11 de fevereiro de 2015

Transparent – Primeira Temporada

Transparent

Eu estava certo. E vocês estavam errados!

Apostar em Transparent no lugar da muito mais comentada Orange Is The New Black foi uma aposta arriscada que fiz no bolão do Globo de Ouro, mas que se provou certeira. Além do prêmio de Melhor Série de Comédia ou Musical – não entendo como ela entrou nessa categoria, pra mim é muito mais um drama, mas talvez, optaram por classificá-la como dramédia – a série levou ainda o de Melhor Ator em Série de Comédia ou Musical para o Jeffrey Tambor. Não conhecia o Tambor, mas foi amor a primeira vista, e já é dos meus atores preferidos.

Transparent foi criada por Jill Solloway, uma americana que, há alguns anos, foi surpreendida por seu pai, que decidira se assumir e se tornar um travesti. A descoberta serviu de gatilho para a criação da série mas ela não se trata de uma obra biográfica. É sobre isso que fala Transparent: um pai, professor respeitado, separado da esposa, na casa dos sessenta anos, que decide assumir para a sociedade sua condição como travesti, e a reação da sociedade e, em especial, de sua família, à esse fato.

Jeffrey Tambor interpreta Mort, o pai que decide assumir a identidade de Maura. Ele tem três filhos, Sarah, Josh, e Ali. Sarah, a mais velha, vive um casamento hétero, mas tivera um relacionamento homossexual na faculdade; o do meio, Josh, é o mais bem sucedido dos irmãos, trabalha no mercado musical e teve uma sexualidade bastante precoce, já que no começo da adolescência era seduzido por sua babá; e Ali, a mais nova, é uma grande incógnita, tem um visual bastante andrógino e um perfil indeciso, ainda vive das mesadas do pai e intercala períodos de extremo interesse sobre determinada carreira/assunto com outros de total desânimo. Em diversos momentos Mort me pareceu usado pelos filhos, naquela situação típica que as relações com as pessoas mais velhas vão se tornando: jantar junto é um suplício, e o único contato mais amável vem seguido de um pedido de empréstimo.

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Fica ainda mais difícil que ele consiga firmar uma relação com seus filhos que seja forte o suficiente e que o deixe seguro para que converse sobre suas decisões, e muito disso por causa do tipo de pai que ele foi, ausente, sem saber ao certo como lidar com suas questões mais íntimas. Nos primeiros episódios o tom das conversas entre eles é sempre distante, às vezes um tanto seco, e que me deixou com uma sensação de melancolia enorme. A gente logo se pergunta como ele conseguirá juntar coragem para falar com eles se seus encontros parecem sempre protocolares?

O que mais gosto na série é que ela trata de um tema polêmico de uma forma bastante neutra. Ela não emite opinião, apenas mostra as reações das pessoas que orbitam no entorno de Mort/Maura, e elas são as mais variadas, mesmo em seu ambiente familiar. E, claro, há estranhamentos. Insistentemente, Maura tem que pedir às pessoas que se refiram a ela como uma mulher agora, e não mais como Mort, o que sempre cria aquele segundo interminável de desconforto em todos os presentes.

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Mas, acima de tudo, Transparent tem um aspecto libertador que faz com que seja recompensador acompanhá-la. Com uma narrativa dividida entre presente e passado, é angustiante ver Mort em 1994, mentindo de diversas maneiras para sua esposa afim de que consiga ter um tempo para si só e poder viajar e frequentar acampamentos e outros eventos para travestis. No tempo presente, dá um alívio tremendo vê-lo pronto da melhor maneira possível para enfrentar o julgamento das pessoas, que nunca é algo fácil.

Gostei bastante do tom da série, e você acaba se envolvendo nos acontecimentos já que a identificação é quase instantânea: como não se colocar no lugar, como não imaginar a maneira como essas vidas são viradas de cabeça para baixo após uma revelação como essa? Foram produzidos onze episódios para a primeira temporada e, felizmente, Transparent foi renovada para a segunda temporada, que deve estrear ainda este ano.

 

Transparent (Transparent – USA, Season 1: 2014) Criada por Jill Soloway. Com Jeffrey Tambor, Gaby Hoffmann, Amy Landecker, Jay Duplass. Amazon Studios. Créditos completos aqui.

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3 comentários:

  1. Mais uma série que eu vou ficar morrendo de vontade de assistir e talvez eu consiga daqui há alguns anos, rsrs.
    Tá difícil viu!!!

    E eu nem lembro em quem apostei, mas com certeza não foi nessa.

    Bjksssss

    Lelê - http://topensandoemler.blogspot.com.br/

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  2. Pelo que entendi Transparent é realmente transparente certo? Por tratar desse assunto polêmico e ainda não enfiar uma opinião goela abaixo do telespectador. E você vai me matar se eu disser que nunca tinha ouvido falar da série antes? Só sobre Orange Is The New Black mesmo, que já ta na minha lista pra assistir, junto com essa. Enfim... algo que me lembro muito esse contexto de Transparent é esse rumor todo em volta de Bruce Jenner estar se tornando uma mulher, você viu algo sobre? Seria uma história parecida.

    Beijos. Tudo Tem Refrão

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  3. Gosto muito dessas séries mais cruas e despidas de caricaturas ou hipocrisia, que mostram os personagens pelo que são. To de olho na série, mas vou primeiro terminar True Detective e Breaking Bad para depois me aventurar por essa!

    Abraços!!!

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