9 de novembro de 2012

Um Lugar Para Ficar [Resenha #082]

Um Lugar para Ficar

 

 

 

 

Sinopse: O relacionamento de Clara com Christian é intenso desde o começo e diferente de tudo o que ela já havia experimentado. No entanto, o que começa como um grande afeto rapidamente se transforma em obsessão, e já é muito tarde quando Clara percebe que as coisas foram longe demais e que Christian está disposto a fazer de tudo para ficar ao seu lado. Então, Clara parte da cidade e Christian fica para trás. Ninguém sabe onde ela está, mas, mesmo assim, Clara ainda luta para se livrar do medo. Ela sabe que Christian não vai permitir que ela suma tão facilmente. Não importa para onde ela vá, nunca será longe o bastante...

 

Aproveitando o tamanho, li “Um Lugar Para Ficar” logo após ter terminado “Bem Mais Perto”, da Susan Colasanti, em uma campanha pessoal para relaxar um pouco mais, neste período que voltei a estudar para concursos. Tem funcionado, estou conseguindo manter certa rotina, e ainda não me sinto sobrecarregado*.

Mas “Um Lugar Para Ficar”, apesar de falar de amor, está bem longe de ser tão “fofinho” quanto o livro da Colasanti. Aqui, começamos com Clara contando como conheceu Christian, em um jogo de basquete no ginásio do colégio, e em como se sentiu atraída e decidiu arriscar e chamar sua atenção. No capítulo seguinte vemos ela partindo em pleno verão com seu pai, um famoso escritor, para um destino que ela ignora.

Não é muito difícil adivinhar que algo deu errado, mas conforme vamos lendo o texto, que alterna a narrativa a cada capítulo, com Clara contando em um passagens de seu relacionamento com Christian, e, no seguinte, seu verão exilada em uma cidade costeira com seu pai, vamos sentindo uma sombra crescer dentro dela e acompanhamos seu desespero.

A sinopse entrega boa parte do trunfo do livro, que é justamente falar sobre relacionamentos possessivos. Já que é assim, posso dizer que Christian, que no começo do namoro é um cordeiro vai, com o passar do tempo, deixando um lobo faminto sair de dentro de si. Analogia batida, eu sai, mas ela se aplica perfeitamente ao caso.

Quem olhasse de fora, não perceberia que algo de errado estaria acontecendo. Christian parecia ser carinhoso e preocupado com Clara, estava sempre presente e agia de modo que nada em seus gestos delatassem o ciúme obsessivo que trazia dentro de si, vendo situações nas quais ela paquerava abertamente com qualquer um que passasse e chegando ao extremo de conferir a quilometragem do carro de Clara para se certificar de que ela havia, realmente, ido aonde tinha dito que iria.Óbvio que, quando ela reclamava, ele se dizia arrependido, que iria mudar e que ela não contasse à ninguém, para que ele não se sentisse humilhado.

Nunca tive relacionamentos obsessivos, então não consigo entender uma relação de dependência como a formada entre o casal. Mesmo sabendo que algo estava errado – apesar de nem sempre ter consciência da magnitude do problema – Clara se sente culpada e faz de tudo para agradar ao namorado, para que uma crise não venha. Ela passa a usar o tipo de roupa que ele exige, a não conversar com quem ele não quer, e, o que acho o pior de tudo, se policiar quanto ao que vai dizer.

Tudo bem que ela estava entorpecida pelo amor que sentia, e, mais um cliché, ninguém escolhe por quem se apaixonar, mas acho que temos de ter consciência o bastante para escolhermos não sofrer. Pode soar como egoísmo, e talvez seja, mas acho que é o melhor a se fazer em casos como este. A dificuldade em Clara não reconhecer a situação parece coisa de novela, mas não é preciso ir longe para tomar ciência da realidade: quantos casais se matam por aí? Não é uma notícia incomum, e quem desejar ter um jantar indigesto é só sintonizar em qualquer programa policial de começo de noite para conferir.

