10 de dezembro de 2012

Esposa 22 [Resenha #090]

Esposa 22

 

 

 

 

 

Sinopse: Alice e William Buckle se casaram apaixonados. Mas, dois filhos e quase vinte anos depois, Alice está entediada. Por isso, quando recebe um convite por e-mail para participar de uma pesquisa on-line sobre casamentos, ela aceita num impulso. Respondendo às perguntas enviadas por um pesquisador anônimo e carismático (Pesquisador 101), Alice (Esposa 22) tem a oportunidade de reexaminar a história do próprio relacionamento.

Quando solicitei Esposa 22 não esperava muito dele: achava que seria mais uma comédia romântica com personagens rasos e situações clichés. Bastaram poucas páginas para que percebesse que tinha em mãos um livro único. Talvez, até mesmo, o melhor que li este ano.

Em um livro bem-humorado, sua estreia para o público adulto, Melanie Gideon nos apresenta Alice, que é casada com William, mãe de Zoe e Peter, e está entrando na meia-idade. Em crise. O grande problema da meia-idade são os balanços: o que fizemos, o que deixamos de fazer, o que não se pode mais fazer sobre tudo isso e da inutilidade de se questionar tanto, mas somos humanos, então já viu…

Alice está nesta fase, e, para piorar um pouco, se aproxima do que chama de ponto crítico: a idade que sua mãe tinha quando faleceu. Ultrapassar a idade que sua mãe tinha quando morreu mexe com ela de forma acentuada, pois não sabe como lidar com isso, não sabe ao certo o que significa, apesar de algumas vezes parecer que ultrapassá-la seja algo semelhante a abandonar sua memória, seguir sozinha por um caminho que normalmente deveria ter alguém para guiá-la.

Fechando o pacote, Alice sente seu casamento com William esfriando, e começa a se questionar desde quando isso vem acontecendo, e por que permite que isto aconteça, uma vez que se casaram apaixonados e construíram uma família juntos.

As respostas que ela procura parecem estar em um e-mail que ela recebe de um instituto que está fazendo uma pesquisa sobre casamentos. Uma oportunidade, ela pensa, de organizar suas ideias sobre tudo isso, além do que, fazer isso em segredo faz com que se sinta jovem novamente, e, quando se está passando por uma crise de meia-idade, isso é motivação mais que suficiente.

É acompanhando as respostas que a “Esposa 22” – como Alice é identificada – envia para o “Pesquisador 101” – o responsável por analisar os dados que ela envia – que acompanhamos a história de perto, e seguimos com Alice descobrindo o que pode fazer com sua vida. Mal posso descrever como é genial acompanhar os acontecimentos por meio dos questionários, com Alice contando como conheceu o marido, o que gosta dele, o que não gosta mais, enfim, o tipo típico de questionário sobre relacionamentos que se pode encontrar em qualquer lugar, e que seriam um tanto superficiais se não fossem respondidos por alguém tão disposta a entender o que se passa consigo mesma.

Alice se dedica ao projeto e, mesmo para perguntas que poderiam ser respondidas com um breve “sim”, discorre por diversas linhas, dando ao leitor a oportunidade de entendê-la melhor. É assim que ficamos sabendo de seus problemas como o marido, do temor de que sua filha tenha distúrbios alimentares e de que seu filho tenha dificuldade para se assumir gay – ela acredita que ele seja.

Conversar com o Pesquisador 101 a ajuda a compreender melhor os fatos, ordenando-os, mas tudo sai dos trilhos quando ela se vê flertando com ele, que começa a retribuir o interesse.

Bom, dê a alguém um relacionamento desgastado – para completar seu marido perde o emprego em uma economia falida e especialmente cruel com quem tem mais 40 anos – preocupações com os filhos, e um completo estranho gentil por trás de um nickname qualquer na internet e claro que a pessoa ficará minimamente interessada, mesmo que por pura curiosidade.

É aí que o livro questiona as relações como elas se dão hoje. Os mais puros vão se perguntar como Alice pode trocar um casamento de vinte anos por um desconhecido sobre o qual ela não sabe nada e com quem apenas conversa por e-mail e em um perfil fake criado no Facebook. Eu acredito que não houve troca, não propriamente dita, mas, como ela mesma afirma, o Pesquisador 101 foi o responsável por ela se sentir digna de desejo de alguém novamente, algo que ela não estava tendo do homem que a prometera amar por toda a sua vida.

