13 de janeiro de 2014

Almanova – Trilogia Incarnate, Livro 01, de Jodi Meadows [Resenha #155]

AlmanovaSinopse: Ana é nova. Por milhares de anos, no Range, milhões de almas vêm reencarnando, num ciclo infinito, para preservar memórias e experiências de vidas passadas. Entretanto, quando Ana nasceu, outra alma simplesmente desapareceu... e ninguém sabe por quê. A própria mãe de Ana pensa que a filha é uma sem-alma, um aviso de que o pior está a caminho, por isso decidiu afastá-la da sociedade. Para fugir deste terrível isolamento e descobrir se ela mesma reencarnará, Ana viaja para a cidade de Heart, mas os cidadãos de lá temem sua presença. Então, quando dragões e sílfides resolvem atacar a cidade, a culpa deverá recair sobre... Sam acredita que a alma nova de Ana é boa e valiosa. Ele, então, decide defendê-la, e um sentimento parece que vai explodir. Mas será que poderá amar alguém que viverá apenas uma vez? E será também que os inimigos – humanos ou nem tanto -- de Ana os deixarão viver essa paixão em paz? Ana precisa desvendar grandes segredos: O que provocou tal erro? Por que ela recebeu a alma de outra pessoa? Poderá essa busca abalar a paz em Heart e acabar por destruir a certeza da reencarnação para todos?

Almanova tem uma premissa bastante interessante: há um mundo onde a reencarnação existe e a ciência descobriu uma maneira de identificar as almas, assim, quando uma criança nasce, as pessoas sabem exatamente quem reencarnou, e essa criança, por sua vez, é capaz de se lembrar dos acontecimentos de suas outras vidas, já que as experiências adquiridas em cada geração não são perdidas com a morte. Assim, em Range, onde vivem, existem médicos com nove anos de idade e conselheiros adolescentes, mas que por trás da aparência jovem da vida que estão desfrutando, estão milhares de anos de experiências acumuladas.

Com Ana é diferente. Ao nascer, ao invés de sua alma ser identificada como Ciana, a última pessoa a morrer e que ainda não reencarnara na época, os moradores de Heart, principal cidade de Range, ficam chocados ao perceber que aquela alma era nova, que nunca havia nascido, sendo alguém totalmente estranho aos outros, que mantinham milhares de anos de amizades e relações. Começam então os questionamentos: o que acontecera com Ciana, ela iria retornar?, e se mais almanovas surgissem? Ana, é então considerada uma aberração, e, acima de tudo, um risco. Seu pai, Menehen, abandona a ela e sua mãe, incapaz de lidar com aquilo tudo, e sua mãe, Li, com toda a vergonha que sente pela situação, se muda de Heart com Ana, para criá-la tão isolada quanto possível.

Conhecemos Ana quando ela completa dezoito anos e tem de sair da casa da mãe, pois agora é uma adulta. Ela é uma personagem complicada de se relacionar, a princípio e conforme vai descobrindo novas coisas, já que a sociedade na qual vive tem uma centena de nuances que fogem do que consideramos normal. Para início de conversa, sua mãe não a educara tão bem quanto se imaginaria: ressentida, envergonhada e orgulhosa (mas que combinação, hein!), maltratava a filha, a quem chamava de sem alma, e incutira nela um sentimento extremamente forte de inferioridade. Ana não acredita que deva ter opinião própria, que possa ter gostos particulares, ou que tenha direito a ser ouvida. Com uma criação sub-humana, aprendera a ler sozinha, e guardara para si milhares de questões sobre quem era e qual o significado de seu nascimento.

Em sua busca por suas origens, rumo a Heart, é atacada por seres sobrenaturais, é enganada pela mãe, e é resgatada por Sam.

