26 de julho de 2010

A Viagem do Elefante, de José Saramago [Resenha #003]

 

Uma vez, há alguns anos, meu irmão lia Memorial do Convento, de José Saramago, e queixou-se das longas frases. Partindo do princípio de que também me alertara quanto a dificuldade de se ler Sagarana, outro grande clássico de língua portuguesa, e, ao qual, por mais que tenha insistido, não consegui me adaptar; acabei por deixar Saramago de lado em minhas leituras.

Agora, graças à leitura coletiva proposta pelo James, do Minha Literatura Agora, e a Vanessa, do Fio de Ariadne, em grande parte inspirados na vontade de homenagear o escritor, que faleceu recentemente, surgiu a oportunidade de sanar esta dívida que possuía. Dos três livros propostos pelos idealizadores do evento - Ensaio sobre a Cegueira, Caim e A Viagem do Elefante - optei pelo último, por achar que a leitura me cairia de forma agradável. E caiu.

Confesso que esperava algo enessado, moroso e outros adjetivos não tão glorificantes para uma boa leitura – claro, ao meu ver – mas a história da viagem do elefante Salomão, que vivia um tanto quanto esquecido em terras portuguesas, assim como seu cornaca, Subhro, sem em nada contribuir com quaisquer que fossem os interesses do rei, D. João III, e que então é dado de presente ao arquiduque Maximiliano da Áustria, me cativou. A narrativa é leve, mas mesmo assim tive de me adaptar ao jeito Saramago de escrever, com os diálogos inseridos no próprio parágrafo, e algumas palavras que não se vê, ou se ouve, com frequência em nosso dia-a-dia, algo que me incomodou no começo, mas que não durou 20 páginas, e havia me habituado.

Como toda viagem deste porte - imaginem uma comitiva levando um elefante de Lisboa à Áustria, que, mesmo nos dias atuais causariam algumas dores de cabeça, que dirá em pleno século XVI - nos deparamos com situações inusitadas, que dão suporte às inúmeras e geniais ironias utilizadas por Saramago, retratando a imobilidade burocrática do governo e alfinetando aqui e ali as atitudes da Igreja. Dos personagens, é impossível se esquecer do cornaca, Subhro (depois renomeado para Fritz), indiano que, a primeira vista frágil e servil, sabe muito bem de sua importância para todos da comitiva, uma vez que é o único capaz de montar no animal, e utiliza-se disso com propriedade.

No fim, Saramago me agradou bem mais que esperava, a ponto de estar disposto a me arriscar na leitura de Caim.

Os outros participantes  da Leitura Coletiva podem ser vistos aqui.

A Viagem do Elefante (2008) José SaramagoCompanhia das Letras

 
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ed

7 comentários:

  1. Luciano,ótima análise.Fico muito feliz que você tenha participado mais uma vez.Textos assim só nos enriquecem.
    Um grande abraço.

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  2. Luciano, muito obrigada por participar. Estamos livres da birra :-). Vou colocar seu link na lista.

    bjs

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  3. James,

    Eu é que agradeço a oportunidade, e parabenizo você e a Vanessa pela proposta. Foi muito bom participar e conhecer Saramago.

    Grande abraço.

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  4. Vanessa,

    Pois é, no final das contas nem foi tão ruim assim, e ainda ganhei mais um autor para admirar.

    Eu é que agradeço e parabéns pela iniciativa.

    Beijo.

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  5. Pois amiga!
    Não participei deste.
    Estou com a Interação de amigos com outra. Espeço Aberto. Quem sabe vem dar uma olhadinha.
    A vanessa está por lá. Http://sandrarandrade7.blogspot.com
    Carinhosamente,
    Sandra

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  6. Vai até quando esta postagem, amigo??
    Quem sabe ainda poso participar.
    Sandra

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  7. Sandra,

    A coletiva foi proposta pela Vanessa e o James, e ocorreu no dia 26 do mês passado. Creio não ter nada demais você ler um dos livros e postar sua opinião.

    Abraços, estou passando por lá.

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Oscar