19 de junho de 2013

A Peculiar Tristeza Guardada num Bolo de Limão [Resenha #132]

A Peculiar Tristeza Guardada num Bolo de Limão

 

 

 

 

Sinopse: O que você faria se pudesse sentir o gosto das emoções? Rose Edelstein é uma menina que descobriu ter um talento incomum: ela sente o sabor das emoções das pessoas que preparam aquilo que come. E tudo começou semanas antes de seu aniversário quando, depois de uma briga com seu pai, sua mãe resolveu fazer um delicioso bolo de limão. Imagine o que você faria se seu paladar pudesse decifrar o gosto das emoções? É com isso que Rose tem de conviver daqui para frente. Com apenas nove anos, a curiosa menina sabe o que cada um sente secretamente e percebe que nunca mais comerá seus pratos preferidos do mesmo jeito. E o que ela pode fazer para lidar com isso?

Rose tem nove anos e descobre que pode sentir as emoções das pessoas apenas provando qualquer tipo de alimento que elas tenham preparado. Como se não fosse o suficiente, ela vive em uma família americana padrão, se pensarmos naquelas baseadas em estereótipos: seu irmão mais velho a ignora solenemente; seu pai se mata de trabalhar para prover a família com tudo de que ela precise, mas não se envolve na dinâmica doméstica; que é capitaneada por sua mãe, que tem um caso com seu chefe.

Sendo tão nova ela não sabe o que fazer com seu “dom”, e não há como fugir dele: a cada refeição com a família, preparada por sua mãe, ela acaba experimentando o que ela sente, e suas emoções mais íntimas  acabam machucando Rose, que não entende as razões de a mãe ser tão angustiada, triste, acabando por optar se alimentar cada vez menos e mais rápido – para não sentir os sabores – e comer produtor industrializados, todos eles com o mesmo sabor comum de máquinas e metal.

A autora, Aimee Bender, optou por narrar o livro em primeira pessoa, o que foi uma decisão sábia, pois aproxima o leitor do que a personagem sente, e nos dá a oportunidade de entender melhor a forma como ela se relaciona com as pessoas à sua volta, inclusive quando decide compartilhar com algumas delas seu pequeno segredo. De uma forma geral, agrega ao texto um sentimento cúmplice que, acredito, seria prejudicado se ela houvesse optado pela narrativa em terceira pessoa.

O livro dá alguns saltos no tempo para mostrar como Rose vai amadurecendo e lidando com aquilo. Já com doze anos, percebe na felicidade e alívio repentinos da mãe que algo está errado em seu casamento, mas que ela está feliz, então, talvez, seja um bom preço à se pagar pela harmonia no lar, não valendo a pena jogá-la contra a parede e exigir explicações, o que iria contra o tão bem vindo sentimento americano de respeito à privacidade do indivíduo, e, de certa forma, para Rose, as refeições passaram a ser um tanto quanto mais toleráveis.

Minha leitura do livro se arrastou um pouco nas duas primeiras partes do livro – que é dividido em quatro –, principalmente na primeira,  mas melhorou bastante nas demais, conforme abandonávamos a Rose criança perdida com um dom que não quer possuir e conhecíamos uma personagem mais madura e pronta para lidar, da melhor forma possível, com o que tem. Essa nova Rose que surge nas páginas não é completamente centrada e ciente do que se passa, ao contrário, apesar da disposição de seguir em frente, ela ainda tem dúvidas e foge como pode da obrigação de comer em sua casa e sentir as emoções de sua mãe, passando inclusive a cozinhar alguns dias por semana, e se aproxima de uma maneira agradável do leitor, sendo suas ações mais aceitáveis para quem lê.

Porém, este é um livro com um toque fantástico, então, para que funcione, é desejável que o leitor acredite. Conforme se avança na leitura, é inevitável que se afaste a ideia – a primeira, confesso, que me veio  à mente – de que Rose tem algum tipo de problema psicológico, acredita que sente emoções na comida preparada por alguém e força as conexões para justificá-las. Não é o que acontece, mas, ao invés de ser algo benéfico, a autora dá uma enrolada no meio de campo e o que era pra ser algo único acaba sendo banal demais, mas não aceito com facilidade por uma Rose já com vinte e dois anos.