É em sua relação com Sam que se destaca a fragilidade de sua personalidade. Ela não sabe o que fazer, já que, como a mãe a tratava como uma sem alma, ela achava que não tinha direito a ter sentimentos, preferências, desejos. Quando alguém se arrisca para salvá-la, lhe estende a mão e lhe oferece ajuda, ela fica sem reação, pois é tudo relativamente novo para ela.

E tenho que destacar que, literalmente, É TUDO NOVO PARA ELA! Ao contrário das outras pessoas, Ana não tivera uma vida anterior – no caso de algumas delas, centenas de vidas anteriores – então não sabe nada sobre coisa alguma além daquilo que sua mãe achava apropriado que aprendesse ou que, instintivamente, ela fora absorvendo pelo caminho. Mas o principal, pois vai de encontro com aquilo que busca, não conhece a história de seu povo, da criação de Heart, com seu gigantesco templo central cujas paredes pulsam como um coração humano, e, quem sabe poderia lhe dizer que ela era, afinal.

Sam é um personagem moldado para agradar ao leitor: amigo fiel, confiável mesmo enquanto sujeito misterioso, é sempre terno o modo como ele age para com Ana, e são nesses momentos que a maneira de ser dela causam irritação: ela é suscetível, e, quando numa frase está tudo bem entre eles, na outra ela diz algo fora do lugar que faz tudo desandar e de quebra com que se pareça uma criança mimada. Isso acontece algumas vezes durante a narrativa, o que faz com que ela flua com alguns trancos – aqui está tudo bem, péra, não, não está, mas ó, agora sim! – e por aí vai, mas isso não é uma fraqueza da autora na condução do texto, mas sim uma característica da personagem que eu espero seja trabalhada no futuro.

O livro tem uma mitologia interessante, com dragões e outros seres, mistérios o suficiente e uma reviravolta bem-vinda que agita bastante as coisas lá pelo final da primeira metade. Pessoalmente, gostaria que a autora apostasse menos nas conjecturas e monólogos de Ana, que funcionam bem para nos fazer entender o que ela pensa sobre o assunto, mas que não faz muito bem a leitores mais dispersos como eu, e focasse, com força, na ação e exploração: Range é uma terra muito interessante, fria, perigosa, vasta, e gostaria muito de conhecê-la com a ajuda da narrativa em primeira pessoa que é bastante competente,

Ao final, temos um bom gancho de ligação com o próximo volume, Almanegra, e mais perguntas a se fazer. Como primeiro livro de uma trilogia, Almanova faz bonito, vou torcer que o seguinte tenha as melhorias que espero.

 

Almanova - Trilogia Incarnate Livro 01, de Jodi Meadows (Changeless, 2012 Tradução de Ana Resende, 2013) – 288 páginas, ISBN 9788565859172, Editora Valentina.

{B+}

16 comentários:

  1. Eu achei a capa de Almanova tão assim... feia. #ProntoConfessei Mas fiquei me perguntando o que sairia a Valentina desde o começo tem apostado sempre em bons textos - pelo o que acompanho dela nas redes sociais - então pelo histórico da editora não subestimei o livro. Só que agora não sei o que pensar, se vai ou não para minha lista... é uma história diferente de tudo o que já vi, um livro sobre reencarnação que não é espirita... é instigante néh?!?! Qual a filosofia que orienta Jodi Meadows nessa caminhada??? Fico pensando... o que ele pretende mostrar?!?! Fiquei curiosa...

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    1. Ahhhh, eu gostei bastante da capa! A Valentina apostou em bons títulos e uma qualidade acima da média do mercado - é só cheirar um livro da editora e um de uma outra, a diferença é gritante #papoestranho.

      Quanto ao livro, achei a sinopse interessante, todo mundo tem, em menor ou maior grau, curiosidade com respeito à encarnação, e o tema não é abordado religiosamente no livro - há um debate sobre crer ou não, mas é bastante sóbrio.

