23 de fevereiro de 2015

O Senhor das Moscas, de William Golding [#SawyerRC] [Desafio de E-books 2015] [Resenha #206]

O Senhor das Moscas - Texto


Sinopse: Um grupo de jovens é retirado de uma cidade atingida por um bombardeio atômico. Eles passam a viver numa ilha deserta do Pacífico e lá reconstituem os valores da sociedade em que viveram. Este romance é considerado a obra-prima do prêmio Nobel de 1983.


Minha (re)leitura de O Senhor das Moscas teve um duplo propósito: além de ser meu terceiro livro do Sawyer Reading Challenge, é também meu primeiro do Desafio de E-books 2015 proposto pela Sora, do Meu Jardim de Livros.

Li “O Senhor das Moscas” em uma das minhas muitas crises de gastrite da adolescência, por isso algumas partes pra mim eram nebulosas, e não tinha entendido muito bem. Por isso a releitura foi tão prazerosa, pude esclarecer alguns pontos que permaneciam obscuros, e, ainda, mesmo lembrando de certos aspectos do livro, toda a leitura transcorreu sem grandes empecilhos, como se fosse a primeira vez.

No livro, há uma guerra e o governo decide evacuar as crianças para um local seguro temendo um ataque nuclear. Porém, o avião onde viajam cai, e eles terminam sozinhos em uma ilha, de uma forma que muito lembra todos os livros da escola dos Robinsons – Robinson Crusoé, Tio Robinson, A Ilha Misteriosa, e, em uma referência mais atual, Lost.

Três personagens tem destaque na narrativa, Porquinho, Ralph e Jack. Porquinho é um menino gordinho que detesta ser chamado por esse nome, mas em seu primeiro encontro com Ralph – descrito como louro, esguio, com as formas perfeitas de uma criança atingindo a puberdade – sente-se intimidado e ansioso por agradar, da forma como garotos com baixa auto-estima e problemas com imagem tende a agir. Ele pergunta o nome de Ralph, mas, como este não pergunta o seu, conta logo uma história de que “não se importaria da forma como o chamassem, se pelo menos não o chamassem como na antiga escola”.

É claro que isso atrai a atenção de Ralph, que pergunta então como ele era chamado. Nunca vi um convite tão escancarado dizendo “faça bullying comigo”. Ele diz o apelido, e ele fica logo sendo chamado de Porquinho.

O terceiro garoto, Jack, é o líder dos coristas, e seu grupo aparece na praia em formação militar, ordenada e resignadamente alinhados sob o sol escaldante. Fica logo claro que ele é o opositor à liderança de Ralph, conquistada graças a ele ter tocado uma concha, assoprando-a, e atraindo para o local onde estavam todos os garotos que sobreviveram ao acidente. Aliado à sua imagem, os garotos vem no menino segurando uma concha, aquele que os chamara através da selva, um líder, uma figura a se admirar e seguir, mesmo que a ideia do toque tenha sido de Porquinho.

Jack consegue a admiração dos outros garotos por seu porte militar e suas roupas, conquistados no coro, e na forma como mantém em ordem os demais coristas. Ele tem uma atitude autoritária que se contrapõe enormemente a figura mais aberta de Ralph.

Porquinho é o único que parece ter uma pequena noção do que acontecera a eles. Enquanto os outros esperam se divertir em uma ilha sem adultos até que sejam resgatados, ele é quem soma dois e dois e percebe que, se foram mandados de avião a determinado lugar e caíram no meio do caminho, as pessoas – se sobreviveram ao ataque nuclear – podem não ter a mínima ideia de onde estão.

Um dos pontos mais comentados sobre o livro é o fato de que ele pode ser interpretado de forma alegórica, como no claro embate entre o democrático Ralph e o “fascista” Jack. Esse conhecimento faz com que a leitura tenha uma dimensão maior, mas o livro pelo livro, sem se buscar nada nas entrelinhas, é igualmente muito bom.

Há um tempo atrás houve certo barulho na blogosfera literária graças a uma resenha de um blogueiro que dizia que o livro era uma distopia, e outra moça, achava que não. O nível caiu, a coisa toda degringolou e infelizmente perdi os links. Pessoalmente, acho que o livro não se trata de uma distopia.

O livro é curto, menos de duzentas e cinquenta páginas, e a leitura é rápida apesar de nem sempre agradável. Não sei até que ponto concordo com o autor, na medida em que ele narra os desdobramentos que a sociedade formada pelas crianças vai tomando. É atingido um nível de crueldade que é complicado admitir que seja possível, mas quanto as coisas mais corriqueiras, como xingamentos e pequenas maldades acho que naquela configuração é bastante possível.

Mas o livro nos coloca para pensar. Se tomarmos aquela sociedade como alegórica, as coisas que se passam ali são bastante impactantes, e justamente por isso o livro tem ainda hoje tanta força. Vale a pena ler ;)

 

O Senhor das Moscas, de William Golding (Lord of the Flies, 1954Tradução de Geraldo Galvão Ferraz, 2006) – 220 páginas, ISBN 8520918433, Editora Nova Fronteira.

{B+}

 

Sawyer Reading Challenge

Desafio de E-book 2015

4 comentários:

  1. Minha mãe leu este livro semana passada e está me atormentando pra ler também.
    Aí chego aqui e vejo a resenha. Parece até que vocês combinaram pra me atentar.

    Amei a resenha. É melhor do que ela disse pelo jeito, rs.

    Acho que não tenho saída né?

    Bjks

    Lelê

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  2. Eu estou na trilha do deu "Sawyer Reading Challenge", só que cinicamente tenho esperado as suas resenhas hohoho Já li "Ratos e Homens", alias hoje mesmo me peguei pensando nele, na fila do pão diga-se de passagem... ele me lembrou "A Pérola" do John Steinbeck e o musical "Os miseráveis"... Foi um ótima leitura, um texto denso sem ser pesado!

    E agora estou diante de "O Senhor das Moscas" e preciso ler. Como trabalho com adolescentes e vivo em uma comunidade popular (favela) sei bem o que crianças sem pais são capazes de fazer! E claro, sou uma consumidora voraz de e-books \o/

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  3. Oi Luciano, tudo bem?
    Minha professora de literatura da faculdade amava esse livro. Eu confesso que ele nunca me despertou interesse, mas ainda quero conferir a leitura. Afinal é uma obra prima que merece ser lida.
    Abraços,
    Amanda Almeida
    http://amanda-almeida.com.br

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  4. Quero muito ler esse livro, a sinopse sempre me interessou e é um clássico que merece espaço em qualquer lista de leitura. Talvez eu aproveite o desafio e inclua a obra na minha lista, sua resenha me convenceu!

    E gente que briga online por causa de livros, até quando? Preguiça desse povo.

    Abraços!!!

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