31 de agosto de 2015

Fragmentados, de Neal Shusterman [Resenha #232]

Fragmentados


Sinopse: Em uma sociedade em que os jovens rejeitados são destinados a terem seus corpos reduzidos a pedaços, três fugitivos lutam contra o sistema que os fragmentaria.

Unidos pelo acaso e pelo desespero, esses improváveis companheiros fazem uma alucinante viagem pelo país, conscientes de que suas vidas estão em jogo. Se conseguirem sobreviver até completarem 18 anos, estarão salvos. No entanto, quando cada parte de seus corpos desde as mãos até o coração é caçada por um mundo ensandecido, 18 anos parece muito, muito longe.

O vencedor do Boston Globe-Horn Book Award, Neal Shusterman, desafia as ideias dos leitores sobre a vida: não apenas sobre onde ela começa e termina, mas sobre o que realmente significa estar vivo.


Neal shusterman construiu um mundo civilizado com uma realidade assustadora: houve uma guerra civil em que dois lados batalharam, e, para porem fim ao impasse, foi criada uma lei, a Lei da Vida.

Esta lei diz que nenhuma atitude pode ser tomada com relação à vida humana até que a pessoa faça treze anos. Porém, a partir daí, pais insatisfeitos com o comportamento de seus filhos – ou quaquer outro motivo que considerem louváveis e fortes o suficiente para que remorsos não existam – podem encaminhá-los para a “Fragmentação”.

Essa Lei da Vida é uma coisa maluca e sem muito sentido. Primeiro, ela diz que, se um bebê é colocado na porta da sua casa, ele é seu – isso se chama “cegonha”, poético, não? – a não ser que você pegue a pessoa no flagra, daí a pessoa que abandonaria o bebê tem que ficar com ele.

Mas a parte mais polêmica da Lei da Vida diz respeito mesmo à fragmentação. Segundo ela, uma pessoa fragmentada não está morta, mas vivendo de maneira separada, o que não tornaria o ato um homicídio legalizado, mas, sim, uma forma organizada de o governo lidar com pessoas que já não se ajustaram à sociedade mesmo, então porque insistir em mantê-las no rumo enquanto elas podem ajudar as pessoas íntegras – sem trocadilhos – de outra maneira?

Connor é um adolescente problema, brigão, com o pavio extremamente curto que descobre, por acaso, que seus pais assinaram a autorização para que ele seja fragmentado. Ele fica chocado mas não inteiramente surpreso, pois reconhece que não é um filho exemplar, porém o que faz mesmo com que sofra é a traição, é conviver com os pais, olhar nos olhos deles e perceber que eles nao terão coragem de conversar sobre o assunto até que a “colheita” tenha que ser feita. Então, ele foge.

Risa é um garota sob a tutela do estado, que sonha em ser musicista, mas que é surpreendida com a notícia de que o estado está individado e que ela é um custo com o qual eles não podem mais arcar, e que será fragmentada. No meio do caminho para um campo de colheita, o inesperado ocorre e ela aproveita a oportunidade.

Já Lev é um dízimo. As religiões encontraram um meio de validar a fragmentação com a alegação de que é um gesto de amor para o bem maior, nos casos em que a pessoa fragmentada não é um cordeiro desgarrado, um desviado da sociedade, mas um dízimo, alguém cuja vida fora gerada, que fora educado e criado com amor para que, aos treze, fosse entregue à fragmentação. Diferente de Connor e Risa, Lev sabe do cará ter sacro de sua fragmentação, do papel santo que ele tem de ser um dízimo, e fica chocado quando os planos pelos quais ele fora moldado durante toda a sua vida são interrompidos, e ele tem de reaprender quem é e qual seu objetivo na vida.

A fragmentação, como já puderam advinhar, consiste em desmembrar o indivíduo em diversas partes, aproveitando todas elas disponibilizando-as para transplantes, o que, segundo seus defensores, faria com que os “doadores” fragmentados não morressem, mas continuassem suas vidas de forma diferente, separada. Daí vem a questão: o que é melhor, morrer por inteiro ou viver dividido?