      Vale a pena ler ;)

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  2. Acho que qualquer leitor se sente atraído por essa capa, que mesmo com esses tons chamativos, não é nada exagerado e traz uma sensação boa. Não sei porque ainda não comprei esse livro, já que toda resenha que leio, fala tão bem dela, e a sua só fez aumentar as minhas expectativas. Tenho que dizer que o argumento do livro me parece bastante original e instigante, e acho que a autora sabe o que está fazendo. Bem, se houver oportunidade, lerei com certeza, e ótima resenha a sua!

    Abraços
    - pensamentosdojoshua.blogspot.com

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    1. Eu gostei bastante da capa ;) O livro é bem conduzido, e seu melhor mesmo é o argumento, que nos faz questionar variados aspectos e dá a narrativa um leque enorme de opções.

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  3. Pela sua descrição, Ana lembra muito a Carrie, de Stephen King, mas claro que em mundos totalmente diferentes. Fiquei surpresa em saber que, além da questão da reencarnação, o livro aborde outras mitologias, parece interessante. No momento, eu não gastarias minhas dilmas no livro, mas é um livro que pode me interessar no futuro.

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    1. Ah, eu tenho que ler algo mais do King, mas a narrativa dele me dá nos nervos.... o ponto forte do livro mesmo é a questão da reencarnação e os desdobramentos que o nascimento de uma alma jamais vista trás.

      Vale a pena ler ;)

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  4. Oi, Luciano!
    Também gostei da capa :) Almanegra segue o mesmo layout. Quando vi a capa pensei que fosse um livro religioso. Lendo a resenha, achei a história ousada, apesar do uso de seres fantástico não ser tão original assim.
    Boa semana!!
    Beijus,

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    1. Né, ela é bastante chamativa, rsrs. Achei a história bastante original, as almas tem um papel importante nas relações sociais, o que imediatamente faz com que Ana seja deslocada, já que tudo é novo e não conhece ninguém.

      Eu gostei, vale ler ;)

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  5. Oie,
    Primeiro não posso negar que amei a capa..sahsuau...e segundo quando comecei a ler sua resenha me vi bem interessada na leitura, poxa alta vontade de ler, obrigado pela dica e desejo que o próximo volume seja maravilhoso.
    Beijoaks Elis!!!
    http://amagiareal.blogspot.com.br/

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    1. Elis, a capa é chamativa e muito bem executada ;) acho que você vai gostar de ler ;)

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  6. A capa é sensacional e a editora valentine está de parabéns. e quando comecei ler a sua resenha, fiquei encantado, estou louco para ler esse livro ele parece ser bem legal, e com certeza ele já está na minha lista de desejados.

    Beijos, Rafael

    livrosvsseries.blogspot.com

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    1. Rafael, a Valentina sempre faz um bom trabalho, dá gosto de acompanhar! Acho que vai gostar do livro ;)

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  7. Luciano, esse é um livro que estou fazendo de tudo para comprar. Se não fosse o frete da Saraiva, já teria comprado. Vi muita gente falando bem, mas nenhuma resenha tinha citado alguns pontos que você citou, como esses monólogos que a autora aposta muito. Eu provavelmente ia me perder e ter que ler a mesma passagem algumas vezes pra pegar. Espero que o próxima venha com tudo e seja bem melhor que esse primeiro volume.

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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    1. Luara, a autora faz com que Ana converse bastante consigo mesma, avaliando sua situação em determinado momento. Eles são bastante esclarecedores,mas eu tenho dificuldades em me manter focado durante eles, mas no geral o livro é muito bom!

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  8. Oi Luciano!
    Acho que esta é a primeira resenha do livro que leio, já tinha visto a capa por aí mas nem sabia do que se tratava. Parece ser muito bom! Adorei a história, me lembrou um pouco de A Hospedeira da Stephenie Meyer.

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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    1. Sora, eu gostei bastante, agora estou ansioso pela continuação ;)

      Só conheço o "A Hospedeira" de nome, vou dar uma pesquisada ;)

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