29 de abril de 2013

As Violetas de Março [Resenha #124]

As Violetas de MarçoSinopse: Emily Taylor é uma mulher jovem e escritora de sucesso, mas não gosta muito de seu próprio livro. Também tem um casamento que parece ideal, no entanto ele acabará em divórcio.Sentindo que sua vida perdeu o propósito, Emily decide fazer as malas e passar um tempo em Bainbridge — a ilha onde morou quando menina — para tentar se reorganizar.

Enquanto busca esquecer o ex-marido e, ao mesmo tempo, arrumar material para um novo — e mais verdadeiro — livro, um antigo colega de escola e o namorado proibido da adolescência tornam-se seus companheiros frequentes. Entretanto, o melhor parceiro de Emily será um diário da década de 1940, encontrado no fundo de uma gaveta.

Com o diário em mãos, Emily sentirá o estranhamento e a comoção causados pela leitura de uma biografia misteriosa que envolve antigos habitantes da ilha e que tem muito a ver com sua própria história.

Assim como as violetas que desabrocham fora de estação para mostrar que tudo é possível, a vida de Emily Taylor poderá tomar um rumo improvável e cheio de possibilidades.

As Violetas de Março” é o livro de estreia da autora Sarah Jio e se mostrou um bom livro de transição, daqueles que você pega pra ler depois de um livro mais intenso, para se desintoxicar e ficar pronto pra outra. Ele não exige muito do leitor mas, nem por isso, quer dizer que ele lhe entregue coisa pouca ou sem valor, pelo contrário.

No livro, Emily é uma autora que escrevera um livro de muito sucesso há vários anos atrás – tanto que ainda vive com a renda advinda de suas vendagens – mas que passa por um bloqueio principalmente por ter consciência de que o livro que escrevera não dizia nada sobre ela ou suas experiências. Para completar, seu companheiro a deixa, dizendo que se apaixonou por outra mulher, mas ela não sabe o que fazer com a informação e, ao contrário da reação comum, que seria ou ter muita raiva ou chorar um Oceano Atlântico ela fica estranhamente anestesiada.

Buscando se energizar, esquecer o passado e descobrir um novo caminho para seguir, ela volta à Ilha de Bainbridge, onde mora uma tia e onde ela costumava passar as férias até entrar na faculdade. Mas chegando lá ela se vê envolta com um grande segredo ao encontrar um antigo diário, e decide desvendá-lo.

Ok. Para mim o livro se sustentou sobre o seguinte pilar: o mistério quanto ao diário, quem o escrevera, o que acontecera com esta pessoa e qual a razão de tudo parecer convergir para Emily e sua família, em especial sua tia Bee, que não toca no assunto, ignorando-a solenemente quando Emily decide questioná-la. São as passagens ligadas à ele que mais me prenderam a leitura, e eram estes momentos aqueles onde o texto fluía com maior rapidez.

Outro ponto importante é que a autora tem uma escrita rápida, direta, sem muitas firulas. Em passagens nas quais ela poderia gastar muitas e muitas páginas ela resolve tudo em poucos parágrafos, sem, no entanto, perder a essência do que, acredito eu, teria de ser sentido por quem o lesse. Esta economia de palavras, mesmo durante a composição dos cenários, que se mostram lindos, me agradou muito, e me fez ler o livro rapidamente.

Assim como a brevidade dos fatos. A autora não perde tempo em considerações mirabolantes ou olhares românticos para o mar, falando sobre a beleza das ondas. Os personagens principais são apresentados logo no início da narrativa e de cara senti que conviveria com eles pelo resto da trama. Não é um ponto negativo. O que, por um lado, pode parecer um ato impulsivo para fazer o roteiro previamente estabelecido funcionar logo, pode ser, por outro, uma afirmação intrínseca da natureza do ambiente no qual a história se passa: uma pequena ilha, onde todos acabam se conectando e convivendo, e, mesmo quando se evitam com medo das sombras do passado, vez ou outra têm de se permitir um vislumbre de sua existência. Eu fico com a segunda opção, ela funciona muito bem como alegoria.

E falando de personagens, o livro tem uma coleção de figuras adoráveis por quem você logo cai de amores, mas é claro que há algo lá no fundo para colocar em xeque esta candura toda. Bee, a tia de Emily, é a figura mais marcante excetuando a protagonista. Sábia, ela é aquele tipo de avó que estraga os netos, que é cumplice nos malfeitos. Assim como Evelyn, sua melhor amiga. Emily também tem uma amiga perfeita e a cumplicidade delas é admirável. Como protagonista ela também não faz feio, e se tornou pra mim um modelo de personagem para livros deste estilo: mulheres donas de si, não presas à convenções, e avessas ao choro.

Enquanto Emily vai desfiando o fio que é o passado contido no diário e desenrolando o emaranhado que virou sua vida amorosa e profissional, vão surgindo situações que com o tempo se mostram uma coletânea de coincidências que acrescentam muito ao texto. São pequenos momentos que somados ganham um significado maior quando culminarem na verdade pela qual tantas personagens – e também leitores – buscam. Foi agradável colecioná-los conforme a narrativa progredia, embora algumas vezes pareçam ingênuos, no fim todos eles valem a pena.

