24 de abril de 2013

A Caneta e o Anzol [Resenha #123] [Livro que Viaja]

A Caneta e o Anzol

 

 

 

Sinopse: Poucos escritores evocam com mais autenticidade a vida, os costumes e o modo coloquial de falar das pessoas do interior do que o consagrado autor paranaense Domingos Pellegrini, vencedor do Jabuti e diversos outros prêmios. Em 16 singelos contos ilustrados cujo tema predominante é a pescaria — sem nada de épico à semelhança de Moby Dick, mas com momentos de pura emoção que encontramos como em O velho e o mar, de Hemingway —, Domingos nos convida, neste livro encantador, a descobrir os prazeres simples da vida no campo, do encontro com os amigos, das reuniões em família, das tranquilas excursões à cata de peixes, do inigualável espetáculo do pôr do sol sobre um rio, trazidos à superfície pelo seu talento literário e pela notável sensibilidade do artista Fernando Souza.

Meu primeiro encontro com Domingos Pellegrini foi completamente por acaso. Apesar de possuir diversos livros publicados, não conhecia o autor quando tive em mãos o “O Caso da Chácara Chão”, lançado pela Editora Record. Comecei a lê-lo pensando se tratar de um romance policial – a capa com a arma ajudava a dar esta impressão – era uma época na qual esta era minha principal leitura, lá pelos meus quinze/dezesseis anos, mas ele me saiu tão diferente que não sei se esta é a classificação correta para ele.

Abri um livro de um autor desconhecido – para mim – e fechei o de um dos meus preferidos.

Mas inexplicavelmente, após isso, não tive nada do autor em mãos, parece que as coisas conspiravam contra, tanto que nem mesmo sua palestra no último Salão do Livro  de Presidente Prudente-SP consegui assistir. Coisas da vida.

Até que a Sharon Caleffi, do Quitandinha, teve a excelente ideia de promover um evento com um “Livro que Viaja”, escolhendo para tanto um livro de contos, que é uma boa forma de introduzir novos leitores à escrita do autor. Não se perde uma oportunidade dessas de se ler Pellegrini. Aceitei, claro!

Eu tenho uma certa dificuldade em resenhar contos, é complicado condensar tudo em um comentário geral – apesar de, neste caso, ser uma coletânea temática, com contos sobre pescaria – e fazê-lo conto a conto é inviável, pois dada a estrutura, pode-se entregar facilmente todo o conteúdo deles.

Mesmo sendo livros de gêneros bastante diferentes, encontrei aqui, no “A Caneta e o Anzol” o mesmo estilo de narrativa que tanto me surpreendeu no “O Caso da Chácara Chão”: Pellegrini consegue narrar os fatos de uma maneira que se aproxima de forma genial do modo como nós, pessoas reais, falamos, interagimos, levamos nossa vida. São poucos os autores que conseguem emular o modo coloquial de forma que, no texto escrito, não pareça ou forçado ou simplesmente feio. Pellegrini tem esse dom, fazendo das relações algo natural, que dificilmente, como leitores, iremos questionar.

Isso faz com que mesmo as pequenas coisas do dia-a-dia, que podemos achar banais – como um dia de pescaria, um encontro casual em um pesque-pague – seja algo interessante, digno de que demos a ele um sentido. Acho que posso dizer que ele junta pequenos momentos e nos faz ver o quanto são, na verdade, importantes.

Girando em torno do tema “pescaria”, o livro trás dezesseis contos curtos, de leitura rápida. Quem passou uma tarde na companhia do pai pescando ao menos uma vez na vida conseguirá imaginar com facilidade o universo no qual que se passa – e vai reconhecer – muitas das situações. Aqueles dias onde barrancos viram reinos e um século passa antes de um minuto, no fisgar de um peixe.

Dentre os meus preferidos estão o “Vinganças”, onde o autor, relembrando o clássico embate entre homem e peixe narrado por Hemingway em “O Velho e o Mar”, questiona da validade de todo o esforço de uma pescaria, e o como peixes e homens, através de suas atitudes, se vingam um do outro.

O “Companheiros” e o “Herói” mexeram comigo, mas foi por terem puxado uma série de fios que, quando se desenrolaram me levaram a relembrar muitas coisas, que não cabem aqui, não tanto por não ser o lugar, mas por ter que me estender demais para explicá-las. Mas a frase final do “Companheiros” sintetiza bem o sentimento.

