16 de julho de 2012

A Filha da Minha Mãe e Eu [Resenha #059]

A Filha da Minha Mãe e Eu

 

 

 

Sinopse: Sensível e tão real a ponto de fazer você se sentir parte da família, A filha da minha mãe e eu conta a história do difícil relacionamento entre Helena e sua filha, Mariana. A história começa quando Mariana descobre que está grávida e se dá conta de que, antes de se tornar mãe, é preciso rever seu papel como filha, tentar compreender o de Helena e, principalmente, perdoar a ambas. Inicia-se, então, uma revisão do passado – processo doloroso, mas imensamente revelador, pautado por situações comoventes, personagens complexos e pequenas verdades que contêm a história de cada um.

A Filha da Minha Mãe e Eu é um livro difícil. Recompensador, é verdade, mas isto não diminui a dificuldade de passar por suas páginas, uma vez que, como quase em todo o caso, a recompensa está no final da jornada. A questão é: todos os leitores perseverarão na leitura até encontrar sua recompensa?

Focado nas relações familiares, o livro não é indicado para quem não goste de muitas considerações pessoais e, comparativamente, poucos diálogos. Logo no início, vemos Mariana descobrindo que está grávida, e chegando a conclusão de que nunca será uma boa mãe se não conseguir entender sua relação com sua própria mãe – o que deixa claro que não é das melhores – revisitando então, mentalmente, diversas situações passadas em família, para que pudesse tentar compreendê-las.

Logo de primeira ela narra uma situação na qual sua mãe lhe chamara de cínica, isso quando ela era ainda bem criança. A mãe de Mariana é uma coisa. Mas não uma coisa como o Marcelo Tas diria; eu a achei uma coisa até desprezível, que não faz muita questão de esconder a preferência por um dos filhos – mesmo dizendo o contrário, que não possui preferidos e ama a todos de igual forma – e, inclusive, ciúma da relação que a filha possui com o pai, chegando mesmo a repreendê-la por ter dado no pai  o último beijo antes de ele fazer uma viagem à trabalho, com o argumento de que o último beijo era um direito dela, como esposa. Dá pra acreditar?

Aqui abro um parêntese rápido para deixar minha opinião como filho sobre a questão “amor maior”: todo o discurso sobre igualdade de espaço nos corações paternos me parece balela. E quem ler esta resenha e já for pai ou mãe pode me corrigir ou deixar sua opinião sobre. Acredito que exista uma diferenciação sim no amor dedicado aos filhos pelos pais. Evidentemente isso não quer dizer que não faria tudo o que estivesse a seu alcance para ajudá-los e/ou ampará-los, mas quer dizer que os olhos brilham mais para uns que para outros. E o argumento da “afinidade”, para mim, não cola: amo muito mais os amigos com os quais tenho uma afinidade maior. E, antes que perguntem se me sinto preterido em relação aos meus irmãos, respondo: um pouco. Sou o filho do meio, não tenho o charme e fascinação do primeiro filho, tido ainda na juventude; nem a preocupação extremada com o caçula, já quase rapinha do tacho. Mas isso não cabe ser discutido aqui, tenho o péssimo hábito de fazer de blogs um divã. Vamos prosseguir.

No decorrer da narrativa vamos sabendo mais detalhes sobre a historia de vida da mãe de Mariana, tudo pelo que ela passou e que certamente contribuiu para que se tornasse a mulher que se tornou. Gostei da forma como a autora desenrolou os acontecimentos aos poucos, conforme ia contando a história de Mariana, sempre relacionando-a com os sentimentos e reações que sua mãe tivera na época em que ocorreram. Não deve ser fácil conviver em uma casa onde a preferência é tão gritante, e isso justifica o título do livro.

No primeiro contato, quando soube de seu lançamento, cheguei a imaginar que se tratava de um livro que contaria a história de uma avó que cria a neta como se fosse sua filha, e a reação da filha, e verdadeira mãe da criança, com esta. Mas não – e acredito não ser spoiler – o título se deve por Mariana sentir que existem, naquela família, duas pessoas diferentes: a filha da sua mãe, por quem sua mãe daria sua própria vida se ela estivesse em perigo; e ela, que não sentia essa proteção e carinho vindo da mãe.

Narrado em primeira pessoa, algumas passagens são cansativas, e parecem que Mariana só faz se queixar num mar de lamentações sem fim, o que me exigiu um tempo para respirar e colocar o ritmo no lugar. O livro melhora muito na segunda metade, com o ganho de a autora conseguir explorar muito bem situações que vem surgindo e que são tão comuns a um grande número de famílias no mundo real, mostrando-se sempre verdadeiros desafios para qualquer uma delas.

O tão conhecido “gentileza gera gentileza” poderia ter facilitado muito a convivência entre mãe e filha. Com uma se sentindo preterida pela outra, a distância entre ambas ia aumentando exponencialmente, tornando-as quase estranhas. O final tem um quê de compensação, mas de certa forma é, sim, recompensador por toda a experiência apurada durante a narrativa.