Sendo um romance, há também o amor, e Emily se vê diante de uma escolha que no passado a narradora do diário também fez, entre um novo amor e um namorado do passado – embora com tons mais fortes. Como escolher a quem amar e, mesmo sabendo a quem se ama, como podem as coisas darem tão errado ao ponto de separarem os casais?

O livro é bem executado e não encontrei problemas – a não ser um erro de tradução que vou deixar para quem ler o livro descobrir. Não será difícil, a frase fica estranhamente cômica. – Narrado em primeira pessoa, tanto o livro em si quanto o diário que Emily encontra, é quase natural encarar as situações se imaginando sob a perspectiva da personagem, e uma vez que o leitor é ganho, são cúmplices das personagens até o fim.

É uma boa leitura para momentos mais despreocupados. Vale a pena.

 


Algumas semanas atrás a editora promoveu um hangout com a autora, e foi muito bacana.
Ele pode ser assistido aqui.


 

As Violetas de Março - Um antigo diário com o poder de mudar tudo...se você tiver coragem se seguir, de Sarah Jio (The Violets of March, 2011Tradução de Ronaldo Luis da Silva, 2013) – 304 páginas, ISBN 9788581632223, Editora Novo Conceito. [Comprar no Submarino]

{B+}

16 comentários:

  1. Oi Luciano,
    Acho que o livro tem vários pontos positivos para um livro de estreia. Talvez, se a autora esticasse demais nos fatos, não seria tão bom. Gosto de livros mais rápidos, sem muitas descrições daquela cadeira na sala ou tom da parede da mesma.

    A resenha do livro me fez lembrar de "Os olhos amarelos dos crocodilos", têm uma premissa, mais ou menos parecida. E acho que posso gostar deste livro, justamente por isso.

    Excelente resenha!

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    1. Lucas, certamente foi um bom começo pra autora, o livro é equilibrado, bem executado, gostei muito de ter lido. Não conheço o "Os olhos amarelos dos crocodilos", vou pesquisar sobre.

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  2. Oláaa!!
    Concordo com você que essas narrativas deixam a leitura mais rápida, mas ainda assim prefiro livros mais lentos, onde o personagem divaga sobre a beleza do mar! hahaha
    O livro parece bem bom, acho que vou ler!
    E adorei sua resenha, sério! Você escreve muito bem, parabéns!!!

    Beijoss
    Thaís - Instinto de Leitura

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    1. Na fase em que estava quando li o livro preferia mil vezes livros mais rápidos, sem muita complicação, mas não quer dizer que não admire os mais densos ;)

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  3. Oi Luciano!
    Já sabia desde que li a sinopse desse livro que seria um bom livro. Sério, só essa característica de não perder tempo com coisas inúteis, já me deixa com os olhos brilhando. Já estou cheia de autores que enrolam tanto nas narrativas, sempre desanimo com isso.
    E, se eu queria ler esse livro antes, agora quero ler ainda mais. :)

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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    1. LUara, pois é, eu gostaria que muitos autores descomplicassem, mas eles fazem justamente o contrário....

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  4. Oi Luciano. Eu já tinha visto diversas impressões e já estou interessada. Acredito que seja uma leitura para executar entre livros mais tensos.

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  5. Oie,
    Nossa estava ansiosa para ler uma resenha desse livro, e depois de cada palavra que eu li só posso dizer que ele deu um grande salto ao começo da minha lista de leituras. Amoooo histórias assim.

    Beijokas elis!!!!!!!!

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  6. Não gostei muito do título do livro. Sei lá, não passou tão bem a ideia, sabe? A sinopse também não me interessou, mas li uma entrevista com a autora por aí e gostei tanto da "vibe" dela que deu vontade de ler. Não é a primeira vez que isso acontece, geralmente me influencio bstante pela imagem dos autores haha O nacional A arma escarlate, por exemplo, só li depois de um podcast com a Renata Ventura.
    Mas enfim, estou divagando. Foi bom ler sua resenha e ver que o livro atende as expectativas. :)

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    1. Isabel, eu já estava interessado em ler o livro, daí quando vi o hangout com a autora fiquei muito feliz por tê-lo feito, ela parece ser muito bacana. Vale a pena assistir. E, sim, a imagem dos autores também me influenciam.

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  7. Mistérios envolvendo diários me deixam louquinhos!!! Hahaha
    Já quero ler o livro! Também achei a capa linda!
    Beijo,
    Vinícius - Livros e Rabiscos

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  8. Parabéns meu caro! Resenha magnífica! Estou precisando de leituras "rasas" porém com conteúdo e sei que este livro vai me proporcionar isto. Belas palavras, estava com saudades daqui, hehe. Muita luz e sucesso SEMPRE, abração!

    Ewerton Lenildo - @Papeldeumlivro
    papeldeumlivro.blogspot.com

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    1. Ewerton, o livro pode não ser dos mais densos e complicados, mas a autora faz dele uma obra competente, sem se perder em nenhum momento. Por isso gostei tanto.

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  9. Oi Luciano!
    Não pedi esse livro à Novo Conceito e agora me arrependi! Adoro histórias em que a protagonista é escritora... Fiquei curiosa para saber mais sobre o diário, imagino que a história vá misturando passado e presente, tipo A Casa das Orquídeas. Quero ler!

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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    1. Sora, isso vem acontecendo comigo: deixo de solicitar os livros e, quando leio uma resenha, me arrependo, rsrsrs. É complicado viu....

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Oscar