Outro ponto que a autora menciona e que achei de suma importância é a completa inutilidade de mandados de segurança, medidas restritivas e afins. Como diz a autora, decisões judiciais são feitas para serem levadas a termo por cidadãos em pleno uso de suas faculdades mentais. Um sujeito louco que quer te matar não vai ficar longe temendo um papel assinado por um juiz. E vem à minha cabeça a inutilidade de leis que pouco fazem para afastar os agressores e permitirem que as vítimas prossigam com sua vida. A autora também menciona que mandados de segurança só fazem com que o agressor fique ainda mais bravo. Concordo. Aqui, no Brasil, quantas mulheres foram agredidas e até mesmo mortas por seus companheiros mesmo depois da sanção da Lei Maria da Penha. É um grande passo? Não, é, na verdade, algo tão óbvio que dá vergonha de viver em um país que levou tanto tempo para enxergar isso. Será que ela funciona mesmo? Será que ela, ou o Estado como um todo, pode garantir alguma coisa a alguém que precise de proteção? NÃO!

Mas o livro não fica só nisso. A mãe de Clara falecera quando ela era pequena, então seu pai sempre estivera ao seu lado. Neste exílio forçado, tanto ela como seu pai tem de lidar com alguns aspectos do passado, assim como reaprender a amar. Para tanto, a autora cria um cenário perfeito, uma cidadezinha à beira-mar, veleiros, um farol antigo.

Esta mistura de ambiente agradável e tensão funcionou bem. “Um Lugar Para Ficar” é um bom livro de final de semana, e ainda trata de um tema relevante. Vale a pena ler.

 

 

Um Lugar Para Ficar, de Deb Caletti (Stay, 2011Tradução de Maria Angela Amorim de Paschoal, 2012) – 272 páginas, ISBN 9788581630199,  Editora Novo Conceito.

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*Pois é, esta resenha atrasou um pouco, na verdade já a tinha dado como perdida até que a encontrei salva no e-mail, rs. Ainda bem, não consigo reescrever nada, e ninguém merece perder um resenha.

24 comentários:

  1. oi, Luciano!
    Acabei de ler este livro essa semana mesmo e achei uma boa leitura também. Gostei do modo como a Deb abordou o assunto, de forma a deixar o livro com um ar mais leve mesmo falando sobre algo sério. Não julgo Clara porque a entendo, mesmo não tendo passado pelo que ela passou. Lidar com a culpa é algo bastante complicado e o "fator" amor conta muito... às vezes a gente só espera que tudo melhore e que o passado volte, mas não funciona assim, certo?

    Beijos ;*

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    1. Janaína, acho que a autora optou por seguir uma linha lúcida de narrativa, o que foi muito bom, mas algumas vezes as ações da Clara não me convenciam muito e destoavam disso. Mas no geral gostei, é um bom livro.

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  2. Caraca! Adorei esse livro, ele entra na lista dos "Eu preciso ler".

    A parte isso, eu concordo com você Luciano: "... temos de ter consciência o bastante para escolhermos não sofrer", mas vou te dizer, isso é mais fácil de dizer do que de fazer. Não falo por experiencia própria porque sou medrosa com relação a amor, mas acompanho desde feto (no verdadeiro sentido da palavra) uma relação baseada em possessividade e tenho uma infinidade de amigas que vivem isso (devo ter imã) e sei o quanto é difícil escolher fugir disso.
    Quando as pessoas começam um relacionamento nunca imaginam que vão dar nisso e quando dar as pessoas sentem uma baita sensação de irrealidade... Parece coisa de novela, mas é real e é com você. É caótico e as pessoas sempre querem acreditar que aquilo vai melhorar, parecem náufragos se apoiando em qualquer madeira. As vezes eu concordo com Cazuza, nós somos canibais de nós mesmos e não conseguimos nos livrar do que nos mata. É triste demais, mas cada um vive como pode.

    Ah, também considero uma avanço a Lei Maria da Penha na luta contra o machismo que mata tanto psicologicamente quanto fisicamente.

    Acho que rolou um devaneio nesse coments, mas vc vai fazer um esforço e me perdoar néh?!?! ;)

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    1. Haha, é bem mais simples falar que fazer mesmo, mas acho que temos de, mesmo que a duras penas, irmos nos cercando de cuiado e aprendendo a tomar decisões. Não é simples, claro que não, mas é o que se deve fazer, rs.