Isso não prejudica a experiência de leitura, mas me fez pensar, “ah, também?” e de repente o dom meio que perdeu parte do encanto que possuía. Em livros do tipo – e de certa forma vou me contradizer em relação a algo que disse na resenha de “A Vez da Minha Vida”, mas, fazer o quê? – não é estritamente necessário uma explicação. O leitor anseia por ela, claro, mas, justamente por isso, o risco de decepcioná-lo é grande demais, então acho mais certeiro o autor surpreendê-lo, como fez João Ricardo Pedro, em seu “O Teu Rosto Será o Último”.

Pra finalizar, é um livro de leitura fácil, embora sensível e, em alguns momentos, denso, narrado sempre com um bom gosto admirável – sem trocadilhos – que acaba por envolver o leitor. Conforme se lê, nos deparamos com tantas nuances de Rose que é difícil deixá-la ao final. Vale a leitura.

 

A Peculiar Tristeza Guardada num Bolo de Limão, de Aimee Bender (The Particular Sadness of Lemon Cake, 2013 –Tradução de Paulo Polzonoff, 2013) 304 páginas. ISBN 9788580445152 Editora LeYa. [Comprar no Submarino]

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8 comentários:

  1. Muito original a ideia! Gostei de toda essa dinamica de sentir o gosto das emoçoes, hahahaha!

    Boa resenha!

    Cafe-elivro.blogspot.com.br

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  2. Quando o livro tem um toque fantástico eu sinceramente não preciso de explicações práticas... Aliás, nem sempre explicações são bem vindas, as vezes é melhor deixar com o leitor as especulações e ai eu lembro do finalzinho do filme "As aventuras Pi" e prefiro acreditar.

    No mais, da forma como você apresentou a proposta da Aimee Bender nesse livro eu fiquei com a boca cheia d'água de tanta vontade de ler... Os livros que estou lendo agora não estão me pegando nesse sentimento de cumplicidade e eu me pego lendo da mesma forma que como o almoço, ou seja, pela simples necessidade de continuar a ler... Isso é péssimo!

    Ah, antes que eu esqueça, esse sentimento de dificuldade em deixar os personagens irem eu sentir com "Lições de Vida", ainda sinto falta do Ira e da Maggie.

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  3. Super interessante e original, algo bem real, mas com um toque de fantástico... gostei da dica! parece uma leitura interessante, daquelas que nos põe para pensar! =D

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  4. Oi Luciano!
    Não conhecia esse livro, mas a sinopse já me interessou com esse negócio de sentir o gosto das emoções...
    Apesar do começo ter sido devagar, parece ser um bom livro, fiquei com vontade de ler!

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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  5. Oi Luciano,
    Acabei de ler outra resenha sobre esse livro e vou dizer basicamente o que eu disse por lá. Eu pensava que esse livro fosse sobre qualquer outra coisa, menos um gênero literário. Achei bem diferente a ideia.

    Abraços!

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  6. Oi Luciano, tudo bom? Desculpe o desaparecimento D=
    Enfim, assim que li sua nota para o livro eu fui correndo adicionar este livro à minha lista de desejados. Eu confesso que tanto a capa quanto a sinopse e sua opinião me fizeram querer o livro loucamente. Mesmo. Preciso tê-lo o mais rápido possível.
    Mesmo com seus poréns, me senti atraída pelo livro. Não pergunte. Acabei de olhar na Submarino e está quarenta reais, meu Deus D=
    Vou colocar na lista de desejos do site. Eu preciso desse livro '-'

    Obrigado pela indicação, adorei mesmo sua resenha ><

    Beijos!
    www.nathlambert.blogspot.com

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  7. Já tinha lido algumas resenhas sobre esse livro. O título é curioso e convidativo, além disso gosto desse toque de fantasia na literatura contemporânea. Lerei quando tiver oportunidade.

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  8. Não imaginava que este livro seria dessa forma, mas fico na dúvida se eu gostaria da leitura. Pela sua resenha - ótima! -, sinto que o tom fantástico é um pouco parecido com O Começo do Adeus, por exemplo, o fantástico é apenas casual, e não exatamente uma constante. Ainda assim, fiquei com dúvidas sobre esse livro.

    Abraços!

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