Sinopse: Imagine o que é perder, em uma única noite, sua casa, seus amigos, Como é possível viver mentindo sobre todas as coisas? Sua escola e até mesmo o seu nome. Aos 14 anos, Ty presencia um crime bárbaro num parque de Londres. A partir desse momento, tudo muda para ele: a polícia o inclui no programa de proteção à testemunha, e Ty é obrigado a assumir uma vida diferente, em outra cidade. O menino ingênuo, tímido, que costumava ser a sombra do amigo Arron, matricula-se na nova escola como Joe... E Joe não poderia ser mais diferente de Ty: faz sucesso com as meninas, torna-se um corredor famoso... Joe é tão popular que acaba incomodando os encrenqueiros da escola. Ser Joe é bem melhor do que ser Ty. Mas, logo agora, quando ele finalmente parece ter se encaixado no mundo, os atentados e ameaças de morte contra sua família o obrigam a viver no anonimato, em fuga constante e sob a pressão de prestar depoimentos sobre uma noite que ele gostaria de esquecer. Um livro – de tirar o fôlego! – sobre coragem e sobre o peso das consequências do que fazemos.
Já disse aqui neste blog algumas vezes que capas com close-up de modelos não me atraem, pois elas interferem na ideia que eu faço dos personagens, e quase sempre destoam de alguma descrição que o autor nos dá no miolo do livro. Mas aqui duas coisas me chamaram a atenção: o uso o “era”, no passado, que sugere que alguma coisa deu errado; e as gotas de sangue, que vem para ratificar essa impressão. Com o livro na mão, fui gratamente surpreendido.
Tyler tem quatorze anos, testemunha um crime, presta depoimento à polícia e passa a fazer parte do programa de proteção à testemunha, que fará de tudo para manter a ele e sua mãe, Nicky, à salvos, inclusive lhes dando uma nova identidade para que possam sumir do mapa até que o julgamento do caso de assassinato que Tyler testemunhou aconteça. Assim Tyler se torna Joe.
No começo do livro Tyler é um garoto irritante de 14 anos, que não consegue medir a importância de seus atos e as milhares de implicações que o fato de ele ter prestado depoimento à polícia sobre um crime geraram. Ele e a mãe relutam em aceitar proteção policial, não acham que correm um risco tão grande, afinal se tratara de um incidente entre garotos em um parque, e agem como se tivessem outra escolha; até que alguém coloca fogo na revistaria que ficava no térreo do pequeno apartamento onde moravam. Recado dado: eles tem de desaparecer.
Demora um pouco até que Tyler – já como Joe – consiga aceitar bem a mudança, e eu até o compreendo, testemunhara um ato terrível e está sendo intimidado pelos criminosos, mas me causou irritação ver como ele não colabora, como é rebelde e esconde fatos da polícia. O que faz com que se chegue a duas conclusões partindo de uma verdade: as coisas não aconteceram exatamente da forma como ele dissera à polícia, e ele mesmo confirma isso algumas vezes, então ou é mais culpado do que faz parecer ou está protegendo alguém. Essa dúvida que ele trás ao leitor acaba sendo muito bem vinda, pois deixa um mistério no ar que foi o que, em minha experiência com o livro, segurou a narrativa e me manteve altamente interessado, lendo o livro compulsivamente.
E Tyler/Joe é um personagem interessante, ele tem uma personalidade frágil que beira o perigoso: ganhar da Polícia uma nova identidade lhe dá a oportunidade de ser uma nova pessoa – o que a meu ver extrapola o nível do que é mentalmente sadio: como Tyler era tímido, retraído, fora de forma e vivia mendigando atenção de seu melhor amigo, Arron ( que de alguma forma também está envolvido no incidente no parque) ele decide que Joe será diferente: resolve entrar em forma, praticar esportes e manter a imagem de cara descolado que ele ganha em sua nova escola, graças ao fato de ser matriculado em uma série anterior à sua, para não levantar suspeitas, sendo, assim, mais desenvolvido que todos os outros novos colegas de classe. Mas será que um novo rg faz uma nova pessoa? Pra mim isso só fez aumentar minhas desconfianças quanto à figura de bom moço que ele nos passa à princípio; ainda mais quando ele dá a Joe uma personalidade distinta da de Tyler: muda seu jeito de andar, falar, e agir, o que chega até mesmo a assustá-lo.