Talvez seja por isso que gostamos de pescar: para esperar o imprevisto do habitual, a surpresa de repente, a graça de estar vivo e agradecer, comendo cada peixe pescado, com gosto e respeito.

– Página 78

A edição é caprichada, com ilustrações do Fernando Souza que casam bem com o que vai sendo contado. É um livro leve, com bons contos, que despertam as mais variadas recordações.

Eu me lembrei de bons momentos da infância, da euforia da ida, a diversão na beira do rio, e o cansaço na volta. Mesmo criança eu pensava comigo, ao chegar em casa, com sede, o corpo todo doendo, se todo aquele cansaço, o cheiro de peixe e o barro entre os dedos valiam a pena. Bom, no fim sempre valem, e, mais uma vez, acredito, é isso que Pellegrini veio nos mostrar.

 


Caso tenha se interessado em ler o livro, a Sharon, organizadora do evento, ainda aceita inscrições. É só ler este post lá na Quitandinha.


 

A Caneta e o Anzol - Histórias de Pescaria, de Domingos Pellegrini, com ilustrações de Fernando Souza (2012).  128 páginas, ISBN 9788581301013  Geração Editorial.

{ A }

12 comentários:

  1. Que bom que você gostou, Lu! E é isso mesmo... o Domingos tem o dom de "sumir" e escrever como se as coisas estivesse acontecendo do jeito como a gente "acontece" com elas.... por isso eu acho tão bom.

    E obrigada por convidar os seus leitores para participar! É um livro que eu quero que viaje muito!!!

    Beijo!

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    1. Sharon, o Domingos é Domingos, eu tenho uma relação muito boa com a escrita dele. Foi muito bom ter lido.

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  2. "Engraçado, eu sempre achei que meninos não sentem dor..." Nada haver, mas esse foi o ultimo pensamento que tive lendo sua resenha então porque não começar o comentário pelo ultimo pensamento. Nunca pesquei peixes, mas talvez a pescaria seja só uma metáfora para outras néh?!

    Adorei a resenha Luciano, aumentou a impressão que tive no titulo do livro e a escola da capa me fez pensar quando os vi, ou seja, há um toque de poesia e sensibilidade nos contos. Deu vontade de ler.

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    1. Ah, eu acho que pescaria é um tempo místico,a gente viaja nas emoções e pensamentos e sim, muito do que ele escreveu aqui eu acredito que se trate de metáforas também.

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    2. Eu comi uma tuia de letras nesse comentário... Mas acho que vc compreendeu a ideia!!! Para mim toda a infância dos meninos que ajudei a educar e dos meus sobrinhos são como uma pescaria... um tempo mistico... Acho que preciso ler esse livro...

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  3. Eu não conheci o autor, mas parece que o livro mesmo para aqueles que não conhecem esse ambiente de natureza, pesca, rio, etc, de tão perto podem usar a imaginação para conhecer.
    Não é assim que fazemos com livros de fantasia?

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    1. Summy, o livro é uma boa pedida mesmo para quem nunca viveu estas experiências de pescarias. Vale ler ;)

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  4. Posso até já ouvido falar do autor, mas não me lembro e também ainda não conhecia o livro. De certa forma, contos nunca foi lá meu gênero favorito, mas por lembrar O "Velho e o Mar", pode ser legal. Vou anotar a dica aqui.

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    1. Lucas, eu tenho uma dificuldade em falar sobre contos, e até mesmo leio poucos livros do gênero, mas este é um que vale a pena. A temática me lembrou o "O Velho e o Mar", um clássico da minha adolescência.

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  5. Eu não conhecia o livro faz fiquei interessada. Na verdade, acho que o catálogo da Geração Editorial sempre tem boas surpresas, então qualquer livro da editora já me chama atenção. Também tenho um pouco de dificuldade em resenhar contos, tem livro que eu chego ao fim e nem lembro algumas coisas que já li hahahaha

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    1. Lu, pois é, eu admiro secretamente o catálogo da Geração, e ter Pellegrini entre seus autores só aumenta ainda mais minha admiração.

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  6. Oie, tudo bem?
    To seguindo seu blog super fofo e a Page tbm.
    Adorei suas resenhas *-*
    se der como retribuir o favor ficaria mto grata
    sonholiterario.blogspot.com

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