      E está perdoada, sempre ;)

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  3. Jamais imaginei que esse livro fosse tão denso, é o típico caso de um livro que não pode ser julgado pela capa. Fiquei muito interessada na história, e concordo sobre as leia contra agressores: é um absurdo! Não consigo entender como a violência é aceita com tanta facilidade em nossa sociedade, o Brasil parece ter medo de evoluir.

    Quando penso na impunidade que nossa lei e um grupo que está mais que ultrapassado - Os Direitos Humanos, que não parecem defender humanos - fico revoltada, me dá até frio na barriga de ódio.

    Ui, desabafei. Hehehe, abraços!

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    1. Lu, também não imaginava que o livro seguisse por este caminho, e me surpreendi positivamente com isso. Olha, essas leis pouco protegem na realidade, mas já é algum avanço, mesmo que um tanto quanto tímido.

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  4. É um tema bem importante, alguns homens se julgam donos das esposas/namoradas e é preciso reconhecer os sintomas de uma relação doentia logo no começo. Bom saber que o livro é bem escrito pois está na minha lista de desejados.

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    1. Cris, com certeza é uma questão que sempre vale a pena ser discutida, e a autora faz isso muito bem. Vale ler ;)

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  5. Na verdade, a lei Maria da Penha é a única no mundo no gênero. A maior parte dos países encaixa violência contra a mulher em violência comum mesmo, usando os mesmos processos e trâmites da justiça comum - quando, dado o fato de que a vítima e o agressor tem uma relação íntima, não faz lá muito sentido. A capa não passa muito a ideia, mas depois que vi sobre o que se tratava, fiquei com vontade de ler. É uma outra visão, não? Muitos escritores de literatura para jovens colocam um relacionamento meio obsessivo como algo quase que positivo (Bella e Edward, Anastasia e Mr.Grey) e tenho muito medo que isso esteja começando a parecer desejável para muitas meninas ://

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    1. Isabel, acho que essas leis são válidas mas sua aplicação e efetividade ainda é tímida. Prometem muito, garantem pouco. E não tinha pensado que esses casais obsessivos podem ser vistos como modelo, perigoso isso, os mais novos precisam de exemplos melhores!

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  6. Nunca que ia passar pela minha cabeça ao olhar esse livro que se trataria de uma tema tenso e denso. E o que me espanta é que um tema comum, a maioria das pessoas tem um descaso com esse assunto.
    Não pensava em ler o livro, mas agora é outra história.

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    1. Lucas, a capa dá aquela enganada, o livro vai bem mais fundo do que ela aparenta. Vale ler, com certeza.

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  7. Como disse na resenha de Tudo o Que Ela Sempre Quis, as capas se parecem muito...
    E, como o outro, fiquei curiosa para ler esse também... ainda mais não sendo "fofinho". :)

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  8. Este é outro livro que acho que a capa, que é linda, mas não condiz com a história. Gostaria muito de ler esse livro e, depois de ler tanta coisa positiva, certamente vou ler. Amei sua resenha.

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  9. li algumas resenhas desse livro e me interessei, preciso ler logo!

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  10. Li a resenha, o livro é bem interessante e atual... Estou muito curiosa para ler...

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  11. Já me recomendaram Um Lugar PAra Ficar, mas não tive oportunidade ainda de lê-lo, assim que desenrolar os que estou lendo irei ler o livro com certeza, principalmente depois dessas comparações que você fez.

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  12. Acho a capa desse livro muito solitária, lendo seu post realmente temos q melhora nossas leis e educar nosso filhos da forma correta...
    bjs

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  13. Não li esse livro e a primeira vista achei que era uma história de amor adolescente, mas vejo que a coisa se aprofunda. Essa parte de ciúme possessivo e ainda mais com a aceitação da Clara passa a ser uma atitude doentia para os dois.
    Como vemos essas histórias por aí e muitas acabam em tragédia.
    Depois de sua resenha fiquei interessada em ler, mas vou deixar mais para frente.

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  14. Pela resenha parece ser ótimo, quero lê-lo.

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  15. Comecei a le-lo, gostei, preciso te-lo pra terminar!!! Gostei e minha estante ficaria feliz em te-lo como amigo!rs

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Oscar