O que deixa claro o quanto somos reféns de Joe. Sendo o narrador do livro e única visão que nos é apresentada, ele nos conta o que quer, quando quer e dá a seus relato a ênfase que bem deseja, e não há nada que possamos fazer a não ser juntarmos os cacos em busca de nossa versão. Mas no fim ele me dá mais a impressão de um garoto confuso, completamente perdido em meio aos fatos mas com uma vontade enorme de achar uma saída, que alguém definitivamente ruim. Ele tem interesse em idiomas, esportes, e se esforça, consciente de todos os problemas que trouxera à sua família, mas nem tudo sai como deseja, e ele tem de se desdobrar.
O livro começa fraco, mas ganha força com o decorrer da narrativa, e de acordo com o ritmo com que vamos criando laços - positivos ou negativos - com Joe; terminando por me deixar completamente imerso no que Joe nos conta e ansioso pela continuação – se não me engano, se trata de uma trilogia.
Ele também trás uma discussão importante em uma época onde tudo é tão banal: a glamourização do crime, especialmente do portar uma arma, falar gírias e cometer pequenos delitos – e outros nem tão pequenos – do medo e sentimento de impotência que vítimas e testemunhas de crimes graves sentem, com todos os seus direitos subjugados pela força invisível e onipresente do crime organizado; e da inerente inabilidade policial em proteger suas testemunhas e realizar um trabalho de investigação eficiente e eficaz, que resulte na apreensão dos culpados e na garantia do direito que tem o cidadão de bem de levar sua vida sem temer retaliações.
No fim, gostei muito do livro. A autora, Keren David, vai crescendo com o livro e, se no início tivemos nossas diferenças, antes da metade já a entendia bem e compreendia os caminhos que Joe tomava, mesmo que não concordasse com eles. É um excelente início de trilogia, fico ansioso pela continuação.
Quando eu era Joe, de Keren David (When I Was Joe, 2010 – Tradução de Geraldo Cavalcanti Filho, 2014) – 320 páginas, ISBN 9788581633398, Editora Novo Conceito. [Comprar no Submarino]
{ A }
Achei a proposta do livro muito intrigante. Inclusive, me deixou com ares de "Clube da Luta", e essa coisa da glamurização do crime é um assunto de extrema relevância e acho muito bacana um livro que tem potencial para conversar com o público mais jovem possa abordar essa temática. Livro muito interessante, adorei a resenha!
ResponderExcluirLu, o livro me surpreendeu bastante, eu não esperava que ele tivesse tantas nuances e pudesse se desdobrar da forma como se desdobrou. A autora soube abordar bem temas polêmicos, sem levantar bandeiras, o qu deixa a discussão mais natural. Vale a pena ler ;)
ExcluirEu estava acompanhando pelo instagram, e vi que você curtiu muito a leitura. Por isso vim conferir sua opinião final.
ResponderExcluirDe acordo com tudo que você disse, o livro vai dar um salto enorme na fila, rs. Vou ler logo.
Adoro essas coisas que fazem pensar e colocam discussões na nossa mente.
Resenha como sempre, mais que perfeita!! Posso dizer que foi {A}
Bjkas
Lelê Tapias
http://topensandoemler.blogspot.com.br/
Eu gostei muito! O livro começa marromeno, mas depois ele toma um fôlego surpreendente! Vale muito a pena ler ;)
ExcluirUau, parece ser um livro forte e ousado também, já que o protagonista só tem 14 anos, bastante novo pra enfrentar todas essas situações!
