24 de setembro de 2012

21/12 [Resenha #071]

 

21/12

 

 

 

 

 

Sinopse: Em Los Angeles, nem todo mundo acreditava que o mundo acabaria em 21 de dezembro de 2012: luzes vermelhas e verdes decoravam cada canto da cidade para as festas de fim de ano. Mas quando uma doença altamente transmissível começa a se espalhar pela humanidade deixando as pessoas insones - e descobre-se que seu surgimento está intrinsecamente ligado ao aparecimento de um antigo manuscrito maia -, até os mais céticos começam a temer o fim do mundo.

 

21/12 tem uma combinação entre ciência e história que sempre me agrada quando a encontro em minhas leituras. Me lembrou muito o A Nova Traição de Judas, de James Rollins e até o fodástico O Cair da Noite, do grande mestre Asimov em parceria com Robert Silvenberg. Não que sejam semelhantes de um jeito vexatório, pelo contrário: estres três livros trazem o que de melhor esta combinação entre ciências tão distintas pode nos proporcionar quando se fala em experiência de leitura.

Eu não estou dando muita bola para o 21/12, a data mística onde, dizem, o mundo vai acabar ou, ao menos renascer de um jeito bem diferente do que vemos hoje. Confesso que senti muito mais medo do bug do milênio, mas talvez este receio tenha sido superlativado por eu não ter ideia, na época, do que queria dizer. De qualquer forma não estou muito preocupado com o que acontecerá ou não, mas o livro de Dustin Thomason nos trás uma boa aventura.

Dias antes do 21 de dezembro, Chel Manu, uma competente especialista em cultura maia recebe a inesperada visita de um conhecido traficante de artefatos arqueológicos, que pede que ela guarde um códex, uma espécie de livro maia que, como descendente do antigo povo, ela logo reconhece como de um valor inestimável. Mesmo sabendo ser um crime, ela fica com o objeto que, caso caia nas mãos erradas, pode se perder para sempre, sem que nunca se saiba o que contém em suas páginas feitas com casca de madeira.

Do outro lado da cidade, Gabriel Stanton, pesquisador do CDC, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças do governo americano,  recebe um telefonema de uma médica que diz que reconheceu em um de seus pacientes sintomas das doenças que Stanton pesquisa, as doenças priônicas. Não demora muito e uma conexão é feita entre o paciente misterioso e o códex, que une tanto Chel quanto Stanton, fazendo-os trabalhar juntos tentando conter uma doença mortal que ameaça a população.

Um dos ingredientes que fazem livros deste tipo funcionar é a quase obrigatoriedade de que o autor faça com que  a ciência retratada seja interessante. Você não vai ler uma descrição de um teste de sequências de DNA se não intuir que ele é importante para a história, ou se o processo descrito for chatíssimo. Com isso, o autor tem de instigar o leitor mesmo tendo um problema sério para lidar: tem de fazer o assunto ser interessante, mas, ao mesmo tempo, não maçante.

É uma linha tênue. O leitor não aceitaria uma explicação qualquer para a formulação de, por exemplo, um antídoto para a tal doença – a interessantíssima IFF – Insônia Familiar Fatal, na qual o sujeito morre por não conseguir dormir! – mas caso o autor se demore demais descrevendo-a seu leitor pode se dispersar. Este equilíbrio dita o ritmo da narrativa que,  é importante lembrar, tem de ser fluída para que deixe o leitor tenso e faça com que ele anseie em prosseguir.

Assim como tornar a história de um povo um atrativo. Nós brasileiros estamos acostumados com os povos mesoamericanos, o tema é matéria componente do currículo escolar – ao menos era no meu tempo – e o autor os retrata com maestria. Os trechos onde ele narra o avanço de Chel e sua equipe na tradução do códex são os pontos altos para mim, em especial nos capítulos onde o autor simulou o próprio códex, com seu escriba narrando em primeira pessoa a decadência da cidade onde viviam.

Estes poucos capítulos, nos quais o escriba narra a decadência de seu povo,  nos permitem olhar mais a fundo para aquilo que, no fim das contas, é o mote do livro: os maias e o fim da Grande Contagem de seu calendário. Mesmo que fictício, estas poucas páginas traçam um panorama que salta aos olhos, e qualquer um que já tiver tido um mínimo de admiração por estes antigos povos se sentirá recompensado.

Só que achei o livro um pouco curto e meio apressado em sua parte final. Apesar de Chel, uma descendente maia que, mesmo orgulhosa de suas origens não compartilha a crença no fim dos tempos em 21/12; e Stanton, um médico pesquisador workaholic de temperamento dificil, mas de uma vontade ímpar de fazer o bem, serem bem construídos e bastante carismáticos, alguns personagens secundários são pouco trabalhados, como Monster, um tipo de maluco das ruas, e o pesquisador britânico que trabalha com Stanton, Alan Davies, que não perde uma oportunidade de alfinetar o modo de vida americano. Mas, principalmente, mais poderia ter sido dito daquele que pode ser apontado como o nêmeses de Chel.