 

A Filha da Minha Mãe e Eu (2012) Maria Fernanda Guerreiro – 272 páginas, ISBN 9788563219152,  Editora Novo Conceito. [ Compre no Submarino ]

 

{C+}novo_conceito

25 comentários:

  1. "... não tenho o charme e fascinação do primeiro filho, tido ainda na juventude; nem a preocupação extremada com o caçula, já quase rapinha do tacho." Eu já ouvi isso em outro contexto, mas creia ser o mais velho ou a mais velha as vezes é só colecionar responsabilidades e mais responsabilidades. #Cansa

    E sim, eu penso que realmente as mães não amam os filhos igualmente, mas amam com igual intensidade, ao menos as mães de verdade, que se esforçam no projeto de "ser mãe" e sim, isso é o que eu também penso em relação aos meus amigos, amo as pestes de forma diferente por diferentes motivos, mas com intensidade igual.

    Estou lendo A filha da minha mãe e eu, é uma aventura psicológica e isso nos convida a fazer do blog divã, eu sempre faço isso no meu, nem sinto culpa mais. rsrsrs

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    1. Jaci! Quero muito ler sua resenha deste livro, já espero por ela ansioso ;) Acredito mesmo que o amor é diferente, é claro que - como destacou, os pais "normais" - amam a todos os filhos, mas há de haver o amor maior para um ou outro. É natural.

      Beijos.

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  2. Oi Luciano,
    posso me deitar no divã, eu agora?

    O enredo desse livro me é muito familiar. Compreendi melhor minha mãe quando fui mãe. E a tendência de repetir os erros de nossos ascendentes é uma constante diária. Dai que, procurar os porquês dos relacionamentos está mesmo em encontrarmo-nos a nós mesmos, encontrar nossa essência.

    Percebo o que você quer dizer quando fala em favoritismo que os pais têm em relação a algum filho. Eu senti isso em relação a uma prima emigrante na Alemanha que era a favorita da familia. Mas doeu apenas até perceber em que circunstâncias a predilecção acontecia. Ela só vinha a Portugal 1 vez por ano nas férias.

    Muitas são as circunstâncias que levam as pessoas a agir diferenciado. Tal e qual você referiu no seu texto. Mas a causa está sempre na falta de equilibrio emoção-razão que essas pessoas possuem.

    Pessoas emocionalmente desequilibradas educam pessoas emocialmente desequilibradas. Porém nunca é tarde para equilibrar, reintegrar os baixos nos altos. É um processo de aceitação, discernimento, harmonização do masculino e feminino que há em nós.

    Pra você ter uma ideia do longo processo que é, eu estou equilibrando somente aos 40 anos de idade. Muito feliz de estar atingindo uma migalha de serenidade e plenitude. Pois minha avó com 79 anos ainda não atingiu, e minha mãe com 61 anos também não.

    Quanto à blogagem não se sinta pressionado, nem interprete como comprometimento/obrigação. Mas, se depois de visitar algumas participações surgir um click em você, não deixa de postar só porque a data passou. Receberemos com carinho, sua 5ªfase, a qualquer dia, qualquer hora. E porque não falar do fato de não entender esse amor Maior? Enquanto escreve, você entra em autoreflexão.
    Beijo no seu coração.
    Rute

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    1. Rute, muito obrigado por seu comentário, concordo com o que expôs, em especial com o "Pessoas emocionalmente desequilibradas educam pessoas emocialmente desequilibradas.".

      E mais uma vez desculpa por ter falhado a Coletiva...

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  3. Olha, eu não sei se tenho vontade de ler este livro. Também já me senti "menos querida" pela minha família, achando que gostavam muito mais de minha irmã. Mas acho que não é uma questão de quantidade de amor, e sim de pura afinidade. Você se diverte mais, discute menos, com pessoas que combinam mais com você. Não sei, não sou mãe (ainda bem, né! só daqui uns anos), então não faço ideia de como é amar alguém mais do que a si mesmo. Ainda assim, acho que é um livro que mexe muito com nosso emocional, e não é o tipo de leitura que estou priorizando no momento.

    Abraços

    Lu Tazinazzo
    http://aceitaumleite.blogspot.com.br

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    1. Lu, o livro nos faz questionar muito, repensar fatos e até pelo em ovo procurei. É um livro bom, porém difícil. Parte do problema é que talvez não seja o mais indicado para mim também...

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  4. Só o título deste livro já me intriga. Quero ler em breve!
    Obrigada pela resenha. ;)

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    1. Natália, espero que goste! O livro é difícil mas recompensador.

      Grande abraço ;)

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  5. Oi Luciano!
    Gostei da sua resenha, mas não estou com vontade de ler esse livro... Pelo que você contou ele parece ser bem reflexivo, e não tenho muita paciência para livros assim.

