improvável, mesmo para irmãos, Josep acaba comprando a propriedade, e passa a trabalhar nela com afinco.

Uma das coisas mais inteligentes do livro é a forma como Gordon conta sua história: ele não se utiliza de uma ordem cronológica, ao invés disso, prefere voltar atrás, de quando em quando – minha avó usa essa expressão ;) , para jogar luz a determinados fatos. Assim, por exemplo, já nos deparamos com Josep na França, recebendo a notícia da morte de seu pai, então o acompanhamos no retorno ao seu vilarejo natal. Mas só ficamos sabendo as razões pelas quais tivera que abandonar sua família no decorrer do texto, quando o autor se permite narrá-las.

Quando cheguei a este ponto torci a cara, pois esperava que desse outro rumo a história, e vocês também já devem ter imaginado o mesmo. Em se tratando de uma propriedade que produz um péssimo vinho, e de um filho que vivera na França, numa das melhores regiões produtoras de vinho e que tem disposição de sobra para trabalhar na propriedade que é de sua família há gerações, esperava que Gordon se empenhasse em contar como Josep passaria a ser um produtor de um grande vinho. Então, quando o autor volta no tempo para narrar o que tirara Josep de seu lar, pensei comigo: “Vai dar merda”. Mas não deu. Tomar ciência destes fatos é fundamental para o leitor entender o que se passa com Josep, e foi neste ponto que o livro, que já me era agradável, me fisgou de vez – Gordon, escritor experiente, sabe muito bem falar sobre cada coisa ao seu tempo.

Voltando aos dias atuais – na perspectiva da narração, claro – vemos o progresso e as dificuldades de Josep, que também tem muita sorte, ao aumentar, de forma também inusitada sua propriedade. Motivado pelo desejo de construir algo memorável, e guiado pelo conhecimento adquirido nos anos em que trabalhara com seu pai, além de colocar em prática técnicas que vira na França, vemos seu progresso, enquanto somos apresentados a rotina de um pequeno vilarejo, às tradições religiosas e culturais.

Um tanto amargurado pelo rumo que sua vida tomara anos atrás – mas nem por isso resignado com sua falta de sorte, e sempre muito disposto a trabalhar – Josep tem uma consciência, uma decência que poucos possuem, de modo que passei a torcer por ele desde o começo. Gordon narra uma história de superação, que tem um desfecho já imaginado em determinados pontos, mas que, no final das contas, ainda conseguiu me surpreender. Este é, certamente, um autor de quem quero ler mais alguma coisa.

La Bodega (The Bodega, 2007Tradução de Pinheiro de Lemos) Noah Gordon – 325 páginas, ISBN 9788532522825, Editora Rocco.

{B+}

10 comentários:

  1. Oi Luciano excelente livro leu! Gostei bastante dele quando li mas o meu preferido de Noah ainda é O Físico. Simplesmente maravilhoso! Fica aqui a dica pra próxima leitura.
    Bjs

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    1. Roseli, gostei muito da forma como Noah Gordon escreve, quero muito ler outro livro seu, então já anotei aqui tua sugestão ;)

      Beijos.

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  2. Luciano,

    Há um tempo atrás eu tinha verdadeiro pânico quando o autor cortava o 'clímax' da história e voltava no passado para explicar uma coisa que queríamos saber muito no início mas que nesse ponta da história já não faz muita diferença.
    Mas acho que o fato de achar tantos autores que fazem isso está me deixando acostumada...
    Adoro esse seu esquema de notas.

    =)

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    1. Joelma, eu fiquei apreensivo quando o autor fez isto em La Bodega, mas acabou dando certo. Sabe, eu tenho que fazer um post sobre o esquema de notas, explicar o "+" e os "-", apesar de serem óbvios, mas me falta coragem....

      Beijos.

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  3. Olá Luciano,
    Li a sinopse que está perfeitamente enquadrada na conjuntura atual!
    Depois, espanha é aqui mesmo ao lado!
    Abraço

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  4. \o muito detalhista explicativa a tua resenha, confesso que a história não me chamou a atenção, mas se o livro viesse parar em minhas mãos, com certeza eu leria!

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    1. Kézia, acho que ele acabaria te conquistando. Noah Gordon tem um jeito especial de contar uma história.

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