25 de junho de 2012

Ramsés I – O Filho da Luz [Resenha #055]

Ramsés: 1 - O Filho da Luz

 

 

Sinopse: Primeiro volume da saga do faraó Ramsés, que já vendeu mais de onze milhões de exemplares em 29 países de todo o mundo. Ícone do Egito antigo, que reinou durante 67 anos, e cujos feitos estão entalhados em esculturas nos templos egípcios, Ramsés é um adolescente de 14 anos que acalenta o sonho secreto de suceder seu pai, o faraó Sethi, no trono do Egito. Mas o herdeiro natural é Chenar, o filho primogênito. quando Sethi resolve iniciar Ramsés à sagrada e nobre função, as intrigas, provações e armadilhas mortais se multiplicam, entre elas a cobiça e inveja do seu irmão mais velho. Toda a trajetória de lutas, poder e consagração do novo Faraó está presente nos cinco volumes da renomada série.

Ler Ramsés era um desejo antigo, desde os tempos de escola. Sempre tive curiosidade acerca da cultura egípcia, seus mitos e lendas, e a vida que levavam em um ambiente abençoado pelas aguas do Nilo, rio que me fascinou desde a leitura de “Cinco Semanas num Balão”. O interessante é que, mesmo antes de se começar a ler Ramsés, se sabe o final do livro: é claro que ele será coroado faraó, e não seu irmão, Chenar, ficando então nas mãos de Christian Jacq a responsabilidade de tornar intrigante um livro do qual todos já sabemos o que acontece.

E ele consegue. O Egito que Jacq descreve é fascinante, a sociedade é harmônica e a corte um perigoso jogo de poder e influências. Nele Ramsés é educado por um preceptor pois o faraó e sua esposa-real tem mais o que fazer: gerir aquele que é o maior império de que se tem notícia, embasado na justiça para com todos. Desde cedo Ramsés mostra-se aplicado aos exercícios físicos e esportes de combate, o que é uma estratégia do autor para diferenciá-lo do outro pretendente ao trono: seu irmão Chenar.

Este dispositivo é utilizado em todo o livro: enquanto Ramsés é descrito como atlético, determinado e bonitão, aparentando ser mais maduro do que realmente é, e fazendo questão de não se utilizar de sua posição de filho do faraó, cativando aos amigos com amor (entre eles Moisés!); Chenar é gorducho, gosta de uma boa mesa e se preocupa em seduzir aliados notáveis na corte que lhes possa serem úteis em seu projeto de, um dia, se tornar o governante do Egito.

Como se pode ver, os irmãos se utilizam de suas melhores armas: Chenar da diplomacia; e, Ramsés, de sua força e predisposição natural para liderança. Assim, Chenar é o preferido da corte, enquanto Ramsés do exército. Mas as coisas não se resumem a estes simples fatos. Na época, a melhor forma de se resolver um conflito era partindo para o combate, o que faria de Ramsés o candidato ideal ao trono; mas o autor descreve um processo de mudança na política externa do reino – mal vista por alguns, que temem que ela acabe por abrir as portas à novas tradições e culturas, deixando de lado a própria cultura egípcia, da qual o povo tanto se orgulha – com uma maior ênfase na diplomacia, no diálogo, fazendo de Chenar, hábil em traçar alianças, o mais indicado.

Ramsés é um líder que pode se colocar na frente de um exército e defender seu povo. Chenar pode fazer com que não seja mais necessário que vidas se percam em guerras que podem ser evitadas. Um representa os velhos modos, e o outro a modernidade, a oportunidade de fazer com que o país cresça cada vez mais sem ter de ficar constantemente preocupado com revoltas e invasões.

Analisando assim, muitos dos leitores acabariam por ficarem do lado de Chenar: que se mostraria um líder inteligente, articulador e mantenedor da paz com a paz. O que o autor faz então para que os bons olhos de quem lê se voltem novamente para o rude Ramsés? Simples: ele faz de Chenar um conspirador perigoso, disposto até mesmo a trair seu próprio pai e dar um sumiço no irmão – a morte não é uma ideia que lhe vem à cabeça num primeiro momento: apesar de ruim, Chenar reconhece os laços de sangue que o ligam a Ramsés. Somos descarada, mas habilmente, guiados à escolha de um favorito.

