26 de junho de 2015

Croquis, de Hinako Takanaga [Resenha #225]

Croquis


Sinopse: Nagi tem um trabalho de meio período como modelo numa escolas de arte e ultimamente elevem notando o olhar de um aluno especial.

Kaji parece bem amigável, mas Nagi tem medo de revelar seu maior segredo: ele é uma drag queen e está guardando dinheiro para fazer grandes mudanças!

Será que Kaji aceitará Nagi como ele é ou ele será esnobado novamente?


Croquis foi minha primeira experiência com shonen-ai, e tive bem menos estranhamentos do que supus ter, o que é altamente positivo. Por definição, o shonen-ai trás uma relação com forte conotação afetiva entre garotos, algo diferente dos títulos yaoi que vai para um lado mais erótico mesmo. Acontece que eu sempre fico com a impressão de que a linha que separa as duas vertentes é tão tênue que é muito fácil confundí-los – até acho que, na verdade, Croquis é um yaoi, pelo menos em seu site oficial a editora o descreve assim.

Serializado originalmente na revista Rutile Sweet, o volume trás três histórias: a “Croquis”, contada em quatro capítulos; “Do Meu Primeiro Amor”, em dois capítulos, e “Um Desejo para a Estrela”, em apenas um capítulo; mas, até mesmo pela duração maior, é a Croquis o carro-chefe desse volume, o primeiro publicado inteiramente com os trabalhos da mangaká, Hinako Takanaga.

Nela, somos apresentados à Nagi, um garoto simpático que, desde criança, sente-se atraído por meninos. Ele tem uma vida meio que dupla, trabalhando como modelo artístico para estudantes de artes durante à tarde, e em um clube gay à noite, enquanto junta dinheiro para conseguir pagar pelas operações que, ele acredita, o fará feliz e, finalmente, ser amado por alguém.

A questão aqui é que Nagi tem certeza de que nunca teve seu amor por outro garoto correspondido por ter uma aparência de menino – apesar de bastante andrógino – o que ele poderia corrigir, e finalmente ser feliz, com as cirurgias plásticas que ele está lutando para pagar.

Até que, durante as aulas, ele percebe um olhar diferente por parte de Kaji, um dos alunos, mas Nagi é um tanto inseguro, ele não consegue se decidir se há ali algo a mais, tampouco tem coragem de tomar a iniciativa, e fica sofrendo com a indefinição da situação.

O traço do mangá é bem limpo na caracterização dos personagens, mas as páginas são bem compostas, com diversos elementos que as fazem um tanto vivas e traduzem bem o que se passa no momento. Uma coisa que me chamou bastante atenção é a passagem do tempo, a autora conseguiu imprimir essa sensação de forma muito competente sem que ela tenha de usar algum recursos textual direto para isso, como um “Dias depois” em algum quadro, ou mesmo um “Já faz tempo” em algum dos balões. Achei bastante interessante.

Como é comum no gênero, há bastante humor e as cenas de encontros e desencontros entre Nagi e Kaji dão o tom dessas situações, tornando tudo mais leve. E leveza é palavra-chave aqui. Apesar de ser clara e expor as situações sem rodeios, a autora narra tudo com muito tato, de forma que o que se percebe, em primeiro lugar, são histórias de romance, e não algo puramente boys love ou o que o valha.

Apesar disso, alguns dos posicionamentos dos personagens podem ser polêmicos, como do rapaz gay que “aprende” a amar a namorada; ou como Nagi, que acha que só será feliz se tiver cada vez mais uma aparência feminina; e até mesmo de Kaji, que deixa claro desde o começo que a ideia de Nagi se transformar é uma agressão ao seu corpo. Isso talvez seja mais um mérito da autora, lançar os temas e deixar aberto o espaço para discussões. Ainda que não se levantem bandeiras com “Croquis”, acho válido que se deixem no ar certos questionamentos.

As outras três histórias também são interessantes e apresentam enredos um pouco diferentes que trazem um tom a mais ao volume, falando mais abertamente de decepções ou das surpresas do primeiro amor. É um mangá de volume único, com boa edição – em papel offset, mas duas derrapadas na revisão que derrubaram a nota dele – então vale o investimento, nem que seja pela curiosidade.

 

Croquis, de Hinako Takanaga (クロッキー, 2004 – Tradução de Fabio Sakuda, 2015) – 164 páginas, ISBN 9788583620297. NewPop Editora.

{B+}

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4 comentários:

  1. Pra mim isso tudo é novidade!! Adoro vir aqui e descobrir cada uma delas.
    Não sei se vou ler, mas pelo menos já sei mais ou menos o que é, rsrs.

    Adorei!

    Bjks

    Lelê

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  2. Oi Luciano!
    A capa desse mangá é super fofa!! E a história dele é bem diferente, achei legal a autora abordar esse tema de modo leve e romântico.
    Fiquei com vontade de ler, ainda mais que é volume único!

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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  3. Aaaaah eu quero!!! Aliás, preciso desse livro... Aiiii como acho fofos os personagens shonen-ai, também são feitos por meninas \o/ Rá!

    Adorei a resenha e o tom dela, mas dãh, quando não néh?!?!

    Pandora
    O que tem na nossa estante

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  4. Faz até vergonha eu ser fã de quadrinho e nunca ter lido um mangá >.< mas estou mesmo tentando iniciar. Adorei a temática desse abordar um assunto tão delicado como transexualidade e relação entre pessoas do mesmo sexo é sempre bom entender esse universo ainda mais quando se trata de garotos.

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