2 de fevereiro de 2015

Um Estudo em Vermelho, de Sir Arthur Conan Doyle #CLSH [Resenha #203]

Um Estudo Em Vermelho


Sinopse: Publicado originalmente em 1887, Um estudo em vermelho chegou a ser considerado uma espécie de "livro do Gênesis" para os casos de Sherlock Holmes, pois marca não só a primeira aparição pública do detetive mais popular da literatura universal como o primeiro encontro entre Holmes e Watson. Ao buscar conhecer melhor seu novo amigo, em pouco tempo Watson vê-se envolvido numa história sinistra de vingança e assassinato...


Falo muito pouco de Sir Arthur Conan Doyle e sua principal criação, Sherlock Holmes, aqui no blog. Muito menos do que merecem. Em parte, isso se justifica por o autor não ter produzido tanto quanto outros autores clássicos de literatura policial, como Dame Agatha Christie (cerca de 80) e Georges Simenon (cerca de 190) e por eu ter lido seus livros enquanto estava no colégio, e de lá para cá já se passaram mais de dez anos.

Então, a iniciativa da Lu Tazinazzo de propor este ano um Clube de Leitura que discutirá as obras do autor foi muito bem recebida por aqui. É literatura policial, é Conan Doyle. Tou dentro. Dos benefícios, logo de cara está o fato de que não havia lido o cânone do personagem em ordem cronológica, sempre o li fora de ordem conforme os títulos foram me chegando em mãos, de tal forma que, ou muito e engado, ou o “Um Estudo em Vermelho” foi o último livro dele que li.

O livro começa com Watson, que servira como médico na guerra do Afeganistão, retornando para Londres após ser ferido em combate e ter a saúde abalada por diversas doenças. Com os rendimentos curtos, procura alguém para dividir um apartamento, e um amigo em comum lhe apresenta Holmes.

– Você ainda não conhece Sherlock Holmes – disse. – Talvez não gostasse dele como companheiro permanente.
– Por quê? O que há contra ele?
– Bem, eu não disse que há alguma coisa que o desabone. Ele tem ideias um tanto estranhas – é apaixonado por alguns ramos da ciência. Pelo que sei, é uma pessoa bastante correta.

Holmes é sempre descrito como um sujeito peculiar: misterioso, mescla períodos de intensa atividade com outros de apatia, é bom boxeador e esgrimista, mas se declara um preguiçoso nato, além de ter vasto conhecimento sobre ramos que lhe são de interesse, já que considera inútil saber de algo que não venha a ter sentido prático na vida de determinada pessoa.

Leitores sem método raramente se destacam pela exatidão de seus conhecimentos.

Mas quais seriam os interesses de Holmes? Watson se põe a observar o colega, e é justo dizer que, apesar de um pouco estranho, Holmes se importa em não ser completamente desagradável. Logo de início ele lista para Watson seus maiores defeitos, perguntando se ele não ficará incomodado com eles, caso fique não poderão dividir o apartamento, e, já morando juntos, enquanto ele toca seu violino por horas a fio, faz questão de incluir entre as músicas as preferidas do doutor.

Por isso que se deve ler romances policiais – de todos os tipos, é verdade, mas no caso dos policiais de forma ainda mais reforçada – em ordem cronológica. Quando, ainda no colégio, li “Um Estudo Em Vermelho”, Holmes e Watson, para mim, já estavam afiadíssimos, e nem as maiores esquisitices de Holmes – cada uma com sua razão de ser, fique claro! – o deixava tão surpreso. Já quem segue o cânone do personagem, o lê em ordem cronológica, tem a grande vantagem de conhecer Holmes ao mesmo tempo que Watson, e isso é algo que não tem preço.

O mistério do livro envolve a morte de um homem, encontrado em uma casa abandonada, vestindo boas roupas, com dinheiro no bolso e, apesar de ter sangue por toda a cena do crime, a vítima não apresenta ferimentos aparentes. É somente aí que Watson entende o que Holmes faz, e percebe o quão importante é seu método peculiar de dedução para o trabalho policial.

Para um livro de estreia é aceitável que alguns atalhos sejam tomados. Acho que Conan Doyle deixou a desejar em um ponto que diversos autores do gênero também deixam: se em um romance policial, o leitor acompanha quase sempre o ponto de vista do detetive durante a investigação, o autor tem de ter o cuidado de incluir o leitor no processo, para que ele não se sinta de lado ou tenha dúvidas das explicações e dos métodos que forem utilizados. Caso contrário, se ele, ao final do livro, aparece com um “se lembre daquele bilhete misterioso que enviei, então, era para isso”, o leitor fica de fora do processo, é não gosto quando isso acontece.

Eu, por exemplo, me lembrava das deduções de Holmes como bem mais complexas. É o primeiro livro, então acho que isso fica mais certeiro com o tempo.

Agora, uma sensação que me acompanhou nessa releitura foi o estranhamento com a segunda parte do livro. Ela difere muito da primeira, quase como se fosse um segundo  livro. Sempre levo um segundo a mais para me adaptar, mas a história que Conan Doyle traça nela é mais uma prova de que ele é mais do que capaz de nos encantar com outro cenário que não a Londres de Holmes, então vale a pena.

Ao final, acho que a experiência foi bastante positiva. O “Um Estudo em Vermelho” não é meu livro preferido do autor, mas mesmo assim me deixou satisfeito com o que (re) encontrei lá, e com ânimo para a próxima leitura do Clube, que será a de “O Signo dos Quatro”.

Para maiores informações sobre o Clube de Leitura, visitem esse post da Lu Tazinazzo.

 

Sherlock Holmes Edição Completa (OBS: li apenas o “Um Estudo Em Vermelho”), de Sir Arthur Conan Doyle (A Study in Scarlet, 1887 – Tradução de Louisa Ibañez, 2007) – 90 páginas, ISBN 9788522009046, Editora Agir. [COMPRAR NO SUBMARINO]

{B+}

 

4 comentários:

  1. Você disse uma coisa na resenha que eu me identifiquei totalmente. Quando li Sherlock Holmes no colégio, eu não consegui entender muita coisa, me parecia COMPLEXO e por isso desisti dos livros de Sir Arthur, mas como não foi só comigo, acho que devo uma nova chance e porque não começar com a ordem cronológica da coisa certo?

    Beijos. Tudo Tem Refrão

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  2. Muito legal!!
    Estou com ele pra ler e não vejo a hora.
    Mesmo você dizendo que não é o seu preferido, ainda assim já me vejo curtindo muito!!

    Adorei!!

    Bjks

    Lelê - http://topensandoemler.blogspot.com.br/

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  3. Eu sinto que Um Estudo em Vermelho é Conan Doyle experimentando. A questão da segunda metade é meio incomum mesmo, mas eu fiquei tão absorta pela saga dos Ferrier que acabei me adaptando facilmente. E vamo junto!

    Abraços!!!

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  4. Oh Jah!!! Oh Jah!!! Eu sou uma pessoa seduzível, vocês ficam falando com tanta paixão de Sir Arthur Conan Doyle e ai eu, que não sou fã desse tipo de literatura acabo me sentindo inclinada a ler...

    A Zahar tem fez uma edição linda desse livro, acabei comprando a dois anos atrás, mas ainda não li, ela repousa na minha estante ao alcance da mão... Aliás estou olhando para ela agora... quem sabe no carnaval néh?!?!?

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