É uma situação delicada? Sim, mas a autora tem todo o mérito de saber lidar com elas, de não vulgarizar sentimentos, muito menos menosprezar seus personagens e o leitor. Tudo acaba sendo tratado de uma forma leve, madura, entremeando e-mails com atualizações no Facebook e pesquisas no Google, com uma narrativa em primeira pessoa, extremamente ágil, baseada quase que somente em diálogos, sem, no entanto, deixar o leitor sem saber onde está.

No fim, acho que Alice não se encontra em uma situação tão ruim quanto se imagina. Claro que é simples de se perceber isso olhando de fora, mas ela possui uma família, filhos que se importam minimamente, e amigos que estão ali para o que der e vier. Mas é preciso que ela encare tudo para que se aperceba da real dimensão dos fatos, e mesmo que o final se insinue para o leitor mais imaginativo, ele não deixa de ser perfeito, justo da forma como uma personagem fascinante como ela merecia.

Esposa 22 é um dos melhores livros do ano, com certeza aquele que mais me surpreendeu.

 

Esposa 22, de Melanie Gideon (Wife 22, 2012 Tradução de Adalgisa Campos da Silva, 2012) 400 páginas, ISBN 9788580572414,  Editora Intrínseca.

{A+}

+ “Esposa 22” no Dedicatórias e no Recomendo.

 

11 comentários:

  1. A capa não me apetece, mas fiquei surpresa com sua resenha porque nem cheguei a me interessar pela sinopse desse livro. Ainda assim, se o assunto que o livro aborda te interessa e você ainda não viu, eu recomendo o filme "Tomates Verdes Fritos", é maravilhoso - e você vai entender o porquê do título. Se já viu, espero que tenha gostado tanto quanto eu!

    Abraços!

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    1. Lu, no começo também não me senti lá tão atraído, mas não demorou muito para eu mudar de ideia. O livro me conquistou rápido, e vale muito ler. Agora, falha minha, apesar de todas as reprises na tv, ainda não assisti a "Tomates Verdes Fritos"....

      Abraços ;)

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  2. Que máximo esse livro! Fiquei interessada =P

    Essa semana terminei de ler "A culpa é das estrelas" e até agora a história não saiu da minha cabeça. Assim que terminei fiquei com vontade de mudar o final, mas depois percebi que se fosse diferente, perderia a graça e a beleza.

    Lu, participe sim do DL! Você dá conta de tantas resenhas e leituras, que uma a mais não faria tanta diferença assim!

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    1. Aléxia, com certeza estes foram dois grandes livros da Intrínseca este ano, muito bons. O que o "A Culpa" nos faz chorar o "Esposa 22" nos faz sorrir, ambos muito bons.

      Quanto ao DL estou pensando seriamente. Veremos ;)

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  3. Não solicitei esse livro pela parceria porque, assim como você, achei que fosse um pouco raso. Bom, aparentemente me enganei. É muito impressionante quando um autor consegue fazer algo legal com esse tipo de material!

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    1. Isabel, eu em envolvi com a personagem e a história fluiu muito bem. Foi, com certeza, uma grata surpresa este ano.

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  4. Eu não dava nada por esse livro. Como você disse achei uma sinopse rasa demais. Mas um A+ de você é porque o livro é realmente bom, talvez eu dê uma chance algum dia.

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  5. Caraca!!! Taí, deu vontade de ler!!! #SemMais

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    1. Pandora, acho que gostaria dele, os personagens são interessantes, bem humorados, vale a pena.

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  6. Uma pena que eu só tenha visto sua resenha agora... estava em dúvida entre ele e Just Listen. Acabei escolhendo esse último. Mas, bem, será o próximo, então. ^_^

    Só uma coisinha: eu estou com boas expectativas para Esposa 22 e, ao contrário de ti, não espero que seja raso, sabe? Acho que vou encontrar boas coisas dentro dele, também.

    Beijos!

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