19 de agosto de 2013

Cadê Você Bernadette?, de Maria Semple [Resenha #140]

Cade Você BernadetteSinopse: Bernadette Fox é notável. Aos olhos de seu marido, guru tecnológico da Microsoft e rock star do mundo nerd, ela se torna mais maníaca a cada dia; para as demais mães da Galer Street, escola liberal frequentada pela elite de Seattle, ela só causa desgosto; os especialistas em design ainda a consideram uma gênia da arquitetura sustentável, e Bee, sua filha de quinze anos, acha que tem a melhor mãe do mundo. Até que Bernadette desaparece do mapa. Tudo começa quando Bee mostra seu boletim (impecável) e reivindica a prometida recompensa: uma viagem de família à Antártida. Mas Bernadette tem tal ojeriza a Seattle - e às pessoas em geral - que evita ao máximo sair de casa, e contratou uma assistente virtual na Índia para realizar suas tarefas mais básicas. Uma viagem ao extremo sul do planeta é uma perspectiva um tanto problemática. Para encontrar sua mãe, Bee compila e-mails, documentos oficiais e correspondências secretas, buscando entender quem é essa mulher que ela acreditava conhecer tão bem e o motivo de seu desaparecimento. Maria Semple revela, em seu segundo romance, a influência de grandes escritores contemporâneos como Jonathan Franzen e Jeffrey Eugenides, ao mesmo tempo que se afirma como uma voz original, marcada pelo melhor humor das séries de TV norte-americanas. Sem sentimentalismos, mas com muita empatia, Cadê você, Bernadette? trata do amor incondicional de uma filha por sua mãe imperfeita.

Ok. Acho que nunca tive em mãos um livro tão bem amarrado, que prendesse tanto minha atenção como “Cadê Você Bernadette?”. Li o livro em dois dias isso por ter me forçado a interromper a leitura, já que ele é daquele tipo de livro que você lamenta por saber que, uma hora, vai terminar de ler.

Bernadette é a figura central do livro: dona-de-casa, mãe, esposa, sente uma antipatia infinita pelas pessoas em geral simplesmente por existirem, e qualquer comentário que elas façam é o suficiente para irritá-la. Mas, por mais que seu comportamento faça com que se afaste das outras pessoas – pois não se pode duvidar, em nenhum momento, de seu amor e dedicação pela família, em especial com relação à filha, Bee – ela é uma personagem com uma boa veia humorística, suas atitudes são bastante divertidas, e sua linha de raciocínio, por mais sério que seja o assunto a ser discutido, acaba nos levando, em algum momento, ao riso.

Na primeira parte do livro não sabemos muito bem quem é Bernadette: o livro é narrado pela filha, Bee, então a figura que temos da personagem é a de mãe e esposa, lidando com seus afazeres da melhor forma que pode e de modo que não colida com suas reservas com relação a algum assunto: como cozinhar, reformar a casa, comprar itens que, algum dia, poderão ser úteis, e não conseguir se relacionar com as pessoas.

Mas já começamos o livro sabendo de uma coisa: em algum momento Bernadette não está presente – ou então não seria necessário perguntar por ela no título do livro, ou seria? – então as informações que nos são passadas nessa primeira parte fazem fundo à esta ausência, e são fundamentais para que entendamos o que aconteceu.

E aqui reside a genialidade narrativa da autora: Bernadette passa a ser uma mulher tão misteriosa para o leitor quanto para sua filha, Bee, que narra o livro contando sua busca. Assim sendo, só vamos conhecendo-a melhor quando sua filha descobre algo sobre ela, o que nos permite linkar intuitivamente os fatos ocorridos e ter uma versão dos fatos. E o modo como ela estruturou, em especial a primeira parte do livro – que, se não me engano, é dividido em sete – foi o que me ganhou desde o começo. Tomamos conhecimento dos fatos através de uma compilação de recados, e-mails, faxes, relatórios, bilhetes, memorandos, itinerários, enfim, uma infinidade de coisas que, ordenados cronologicamente, nos dizem tudo o que se passou, sendo preciso apenas raras inserções do narrador para nos situar no espaço-tempo dos fatos.

Eu gostei muito disso! Mas muito mesmo! As primeiras cem páginas voam, você não percebe o quanto já leu e a quantidade de informação que absorve acerca dos fatos, pois é tudo muito natural, interligado, e, apesar de parecer confuso para quem lê uma explicação sobre, FAZ TODO O SENTIDO DO MUNDO!

Mas, eu sei, alguns leitores podem não passar da primeira parte. Acontece. Fazer o quê?