Mas nada disso faz dele um livro ruim ou mesmo menor. Não, você continua com um bom livro em mãos, rápido e inteligente, onde ciência e arqueologia se unem para nos contar uma aventura de tirar o fôlego. E 21 de dezembro está logo ali…

 

21/12, de Dustin Thomason (12.21, 2012Tradução de Marcelo Barbão, 2012). 280 páginas, ISBN 9788565530125 Editora Paralela.

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12 comentários:

  1. Huhu!!! Como sou cristã desde pequerrucha a iminência do fim do mundo é algo constante em minha vida! Pode ser uma ameaça ou uma benção depende de quem e como ser diz: "Jesus está voltando!"... Se bem que com o passar dos tempos eu tenho começado a entender o porque algumas senhoras dizem melancolicamente: "Jesus volta logo!".

    Talvez por isso, livro assim detonam meu equilíbrio emocional. Parece besteira néh?!?! São livros simples, feitos sob medida para vender, cujos truques de enredo, tipos de personagens e derivativos quem tem o habito da leitura conhece bem... Mas ainda assim é mais fácil um livro desse me deixa um tempo meio lascada psicologicamente que um Chuck Palahniuk. rsrsr... #SouDoidaInterna

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    1. Hahaha! Pandora, eu, quando criança, e faltava energia elétrica, achava que era um sinal de que o fim do mundo estava chegando. Reza a lenda que minha a avó correu desesperada quando viu um avia a jato pela primeira vez. Mas nada a ver isso que eu tô falando.

      Eu achei 21/12 um produto bastante competente, é uma peça de entretenimento e cumpre seu papel, muito bem, por sinal ;)

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  2. Confesso também que há maiores preocupações para mim no dia 21/12 do que o fim de mundo, já que é aniversário do meu namorado hahahaha. Esse fim do mundo não é um assunto que me interesse, porém li algumas resenhas positivas a respeito desse livro e fiquei curiosa. Acho que é natural do ser humano querer brincar com a ideia de uma morte inevitável, mexe muito com nossa curiosidade. E, pra falar a verdade, estou curiosa a respeito do dia 22/12, quero ver como as pessoas vão reagir ao acordar hahahaha

    Abraços!

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    1. Eu também estou bem tranquilo, pelas minhas contas é o último dia de trabalho do ano, rs, depois disso é só alegria - ou apreensão, depende de quem for eleito... O autor soube se aproveitar do tema e criou uma boa história, com destaque para a cultura maia. Vale ler ;)

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  3. Eu gosto bastante de livros que misturem a ciência com um pouquinho de ficção. E adorei você começar dizendo sobre o que você pensa do que dizem que vai acontecer. Eu particularmente pirei a um ano atrás, mas de lá pra ca eu adquiri muito conhecimento com documentários e leituras e hoje em dia é muito difícil conseguir me fazer acreditar em algo que não existam provas concretas. Enfim, adorei a resenha, mas não acho que esse livro seria uma opção de leitura para mim.

    Abraço. Tudo Tem Refrão

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    1. Ágata, a gente vai virando macaco velho com o tempo, daí fica difícil se impressionar com isso. Em casa somos censores do meu irmão caçula, meteoro é um assunto proibido, ou senão ele pira mesmo.

      Mas o melhor mesmo é se informar. Procure por fontes fidedignas e tudo fica certo ;)

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  4. Com certeza essa coisa da ciência presente na ficção é um desafio, não só aos escritores como para os próprios leitores, pois há relatos que acabam ficando extremamente maçante, e isso automaticamente deixa a estória densa e um pouco cansativa. Mas quando o autor sabe lidar com tudo isso, eu fico extremamente feliz e empolgada, pois adoro. Acho que isso é um fator que pode levar o livro a ficar mais verossímil, na medida da ficção, haha.
    Amei a resenha :)
    Bjs, Ruama.
    http://esquiloscorderosa-ruama.blogspot.com.br

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    1. Este é o maior desafio mesmo, fazer a ciência ser interessante e descomplicada sem que fique chata. Thomason consegue isso, vale a pena ler ;)

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  5. A literatura muitas vezes trabalha indo contra a ciência e a História, fazendo com que as informações sejam manipuladas de forma a dar veracidade a uma narrativa fantástica.

    Desde que a Columbia Pictures se aproveitou de um boato que circula desde 1976, de que o planeta Nibiru colidiria com a terra e do pânico que o livro “The Twelfth Planet”, de Zacaria Sitchin causou na época, para investir na campanha publicitária para o lançamento do filme “2012”, que os boatos sobre o fim do mundo passaram a fazer parte do nosso cotidiano.

    Os maias nunca afirmaram que o mundo acabaria e sim que NÓS acabaríamos com o mundo.

    Boa semana!! Beijus,

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    1. É, eles se aproveitam mesmo, mas restou um livro bem escrito, e, como peça de entretenimento, bastante interessante ;)

      Beijus.

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  6. Acho que é uma leitura mais do que recomendada para ler 21/12. rs
    Não acredito na teoria, pode ser que acabe mesmo, mas não pq eles dizem. Bem interessante sua colocação sobre a ciência, porque realmente não são todos os livros de ficção cientifica que conseguem passar uma leitura interessante. Ótima resenha!

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    1. Lucas, eu geralmente me dou bem com ficção científica, então não tive muitos problemas com 21/12, ele é até uma leitura mais tranquila, fácil de acompanhar ;)

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Oscar