4 de janeiro de 2013

O Colapso de Tudo [Resenha #096]

O Colapso de Tudo

 

 

Sinopse: O mundo moderno, tecnologicamente avançado e globalizado, adquiriu um grau de complexidade nunca visto na história da humanidade - porém seu equilíbrio é tão precário quanto um castelo de cartas. É o que o renomado cientista de sistemas John Casti expõe, de forma cristalina, em seu novo livro. Basta o empurrãozinho do inesperado para que a civilização, como a conhecemos entre em pane, com consequências graves para o modo de vida a que estamos acostumados. Casti examina a probabilidade de ocorrência de eventos extremos (ou eventos X, como denomina) provocados pelo próprio homem, indo de um prolongado apagão na internet ao esgotamento dos combustíveis, de uma pandemia global à desativação de todos os aparelhos eletrônicos por um pulso eletromagnético. E o mais assustador, como aponta Casti, é que todos os eventos catastróficos apresentados no livro já aconteceram antes.

O Colapso de Tudo” é uma leitura interessante. Nele, o autor, o matemático John Casti, discorre sobre onze situações que poderiam por fim à vida na Terra como a conhecemos. Sim, soa apocalíptico, ficção científica pura, e, na onda do 21 de dezembro – haha! o mundo não acabou! – até mesmo um pouco oportunista; mas o mais interessante é que, lendo-o, faz todo o sentido do mundo.

Eu não levo a sério profecias e coisas do tipo, mas quando se fala de teorias com um forte embasamento científico, a coisa muda de figura. Não é como se fosse o lento caminhar do aquecimento global – que, em uma palestra que assisti há uns três anos na UNESP de Presidente Prudente, um palestrante, vou ficar devendo seu nome, afirmava que o aquecimento global não fora causado por ações humanas, mas sim por um processo natural do planeta, que já esquentou, esfriou na Era Glacial, e agora está aquecendo novamente. Palestra interessante, e o cara ainda é um dos mais respeitados teóricos contra-corrente da ação humana pró causa do aquecimento. Mas não é assunto para esta resenha... – aqui as coisas podem acontecer bem rápido.

Na primeira parte do livro – incluindo o Preâmbulo – o autor fala sobre seu método. É preciso perseverar se vocês, como eu, têm uma tendência a flutuar em textos explicativos. Assim, mesmo que lhes venha a vontade, recomendo que não avancem o texto para a parte dois, e insistam, pois o que se lê aqui é fundamental para o bom entendimento dos trechos seguintes.

Nestes – como podem imaginar, a parte mais interessante do livro – o autor no apresenta os cenários em si: um apagão da internet, crise no abastecimento de alimentos, um pulso eletromagnético queimando cada circuito componente em cada canto do globo, um apocalipse nuclear, fim do petróleo, pandemias, falta de energia elétrica e água, robôs assassinos autoconscientes. Beira à ficção e em um primeiro momento ficamos tentados a apenas sorrir, mas à medida que Casti nos vai apresentando exemplos de eventos similares acontecendo em escalas menores, nos mostra que são, sim possíveis.

Talvez os que mais me sejam próximos e me deixe nervoso é a falta de água e  alimentos. Há uns quinze anos, um professor de ciências profetizou que, em vinte anos, nossa cidade sofreria com falta de água. Bom, ainda não racionamos nada, mas um dos ribeirões daqui é hoje menos que um fio de água. E quanto aos alimentos, eles sumiram da paisagem: onde antes se viam feijões, soja e gado de corte e leiteiro, hoje se vê apenas cana-de-açúcar.

Daí nos vem nossa consciência perguntar o que estamos fazendo com o mundo  à nossa volta. E, se sabemos que não é algo bom, devido a que não fazemos nada para reverter o quadro, ainda mais quando os maiores prejudicados por estas atitudes, e em um prazo cada vez mais curto de tempo, somos nós mesmos?

Não é preciso pensar muito para saber que o homem segue uma lógica interessante que, ao meu ver, se baseia em dançar a música que toca mais alto. Como há uns bons anos ouvimos o capitalismo predatório em primeiro na Billboard, não acho que algo vá mudar tão cedo.

Alguns dos cenários descritos por Casti me deixaram realmente em estado de alerta, e merecem toda a atenção que a eles se pode dispensar. Mas do alarmismo às ações existe uma distância incrível, e muito desta força se perde. Somos humanos. Leitura interessante – mas nem sempre fácil – é um título para se ler com certa cautela. Não é necessário estocar água, comida e fugir dos grandes centros. Ao menos não agora.