E voltando um pouco à cultura, é impressionante a importância que davam naquela época à manutenção de sua identidade cultural e à escrita. Os escribas tem uma posição de destaque no funcionamento da máquina do Estado – o próprio Ramsés torna-se escriba para ajudar a um amigo – chega-se mesmo a afirmar que sem a escrita o reino egípcio não existiria.

Assim como a religiosidade. Tendo no faraó não apenas a figura de um representante dos deuses na terra, mas sim o próprio deus, o povo sente-se seguro e protegido com sua presença. Em uma passagem onde se narra um conflito, os soldados dão como certa sua vitória pelo simples fato de o faraó em pessoa, e seu filho, estarem com eles na linha de frente no campo de batalha. Também são narradas as cerimônias religiosas que aconteciam dentro dos inúmeros templos, que assumem um caráter mágico nas páginas do livro.

E aqui o Christian Jacq me confunde. Esperava por um romance histórico e ele injeta altas doses de fantasia na narrativa. Claro que o Egito, por si só já é fantástico, mas não esperava que Ramsés conseguisse se comunicar com animais, ou que o faraó tivesse superpoderes. Mas não é um ato falho e, ao invés de atrapalhar, trás um elemento a mais para a narrativa.

Jacq é um excelente narrador, sabe prender as revelações até o momento certo – e mesmo despistar o verdadeiro responsável por algumas ações, naquela que se mostra uma das maiores surpresas do livro – e sempre termina um capítulo no clímax, te obrigando a seguir para o seguinte e saber o que aconteceu.

Valeu a pena esperar tanto tempo para me encontrar com Ramsés. Mesmo sendo perfeito demais me identifiquei com ele e ganhou minha simpatia. Em breve parto para o segundo livro da série, O Templo de Milhões de Anos.

 

Ramsés I – O Filho da Luz (Ramsès: Le Fils de La Lumière, 1995Tradução de Maria D. Alexandre, 2010) Christian Jacq – 406 páginas, ISBN 9788577990061, Editora Best Bolso [Comprar no Submarino]

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22 comentários:

  1. Essa é uma série que eu realmente quero ler...adoro histórias com grandes civilizações como pano de fundo...e a egípcia com seus faraós é minha favorita :)

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    1. Renata, quando puder fazê-lo leia! Jacq é um grande escritor, sabe nos envolver em sua narrativa com facilidade. Aposto que vai gostar ;)

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  2. Li a série a alguns anos atrás, guardei para minha filha ler, ela também gostou. Recomendo muito, a leitura é flúida e não perde o pique a cada livro lançado. Um dos meus romances históricos preferidos.

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    1. Geíza, estou adorando a série, como disse para a Renata, Jacq sabe prender o leitor, e a ambientação é, por si só, fantástica ;) Excelente série até aqui.

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  3. Poooxa tb achava que seria um romance histórico, confesso que dei uma brochada com essa história dele se comunicar com os animais rsrsrsrsrs
    Mas acho que mesmo assim vale a pena, meu problema é que estou meio de ressaca de séries...
    bjoss

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    1. Fernanda, dá mesmo ume stranhamento quando acontece, mas você supera, rs. Eu recomendo, ao menos este primeiro volume é muito bom, veremos os outros.

      Beijos.

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  4. Eu não conhecia a série. Mas toda esse trama de civilização egípcia me chamou bastante atenção. Anotei o titulo da série aqui e assim que tiver uma oportunidade vou comprar e ler.
    Gostei do blog e estou seguindo!

    Lucas
    livrosecontos.blogspot.com

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    1. Lucas, se tiver a oportunidade leia ;) é um excelente livro.

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  5. Também tenho muito curiosidade quanto a cultura egípcia e eu não sabia da existência desse livro. Pela sua resenha percebi que se quero saber mais sobre o assunto, é nesta obra que devo investir.

