20 de outubro de 2015

Neve na Primavera, de Sarah Jio [Resenha #235]

Neve na Primavera


Sinopse: Seattle, 1933. Vera Ray dá um beijo no pequeno Daniel e, mesmo contrariada, sai para trabalhar. Ela odeia o turno da noite, mas o emprego de camareira no hotel garante o sustento de seu filho.

Na manhã seguinte, o dia 2 de maio, uma nevasca desaba sobre a cidade.

Vera se apressa para chegar em casa antes de Daniel acordar, mas encontra vazia a cama do menino. O ursinho de pelúcia está jogado na rua, esquecido sobre a neve.

Na Seattle do nosso tempo, a repórter Claire Aldridge é despertada por uma tempestade de neve fora de época. O dia é 2 de maio. Designada para escrever sobre esse fenômeno, que acontece pela segunda vez em setenta anos, Claire se interessa pelo caso do desaparecimento de Daniel Ray, que permanece sem solução, e promete a si mesma chegar à verdade. Ela descobrirá, também, que está mais próxima de Vera do que imaginava.


Minha primeira experiência com a autora Sarah Jio foi bastante agradável. Seu “Violetas de Março” foi um livro que me surpreendeu por sua narrativa envolvente e personagens carismáticos, assim, foi com curiosidade e altas expectativas que acompanhei o lançamento do “Neve na Primavera”, e me forcei a esperar toda a agitação passar, para poder acompanhar o livro sem maiores exigências.

No livro, conhecemos Claire, uma jornalista que enfrenta um momento conturbado em seu casamento com o herdeiro do jornal onde trabalha e que, ao mesmo tempo em que reconhece que ama seu marido, não consegue encontrar formas de se reconectar a ele, e sente que ele lhe escapa por entre os dedos, suspeitando, inclusive, que ele está ensaiando uma reaproximação com sua ex, que não por acaso é a crítica de gastronomia do jornal (muito ético o moço!).

A gente logo percebe que algo de muito sério aconteceu no último ano e que Claire não sabe muito bem como lidar com a situação, optando muitas vezes por tentar ignorar o problema afim de que as coisas não fiquem piores, mas ela só tem um respiro, uma oportunidade para dedicar suas forças em algo produtivo quando, após uma nevasca incomum na primavera, recebe uma pauta estranha de seu editor: linkar a nevasca atual com uma semelhante, que ocorrera cerca de oitenta anos antes.

Buscando por algo sobre o que escrever, Claire descobre Vera Ray, uma jovem mãe que dizia que seu filho fora raptado durante a nevasca, é esta história que ela decide contar.

Em algo que já é sua maior característica, a autora, nos leva em uma viagem oitenta anos no passado, onde nos apresenta Vera Ray, uma camareira de um imponente hotel que, poucos anos após a Grande Depressão norte-americana, tem de se esforçar para manter seu filho, que cria sozinho, inclusive passando fome para que ele tenha o que comer. Acontece que, durante uma nevasca na primavera, seu filho, Daniel, desaparece de sua casa, onde ela o deixara dormindo e fora trabalhar;

Aqui a autora deixa em aberto o que nós, leitores, devemos pensar sobre Vera Ray: se ela é uma péssima mãe que não devia ter deixado um filho pequeno sozinho em casa; ou que ela é uma mãe que fez de tudo o que estava ao seu alcance para manter, sozinha, um filho, numa das mais difíceis épocas que o país viveu.

Acho importante essa liberdade de escolha que a autora nos dá para com que lidemos com Vera. Por mais que uma criança desaparecida e uma mãe em desespero gere empatia, não duvido que existam aqueles que vão julgá-la, mas tenho para mim que, de toda forma, a torcida para que ela reencontre o filho será maior que qualquer outra coisa, por mais que ela tenha encontrado pouco ou nenhum apoio em sua busca.

O que mais gosto nos livros da Sarah Jio é em como ela vai entrelaçando fatos, tecendo conexões que o leitor mais atento consegue ir adivinhando conforme elas se aproximam; e esta cumplicidade, de a personagem saber das coisas no mesmo ritmo que o leitor é de uma importância tremenda para que um livro que tem como ingrediente o mistério consiga funcionar, e eu felicito a autora ainda mais por que mesmo muitos escritores de romances policiais não conseguem lidar com isso.

Ela também nos brinda com duas personagens fortes: Vera Ray, a mãe em busca do filho; e Claire, uma mulher que quer reconstruir sua vida a partir de escombros nos quais ela não tem coragem de começar a mexer.

Mas a história do menino desaparecido mexe com ela, e é sensível quando ela começa a reagir. Ao perceber que seu marido está se encontrando demais com a ex, por exemplo, Claire não senta e chora atrás da porta, ao contrário, ela chega a conclusão óbvia de que “se meu marido se permite almoçar com a ex, eu bem que posso tomar uma cerveja e ir a um show de uma banda cover do U2 com o bonitão simpático – e misterioso – dono do café, montada na garupa de sua moto.” A gente precisa de protagonistas assim, com coragem, chega de personagens choronas que juram que jamais passarão fome novamente ou coisa que o valha!

Para fazer com que me envolvesse ainda mais com o livro e sorrisse abertamente enquanto o lia, a autora ainda faz de Claire uma velha amiga de Emily, a protagonista do livro anterior, com ela inclusive fazendo uma visita à ela e Bee. Muito foda isso, obrigado, Sarah Jio!

Recomendo fortemente o livro. É uma leitura rápida por motivos de:

a) você vai querer saber o que aconteceu com Daniel;
b) você vai querer saber onde raios estava o pai do menino; e,
c) você vai torcer muito para que Claire dê a volta por cima.

E, além disso, a autora tem o cuidado de tecer sua teia narrativa de uma forma que deixa o livro extremamente agradável de se acompanhar. Destaque para os flashbacks que mostram, quando a narrativa acompanha Vera Ray, como ela se viu sozinha e grávida em plena Seattle. Enfim, vale muito a pena ler.


+da autora

Violetas de Março


Neve na Primavera, de Sarah Jio (Blackberry Winter, 2012 Tradução de Rafael Gustavo Spigel,2015) – 336 páginas, ISBN 9788581637211, Editora Novo Conceito.

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Parceiro 2015

3 comentários:

  1. Luciano,
    Um livro que vale muito a pena ler. Foi nesse livro que tive o meu primeiro contato com a autora e confesso que me foi muito prazeroso.
    Ansiosa pela chega do novo livro dela O Bangalô que espero seja tão bom quanto,
    Muito boa resenha!
    Beijos e abraços
    Saleta de Leitura

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  2. AMEI A RESENHA!!!!

    E eu não dava nada pelo livro heim!! Agora mudei completamente de opinião.

    Linda história, linda trama, lindo tudo!! ♥

    Bjkssssss

    Lelê

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  3. Sua resenha ficou infinitamente melhor que a minha, mais informativa sobre o livro. "Neve na Primavera" foi um livro que mexeu muito comigo, não esperava isso dele, achei que seria um suspense sabe... e de repente me vi numa história de mães que perderam filhos.... Nossa, quando dei por mim não conseguia mais controlar a emoção, só fiz chorar e chorar... A Sarah entrega um livro com uma dose de verdade agridoce. Vera sempre terá um lugar no meu coração.

    Confesso que se não tivesse pego ele em uma parceria talvez não tivesse tido coragem de escrever sobre ele.

    Ah, adorei o desfecho da Jio, sei lá... É utópico demais acreditar no bonitão misterioso e as vezes vale a pena perdoa e insistir no casamento.

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