ResponderExcluirSua resenha está ótima Luciano, só não sei se terei "coragem" de encara o livro com toda essa problemática! Mas colocarei na minha lista de livros que algum dia tenho que ler!
Bjs, Michele
Michele, pois é, a autora o faz enfrentar coisas terríveis, mas a todo o momento tive a impressão de que ele não é tão bonzinho quanto diz ser.... fica uma coisa sempre presente no ar, acho que teremos surpresas nos próximos livros da série.
ExcluirAcabei de ler esse livro ontem e amei
ResponderExcluirAchei bem interessante ele querer mudar e não ser mais aquele garoto que era maltratado pelo amigo
E o suspense em relação ao assassinato me deixou bem curiosa durante toda leitura
Parabéns pela resenha e já estou seguindo
Beijos
@pocketlibro
http://pocketlibro.blogspot.com
Angela, o suspense me manteve interessado no livro o tempo todo, e a autora tem todo o mérito por conseguir criar tão bem uma atmosfera do tipo. Fico ansioso pela continuação.
ExcluirOi Luciano!!! Concluindo minha rotina da segunda na quarta, vim comentar, mas li o post na segunda pelo celular - só para constar.
ResponderExcluirEnfim, o "Quando eu era o Joe" foi um livro pelo qual não dei muito ao ver a capa e o titulo, mas sua resenha fez com que meus olhos se estreitassem e meu interesse surgisse. Me pareceu instigante e no final uma história que tende a ficar muito boa nos próximos volumes... Se Keren David cresceu no vol. 1, a tendencia é continuar evoluindo. Vou continuar acompanhando as suas resenhas, correndo o sério perigo de trazer o livro para minha estante.
A capa não é das melhores - tem uma outra edição gringa com uma capa muito mais bonita - mas a história é muito boa e me prendeu, e espero também que ela continue numa crescente nos próximos livros!
ExcluirNa capa do livro tá escrito "Primeiro livro da série" alguém pode me informar quais são os outros livros?!
ResponderExcluirCarolina, você pode ler mais sobre a série no site da autora:
ExcluirWhen I Was Joe: http://kerendavid.com/books/when-i-was-joe/
Almost True: http://kerendavid.com/books/when-i-was-joe/almost-true/
Another Life: http://kerendavid.com/books/when-i-was-joe/another-life/
Estou com esse livro na fila e até que estou com alguma expectativa em relação a ele. Interessante saber que ainda que comece fraco, ele melhora com o avançar das páginas. Bom saber, pois muitas vezes tenho receio de começar a ler séries, daí não curto o primeiro livro, me decepciono e fico me sentindo enganada haha - justamente o que aconteceu comigo com Starters, por exemplo.
ResponderExcluirUm beijo, Livro Lab
Aline, melhora e muito, então, se as coisas não derem muito certo em sua leitura dele, mantenha, que vai melhorar! E te entendo, às vezes séries nos pedem um compromisso muito grande, e nos entrega muito pouco.
ExcluirEu não gosto quando autores dão dando profundidade psicológico à adolescentes! Com 14 anos, as pessoas não tem essa "responsabilidade" de saber sua própria personalidade, ainda está se conhecendo, para querer mudar tanto assim. Quando eu tinha 14 anos só queria ir para a escola e jogar bola. Estava começando a entender que eu sou, o que queria e a sociedade em geral. Jamais teria maturidade para "trocar" de personalidade.
ResponderExcluirEspero realmente que a história seja tudo isso que você diz, pois não fui muito com a cara da capa. E pra mim, clube de luta, não é algo que goste muito. Espero que a história seja mais do que estou imaginando e que valha a pena ler. Vou aceitar sua dica e me aventurar nela. Beijos.
ResponderExcluirSeria um policial juvenil. Apesar de não ter gostado da capa do livro, acho que ele traz um tema que eu achei legal, a glamourização do crime. Fiquei interessada
ResponderExcluirchenlili20150629
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2016-04-09keyun
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