23 de março de 2015

Boa Noite, Estranho, de Jennifer Weiner [Resenha #210]

Boa Noite, Estranho

Sinopse: Para Kate Klein, que, meio por acaso, se tornou mãe de três filhos, o subúrbio trouxe algumas surpresas desagradáveis. Seu marido, antes carinhoso e apaixonado, agora raramente está em casa. As supermães do play-ground insistem em esnobá-la. Os dias se passam entre caronas solidárias e intermináveis jogos de montar. À noite, os melhores orgasmos são do tipo faça você mesma.

Quando uma das mães do bairro é assassinada, Kate chega à conclusão de que esse mistério é uma das coisas mais interessantes que já aconteceram em Upchurch, Connecticut, nos últimos tempos. Embora o delegado tenha advertido que a investigação criminal é trabalho para profissionais, Kate se lança em uma apuração paralela dos fatos das 8h45 às 11h30 às segundas, quartas e sextas, enquanto as crianças estão na creche.

À medida que Kate mergulha mais e mais fundo no passado da vítima, ela descobre os segredos e mentiras por trás das cercas brancas de Upchurch e começa a repensar as escolhas e compromissos de toda mulher moderna ao oscilar entre obrigações e independência, cidades pequenas e metrópoles, ser mãe e não ser.


Se tem um gênero que sempre me proporciona boas leituras, é o policial, então, quando tive em mãos um livro que esperava que fosse mais um romance tradicional, e na capa havia uma chamada dizendo “Detetive por acaso”, inevitavelmente me senti tentado a ler. E que bom que o fiz!

O livro nos mostra a rotina de Kate, uma mulher que antes se alegrava por ser independente, ter um emprego que se não era o dos sonhos dava para pagar as contas, e por morar em Nova York, a cidade em que tudo acontece; mas que, após o casamento, se mudara com marido e uma escadinha de filhos – três, incluindo gêmeos – para um subúrbio chique onde as mães insistem em ignorá-la no playground e o marido nunca está em casa.

É preciso dizer que Kate não leva muito jeito para ser mãe. Ela ama seus filhos, evidente, mas não tem muita paciência com jogos e não se preocupa em preparar lanches saudáveis a base de produtos orgânicos, e enquanto, no playground, as outras mães são psicóticas em dar aos filhos algo que não tenha origem animal ou glúten, ela tem de apelar para pastilhas para o hálito, pois se esquecera de preparar alguma coisa.

Não sei, apesar de Kate ser uma personagem carismática, desde o começo do livro a senti meio que à beira do abismo, tem muita coisa sobre ela no momento, e ela sente falta de ter alguém com quem compartilhar tudo isso.

Ela tem uma amiga, Janie, com quem dividia um apartamento em Nova York, e que de vez em quando aparece para fazer uma visita, mas não é desse tipo de ajuda que ela sente falta. De certa forma, Kate sempre se sentira muito só – e bastante cobrada – em grande parte pelo fato de, filhas de músicos, sua mãe ser uma mundialmente famosa cantora de ópera que sempre estivera rodando o mundo em temporadas nas casas de ópera mais tradicionais, e que tivera de engolir o desgosto por sua filha não ter talento como ela.

Mas nem todo mundo é frio com Kate em Upchurch – o tal bairro chique. Uma delas, Kitty, sempre lhe dirige uma ou duas palavras, mas Kate, se sentindo o tempo todo deslocada, não consegue pensar em nada que faça a conversa fluir melhor. O que fica sendo uma grande surpresa quando Kitty a convida para almoçar, e joga no ar um assunto que Kate considerava encerrado. Ao chegar na casa dela, Kate encontra a vizinha morta.

O assunto do do passado atende pelo nome de Evan. Enquanto morava com Janie em Nova York, elas tinham como vizinho o bonitão – e um tanto misterioso, como não poderia deixar de ser – Evan, e Kate logo se vê platonicamente apaixonada, mas ele namora uma super modelo megera, então ela sente que tem poucas chances no assunto. O que é realmente importante dizer aqui é o seguinte: Kate não se casara com ele, e, ainda, ela e Janie dão a entender que o que quer que tenha acontecido com os dois foi um tanto quanto traumático, de forma que tudo o que Kate quer é esquecer aquilo que acontecera.

Mas, somado ao fato de que ela encontrara uma vizinha morta na cozinha, o reaparecimento de Evan em sua vida a deixa alarmada. Ela tem de descobrir a ligação – se é que há alguma – entre ele e a morte de sua vizinha, então para isso passa a fazer perguntas discretas, investigando ela mesma o ocorrido, mas ela não esperava que fosse revolver tantos esqueletos de dentro do armário de uma vizinhança aparentemente tão quieta quanto Upchurch.

Gostei do livro, apesar de ter uma estrutura essencialmente policial – há um crime, alguém que o investiga, e, claro, um criminoso à solta – o fato de a “detetive” ser uma mãe de três filhos trás alguns elementos que fazem do livro uma experiência totalmente nova mesmo para quem já tem uma bagagem ampla do gênero. Há nas páginas um humor delicioso, que funciona muito bem associado à narrativa em primeira pessoa.

E a autora, Jennifer Weiner, sabe contar uma história cativante – por mais que os momentos flashback, onde vamos descobrindo o que aconteceram entre Kate e Evan sejam bem mais fracos em comparação com a investigação – com personagens que a gente acaba se apegando.

Como não gostar de uma mãe de três filhos cujo marido nunca está em casa e que desenvolve uma relação afetiva – palavras dela – com o chuveirinho? E o que dizer de sua melhor amiga, sempre elegante e com uma língua afiada? Foi bom ter conhecido a autora, ao final, me bateu uma vontade de ler o Dias Melhores Virão, seu outro livro publicado pela Novo Conceito.

 

Boa Noite, Estranho, de Jennifer Weiner (Goodnight Nobody, 2005Tradução de Alice Klesck, 2015) – 432 páginas, ISBN 9788581635750, Editora Novo Conceito.

{B+}

Parceiro 2015

3 comentários:

  1. Bom dia!!!
    Adorei!! Adorei a resenha e o resto todo.
    Eu estava mesmo esperando alguém resenhar pra eu decidir se vou ler.
    Tá, eu gosto do gênero, até gosto da autora e a sinopse me agradou, mas eu tenho necessidade de uma resenha. De preferência de alguém que tenha um gosto mais ou menos parecido com o meu. E como sei que o seu é, já vi que vou gostar.

    Bjkssssss

    Lelê -

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  2. Oi, Luciano!
    Se Kate fosse uma mãe tradicional e que gostasse de cozinhar, a personagem pareceria com alguém que conhecemos - aquela que está sempre insatisfeita com o marido e consequentemente com a vida sexual. Ainda bem que tem um crime para ser desvendado... Isso sai da rotina!
    Gostei da sua resenha, mas não me senti atraída pelo livro. Quem sabe o marido de Kate seja um psicopata?
    Boa semana!!
    Beijus,

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  3. Eu não sou fã de suspense, mas me sinto atraída por eles quando tem qualquer coisa de inusitada na narrativa... como por exemplo uma mãe de família entediada com uma relação de amor com o chuveirinho kkk... Me faz sentir curiosidade!

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