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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    1. Sora, também custo a me dar bem com livros reflexivos, mas até que "A Filha da Minha Mãe e Eu" fluiu direitinho ;)

      Beijos.

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  6. Oi Luciano!
    Eu até fiquei um pouco curiosa com a sinopse desse livro assim que ele foi lançado, mas eu esperava um livro menos dramático sabe? Isso acabou tirando minha vontade de lê-lo. :/

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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    1. Luara,

      Acho que vale a pena dar uma chance a ele. Mas, sim, ele é bastante dramático e reflexivo ;)

      Beijos.

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  7. Eu já não estava muito inclinada a ler este livro e então leio a sua resenha e acho que realmente não quero lê-lo. Primeiro que de considerações pessoais eu já estou cheia. Com os problemas familiares a ultima coisa que quero é um livro que me meta mais ainda nessa bola de neve. Por isso acho que essa leitura vai ficar e lado por um boooom tempo.

    Gostaria de parabenizá-lo novamente por sua fantástica forma de escrita. :)

    Abraço. Tudo Tem Refrão

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    1. Ágata, se é assim então o melhor mesmo é deixar pra depois. "A filha da minha mãe e eu" é um livro que te leva a refletir muito, quem sabe depois não surja um tempo propício para isso.

      Abraços.

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  8. Nossa amei a proposta do livro, principalmente por se tratar de uma realidade que muitas garotas enfrentam.

    http://enfimshakespeare.blogspot.com.br/

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  9. Oii!
    To apaixonada por esse livro!

    Bacio, Selene Blanchard – MODA E EU
    Modaeeu.blogspot.com
    Espero sua visita

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  10. É isso que eu tenho medo quando eu for ler o livro, que marina comece a se queixar e não pare mais, por isso eu quero estar na época pra leituras assim.

    Bjs

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    1. Luana, algumas vezes ela faz exatamente isso: se queixa e se queixa. Mas o livro tem pontos interessantes que valem a pena serem lidos.

      Beijos.

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  11. Luciano

    Acho que mesmo sendo mãe fica difícil dizer alguma coisa em relação ao que narrou sobre o amor preterido dos pais.
    Tenho um filho só e hoje ele até me procura mais do que ao pai,mas isso vai muito da idade e afinidades que todos temos seja filho, amigo , pai ou mãe.

    O fato de um filho ser mais preterido que o outro é visto dessa forma aos olhos deles, mas não dos pais.

    Cada filho vai crescendo e formando sua personalidade, seus gostos e muitas vezes seu gênio, sua forma de pensar são contrários ao que os pais esperam e aí começa a pressão. Uns até chamam do ovelha negra, etc.

    Com o tempo e o amadurecimento vão se aceitando uns aos outros. O amor é o alicerce maior que mantém essa união.

    Como toda regra tem sua exceção podem haver casos que isso aconteça, mas vem de uma educação que deixou alguma marca que aconteceu e de n maneiras.

    Bem se continuar a falar isso vai acabar virando um testamento ou algo maior.

    Ainda não li o livro, mas gostei de ler sua resenha e opinião. É um tema que as resenhas devem ser bem diversificadas.

    Beijos

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    1. Irene é uma questão complexa mesmo, que rende e muito ;) Obrigado por compartilhar sua opinião. Quando for ler o livro aguardo resenha ;)

      Beijos.

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  12. Apesar de ter tido um ótimo relacionamento com a minha mãe, que era uma pessoa extremamente amorosa e cuidadosa com todos a sua volta, ou talvez por isso. Gosto muito de histórias de dramas familiares. Talvez seja mais fácil encarar esses relacionamentos difíceis quando não se tem a carga de ter vivido um relacionamento asim com a própria mãe. Acho que vou gostar muito dessa leitura porque apesar de apreciar livros leves e descontraídos, é nesse tipo de leitura mais reflexiva que eu me encontro mais.

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  13. Cris, para quem admira livros mais densos e reflexivos o "A Filha da Minha Mãe e Eu" vai cair bem. algumas vezes soa meio repetitivo, mas, no geral, a experiência é boa.

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  14. Olá.
    Em primeiro lugar, parabens pela resenha!Acredito que tenha sido a melhor que li até o momento.
    Minha filha leu esse livro e me pediu que o lêsse urgentemente. Apesar dela ser filha única, nós duas vivemos muitos conflitos que vimos retratados no livro.
    As brigas, os medos...mas qdo comecei a ler, parecia que o livro tinha sido escrito pra mim.
    Filha de uma familia de 4 irmãos, minha mãe nunca fez questão de esconder tbém, a preferência dela. E hoje, mesmo aos 38 anos de idade, ainda me machuco nessas situações.
    Tbém, como vc, acredito que exista diferença sim entre os amores. Não deixa de ser amor, mas que é diferente, isso é.
    Ao contrário de vc, gostei muito da leitura..tá, tem umas partes que poderiam ter ficado de fora..mas, perfeição é algo complicado de existir né?
    No mais..é isso.rs
    Beijo

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Oscar