 

O Colapso de Tudo, de John Casti (X-Events, 2011 Tradução de Ivo Korytowski e Bruno Alexander, 2012) 352 páginas, ISBN 978-85-8057-261-2,  Editora Intrínseca.

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15 comentários:

  1. Não tinha visto este livro no catálogo da Intrínseca ainda!
    Agora ele não me passa mais despercebido! rs
    Abraço,
    Vinícius - Livros e Rabiscos

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    1. Vinícius, vale muito a pena ler. Num primeiro momento também estava meio assim, mas é um livro interessantíssimo.

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  2. Eu acho interessantíssimas essas teorias que criam a respeito de como o mundo vai acabar. Essas que você citou pra mim fazem todo o sentido. Você tá observando por aí coisas que estão acontecendo em todo o mundo e pra mim essas sim vão ser as causas do tão temido fim do mundo. Assim como as guerras causadas por elas, já que todo mundo vai querer "sobreviver", então precisam ir atrás de água e alimentos. Enfim, eu também fico fazendo minhas teorias por aqui. Por falar nisso, você já ouviu falar do Movimento Zeitgeist? Eu conheci há pouco tempo, mas já gostei bastante. Se te interessar: http://movimentozeitgeist.com.br/
    Mas voltando ao livro, eu gostei da proposta dele. Com certeza leria e iria adorar. Mas não seria um objeto de resenha, talvez seja só uma forma de alimentar meus "monstros conspiratórios". haha

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    1. Luara, é um livro interessante - mas não fácil, principalmente no começo - que faz a gente viajar um pouquinho e os mais impressionáveis vão ficar de olhos arregalados, rs.

      Não conhecia o Movimento Zeitgeist, vou dar uma olhada.

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  3. Esse: "ao menos não agora" soou meio angustiante! rsrs... Eu tenho um certo receio com esse tipo de leitura, é forte e deixa o nosso juízo em alerta e paranoia... Como sou cristã acredito mesmo que um dia desses o mundo acaba, mas não gosto de me perguntar como vai ser! É tenso!

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    1. Ah, pra quem é mais impressionável é tenso mesmo, fica com o cérebro a milhão. Também acho que, um dia, acaba o mundo, mas taqmbém prefiro não saber como.

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  4. Não flutuar um pouco na primeira parte é meio que impossível - embora seja didático e bem exemplificado, é meio denso demais. Tenho alguns probleminhas ideologicos com esse livro, mas de fato é fantástica a maneira com que o autor faz algo aparentemente distante real através da argumentação...

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    1. Isabel, a primeira parte é bem difícil mesmo, mas é necessário que se insista, pois o que vem depois compensa e muito. Também achei admirável o modo como o autor faz de algo distante e improvável um fato a ser pensado. Gostei do livro.

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  5. Me interesso por esse tipo de leitura e até escrevi no post atual do "luz": É preciso aprender a distinguir as verdadeiras ameaças, das superproduções cinematográficas do apocalipse. Essa é uma das questões da atualidade, como devemos tratar a nossa convivência contemporânea com a catástrofe, real ou virtual, acontecida ou imaginária, anunciada ou desmentida.
    Já coloquei o livro na minha lista! Bom fim de semana!! Beijus,

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    1. Luma, acho que isso faz toa a diferença: o modo como lidamos com estas "ameaças", sejam elas prováveis ou não - e o principal é não pirar, rs, não por antecedência.

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  6. Sinceramente, não é o tipo de leitura que me interessa. Na verdade, acho que não ligo muito para o fim do mundo, acredito que ficar pensando nesse tipo de coisa não leva a nada. Me preocupo em preservar o planeta para as gerações futuras e até mesmo para a nossa.

    É muito difícil esse tipo de leitura me conquistar porque é meio difícil para mim acreditar até mesmo na credibilidade do autor. Acho que esse livro passará despercebido por mim...

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    1. Lu, muita coisa me soou estranha, mas até que os argumentos do autor são válidos. Eu gostei, mas não é o tipo de livro que agrada todo mundo mesmo ;)

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  7. Esse tipo de leitura não faz muito o meu gênero, mas como tenho provado a mim mesmo que nunca diga não antes de ler com atenção e disposição o que pensa que não lhe agrada, pois pode mudar de opinião. Com certeza flutuaria nessa parte com detalhes técnicos, etc. Valeram as observações e muito boa a resenha.

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