O certo é que nenhum adolescente – com exceção, talvez, dos dízimos – fica muito feliz em saber que será fragmentado, por isso muitos fogem, amparados pela Lei da Vida que diz que aos dezoito anos não se pode mais fragmentar um indivíduo. Se durarem até lá, estão salvos, mas com a fuga acabam se tornando um problema maior para o estado, fugindo, cometendo pequenos crimes para sobreviverem, de modo que criam uma polícia específica, os Juvis, encarregados de caçar esses fugitivos.

Numa das anotações mentais que fiz para esta resenha, havia um tópico chamado “narrador foda”. E é bem isso que o Neal Shusterman é, um fodão. O livro segue de formas um tanto inesperadas, com reviravoltas desconcertantes e, confesso, nunca antes tinha ficado tão surpreso ao ouvir um nome ser mencionado quanto fiquei em uma das passagens do livro. Todo o mérito para ele.

A narrativa em terceira pessoa sob diferentes pontos de vista colabora para que o leitor tenha uma visão maior de tudo o que acontece, dando diversas versões do que se passa e com a visão de personagens que são bastante carismáticos, como Connor, Risa e Lev.

Mas o que me chamou mesmo a atenção foi uma passagem paralela, testemunhada por Lev. Em determinado ponto, ele acompanha um garoto, CyFi, que diz não ser um fugitivo mas que está sempre seguindo em frente. As razões que o levam a viajar pelo país vão fazer até o mais coração de pedra dos leitores se emocionar, e quase acabou com o tio aqui.

Acho incrível quando um autor faz isso: ele tem um bom mateiral em mãos, uma trinca de protagonistas que funciona, cria cenários e situações que colocam o leitor no olho do furacão, mas ainda assim encontra tempo para nos brindar com um algo a mais, passagens que, longe de se tornarem meras distrações, engrandecem o universo do livro e valorizam o que ele – o autor – criou até ali.

Recomendo fortemente “Fragmentados”. Confiem em mim quando digo que o livro não vai te deixar parados, pois há muito com o que se surpreender. Vale muito a pena.

 

Fragmentados, de Neal Shusterman (Unwind, 2007 Tradução de Camila Fernandes, 2015) – 368 páginas, ISBN 9788581635194, Editora Novo Conceito.

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Parceiro 2015

7 comentários:

  1. Adorei esse negócio de fragmentar as pessoas, hahaha. Estou louca pra ler logo este livro!!!!
    Amei ler a resenha e ter a certeza que vou adorar o livro!!!

    Que bom que voltou!!!!!!!!!!!

    Bjks

    Lelê

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  2. Oie,
    Nossa que resenha....só posso dizer UAUUUUUUU.....e que espero concluir minhas leituras logo, pois ele está entre um dos próximos na fila. É incrível quando um livro nos surpreende dessa maneira. Espero gostar tanto quanto você.

    Beijos Elis... - http://amagiareal.blogspot.com.br/

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  3. Oi Luciano, tudo bem?
    Realmente a realidade retratada nesse enredo é assustadora.
    À princípio eu me incomodei com a forma de narrativa, mas depois me envolvi tanto a história que me acostumei e nem percebi rsrs.

    Beijos
    www.leiturasdapaty.com.br

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  4. Oi Luciano!
    Pretendo escrever a resenha desse livro hoje também. Eu adorei o livro!!! Também achei a realidade dele assustadora e adorei a narrativa.

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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  5. Eu tinha a impressão de que estava a dias querendo vim comentar essa resenha, ma o blogger diz que ela foi publicada em Agosto... Jesus, foram 60 dias...

    Eu não coloquei de inicio Fragmentados em minha lista, a chamada da Novo Conceito não me pegou, MAS sua resenha me fez olhar novamente para o livro com olhos de afeto e vontade de ler. Colocou luz sobre a parte instigante da trama, somado a isso os bons preços da NC nos e-books (que facilita a manutenção da honestidade leitora kkk), em breve estarei com ele... hohoho

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