O livro tem um bom elenco de personagens, capitaneados pela figura carismática de Bernadette, e seguida de perto de sua filha, Bee, que, sendo uma garota de quinze anos, tinha tudo para ser pentelha dos pés à cabeça mas é o extremo oposto disso, e mesmo quando faz birra não soa irritante. Já o marido foi o personagem com quem mais tive dificuldades de me relacionar: Elgie, como Bernadette o chama, é um rockstar do mercado de tecnologia e informação, tendo uma das palestras mais assistidas da história do TED, e trabalha na Microsoft… – pois é, na Microsoft! Eu fiquei tão agradecido por a autora não fazer de Elgie mais um funcionário do Google metido à descolado e/ou espetinho que nem como dizer isso aqui; e, sim, eu gosto do Bing – mas que ganhou vários pontos de antipatia de minha parte por tentar de uma forma meio desastrada ajudar sua esposa, e acaba mais atrapalhando que fazendo qualquer outra coisa.

Porém, e apesar de Elgie e outras figuras, o livro transcorre sem percalços, as situações descritas são muito bem humoradas, e esse clima leve se mantém durante quase todo o livro. Apesar de o foco ser a busca de Bee por sua mãe, quem sustenta o livro é Bernadette, mesmo quando não está presente. A autora soube costurar muito bem sua história, e, o que é melhor, nos entrega um livro que não nos deixa na mão.

Eu gostei muito. Vale a pena ler.

 

Cadê Você Bernadette?, de Maria Semple (Where’d You Go, Bernadette?, 2009Tradução de André Czarnobai, 2012). 376 páginas, ISBN 9788535922936 Editora Companhia das Letras. [Comprar no Submarino]

{ A }

13 comentários:

  1. A?!?! Não um A+, mas tão pouco um A- ou um B, Uau!!! O livro deve valer cada paragrafo e lindamente entrou para a lista dos livros a serem lidos nos dias de tpm, que é quando preciso de riso na alma...

    Adorei a resenha, anotei a dica!!! :) Minha rotina de segunda na segunda, fico tão feliz :)

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    1. Vale mesmo hein, não tomou um "+" só por causa do marido chato e trapalhão, rsrsrs. Não dá pra explicar o quão boa é a narrativa do livro, só lendo mesmo.

      Ah, sua rotina tá garantida pelas próximas três semanas ;)

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    2. Isso é uma boa notícia!!!! Veja como minha folgadesa não tem tamanho!!! :) Chero bichinho feinho do coração!!! :)

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  2. Primeira resenha que leio desse livro! Eu tive conhecimento dele por minha mãe, que passou uma meia hora na livraria e quando saiu de lá só falava desse livro! Eu até estranhei, porque, em geral, conheço os livros primeiro pelos blogs ou editoras e dessa vez eu não fazia ideia do que se tratava o livro que ela estava falando! rsrs! Bom, eu tinha ficado curiosa quando li a sinopse pelo site da saraiva, mas não tinha despertado tanto interesse assim. Porém, lendo a sua resenha, confesso que talvez minha mãe tenha acertado na empolgação, rsrsrs, vou dar uma chance a ele, parece ser bem original e divertido! :)
    Bjs!

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  3. Oi Luciano,
    Nossa olhando essa capa, não teria a mínima vontade de ler...shausha...mas depois de ler sua resenha fiquei curiosíssima para conhecer essa história. O que seria de nós leitores, se não houvessem blogueiros para nos informar sobre a leitura, em que a capa não atrai...\o/....espero ter a oportunidade de ler...\o/....beijoaks elis

    http://amagiareal.blogspot.com.br/

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  4. Agora fiquei curiosa. A Companhia das Letras tem um nível de qualidade muito alto em seu catálogo, então, basta ter o selo da editora na capa para que eu considere ler um livro, mas não esperava um nível tão alto.

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  5. Eu quero muito ler! Já li umas três resenhas, e todas falando muito bem do livro!

    www.comabocanomundo.com

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  6. Oi Luciano!
    Pela capa imaginei que fosse um chick lit bobinho, mas sua resenha me fez perceber que é totalmente diferente!
    Antes não tinha vontade de ler, mas agora mudei de opinião.

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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  7. O nome do livro já me faz querer ler. Agora que li a resenha quero muito esse livro.
    Gosto bastante de histórias de mães, gosto de ver as atitudes, sensações que passam.
    E ainda mais que tem mistérios, revelações ao longo da trama.

    Beijinhos**

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  8. Já li muitas resenhas desse livro e todos estão adorando. Duas coisas chama a atenção de imediato a capa, super inovadora, e o titulo.

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  9. Não conhecia o livro, mas o título me levou a ler sua resenha, e agora já quero ele em minhas mãos! Amo histórias divertidas e bem estruturadas.
    Bjs
    sete-viidas.blogspot.com

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  10. Desde que vi esta capa pela 1º vez me interessei pelo livro. Agora lendo sua sinopse e resenha, com certeza ele entrou para minha "listinha" de próximas leituras! Ficou ótima a resenha!

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  11. Já tinha ouvido muito comentários ótimos sobre esse livro, em especial, da Juliana Gervason. Curioso para ler, porém o preço não é muito convidativo, como qualquer outro dessa editora ...

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Oscar