    Abraços. Tudo Tem Refrão

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    1. Ágata, s tiver a oportunidade, leia, o livro é muito beme scrto, e raramente nos desaponta ;)

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  6. Você falou tanto aqui e ali sobre esse livro que eu estava ansiosa por essa resenha... Mas, sei lá... Os narradores que se ocupam em construir romances históricos tem um chambrego com a história positivista tão grande que eu ando perdendo o gosto por romances históricos! #Fato

    Talvez porque meus referenciais sejam todos fincados na Nova História Cultural, as vezes eu gostaria de ler mais romances históricos escritos a partir de uma perspectiva mais culturalista que percebesse a força do exercito, a politica e a religião por outro viés.

    Enfim, muito bom conhecer mais esse livro sobre o Egito, essa resenha vai para o meu arquivo pessoal, nunca se sabe quando se pode pegar uma classe que se apaixone pelo Egito e então essa leitura possa ser indicada e trabalhada, ainda mais sabendo com antecedência que a narrativa é boa, pq sim, para você dar um A o autor tem que rebolar rsrs

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    1. Pandora, eu concordo com você, e você tem muito mais propriedade que eu para sentir isso. Durante a leitura também estranhei a aparente calma e justiça que imperam no Egito de Jacq: não há escravos, e se existem os pobres são tratados com justiça pelo faraó. É um pouco estranho, mas acaba ficando menor ante a narrativa da estória de Ramsés em si. Eu gostei ;)

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  7. Não tinha pensado em ler esse livro, mas estou cada vez mais absorvida pelos romances históricos. Assim, esse título vai entrar na minha lista. Quanto às doses de fantasia, acho que temos que considerar que:

    1 - Mesmo o que aprendemos nos livros de história não são 100% comprovados, mas suposições mais corretas.

    2 - Acho que o fator acima abre espaço para a licença poética. Se o autor fez um romance de qualidade, acho totalmente válido. Só torço o nariz quando escrevem algum absurdo mesmo.

    Abraços

    Lu Tazinazzo
    http://aceitaumleite.blogspot.com.br

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    1. Lu, o que aocntece é que não esperava por isso, achava que seguiria a linha mais história, mas ele usa muito bem o recurso, e acrescenta à narrativa. E, cá entre nós, fantástico é um adjetivo que se aplica bem ao Antigo Egito ;)

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    2. A literatura escrita sem medida, é um desserviço para a História. Para alcançar uma narrativa interessante, o escritor chega a invencionices que os mais afoitos acatam como verídicas. A literatura tem esse poder e desde os gregos, ela conserva um poder que não é de ninguém e é nas frestas do real, como uma erva daninha, que a literatura histórica nasce. Desloca nossas certezas, transformando-as em incertezas. Em vez de nos oferecer respostas, nos faz novas perguntas; desagradáveis e perturbadoras.
      Tenho um pézinho no oriente e quando li esse livro fiquei um pouco revoltada com o uso indevido dos fatos histórico. Faz sucesso corrompendo a História.
      Boa semana! Beijus,

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    3. Luma, o autor enfeitou bastante o texto mesmo, até fazendo uso de outras figuras históricas como Agamenom, Helena e Moisés. Dá aquela sensação de estranhamento, mas acho que o ganho na narrativa compensa. No final, o encarei bem mais como ficção mesmo ;) Beijos.

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  8. só pela capa já me ganhou! e sua resenha me fez querer ler mais ainda!!
    Abraços! (http://elektry.blogspot.com)

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  9. A capa nao me chamou atenção. mais vou dar uma olhadinha amo faraó *O*
    Além de tudo, parece o cara do resident ev :)

    bjbj
    modaeeu.blogspot.com

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    1. Eu goste dela, rsrs, representa bem a cor do deserto, da areia ;) e o livro é ainda melhor, acredite. Beijos.

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  10. E quem é que não se interessa pelo Egito Antigo, e tudo que vem junto?

    Muito interessante sua resenha, Luciano, como sempre. Romances Históricos não são muito o meu forte, a não ser que tenham essa cor fantástica que você citou.

    Acho que, se quisermos ler coisas (mais ou menos!) fiéis à realidade, pegamos um livro de história e pronto. Literatura é arte, e arte é liberdade.

    Abraço. ;]

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    1. Jéssica, o livro tem boas doses de fantasia, e acho que seu uso foi benéfico para representar a cultura egípcia, apesar de causar alguns estranhamentos. Mas nada que seja tão sério que mine a leitura. Gostei bastante ;) Abraços.

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Oscar