28 de maio de 2012

A Casa das Orquídeas [Resenha #052]

A casa das orquídeas

 

Sinopse: Quando criança, a pianista Júlia Forrester passava seu tempo na estufa da propriedade de Wharton Park, onde flores exóticas cultivadas pelo seu avô nasciam e morriam com as estações. Agora, recuperando-se de uma tragédia na família, ela busca mais uma vez o conforto de Wharton Park, recém-herdada por Kit Crawford, um homem carismático que também tem uma história triste. No entanto, quando um antigo diário é encontrado durante uma reforma, os dois procuram a avó de Júlia para descobrirem a verdade sobre o romance que destruiu o futuro de Wharton Park... E, assim, Júlia é levada de volta no tempo, para o mundo de Olívia e Harry Crawford, um jovem casal separado cruelmente pela Segunda Guerra Mundial, cujo frágil casamento estava destinado a afetar a felicidade de muitas gerações, inclusive da de Júlia.

Depois de Presentes da Vida fiquei um pouco apreensivo ao começar a ler A Casa das Orquídeas, achei que seria mais um livro raso, apesar de suas quase seiscentas páginas. Ainda bem que estava enganado.

A Casa das Orquídeas é centrado em Wharton Park, uma enorme propriedade que tem como senhores a família Crawley, que há várias gerações são os proprietários do lugar, e dos quais dependem centenas de funcionários, algum dos quais farão parte ativamente de muitos dos acontecimentos que os Crawley enfrentarão durante o livro. Wharton me fascinou, sou muito fã de Downton Abbey, então ler sobre uma casa nos mesmo moldes me animou bastante, ainda mais por não se tratar apenas da história dos Crawley, mas também de seus empregados e de como a vida fará com que se reencontrem numa situação inimaginável.

Para contar a estória da forma mais abrangente e clara possível, a autora sabiamente dividiu a narrativa, descrevendo tanto o que se passa nos dias atuais, com Júlia Forrester e Kit Crawley, quanto com aqueles que deram origem à essa geração, e que viveram os tormentos da Segunda Grande Guerra: Harry e Olívia Crawley, Bill e Elsie, e Lídia; viajando entre as duas épocas sempre que algo precise ser revelado ou esclarecido, fazendo uso de transições inteligentes, que as linkavam sem que muito do ritmo fosse perdido.

Alternando entre o presente e o passado dos personagens, a autora nos permite acompanhar aos poucos tudo o que se passou com eles, e entender muitas de suas frustrações presentes. É quase como se fossem dois livros em um, dada a diferença dos relatos e experiências pelas quais cada geração passou, ao mesmo tempo em que acabam, por fim se encontrando, ou como já disse, se justificando.

Mas – e quase sempre há um mas – um recurso da narrativa bastante usado pela autora me incomodou: narrado em terceira pessoa, o livro se torna bastante agradável, e você se acostuma com essa dinâmica até que, sem mais nem menos, a autora muda para a primeira pessoa para expressar os sentimentos de Júlia, uma das personagens principais da trama. É como se um balde de água fria fosse jogado em sua cara, ou como se você estivesse passando pela roleta de um ônibus e o motorista desse uma freada brusca: o ritmo é quebrado, e você tem de se adaptar a uma nova narrativa que não dura duas páginas para já retornar à terceira pessoa. Achei desnecessário.

Claro que em livros tão extensos, e que se propõem a contar uma estória igualmente longa, existem altos e baixos: algumas das passagem imediatamente após a guerra – Bill e Harry Crawley vão lutar na guerra – são extremamente morosas, especialmente por Harry ser um personagem fraco e antipático, ridiculamente ligado às tradições familiares da época, ainda mais de uma família da nobreza; mas que mesmo naquele tempo já se encontravam bastante desgastadas, num processo que se iniciou com a virada do século – e que é muito bem retratado em Downton Abbey. Harry é complexo, e senti como se a autora tivesse jogado com ele durante toda a narrativa, passando por diversas transformações durante todo o texto, mas que, sempre, davam a impressão de que seu maior traço era a fraqueza, buscando algo para justificar seus atos falhos. Harry, acho, é quase uma Darcy Rhorne.

No entanto, justamente esta passagem é que justifica todo o livro. E concordo com o que a Lu Tazzinazzo disse esses dias em seu blog: é muito difícil discutir um livro com propriedade em uma resenha sem que se entregue pontos importantes demais; fica difícil até mesmo explicar melhor alguns dos pontos que são levantados. Então, não posso dizer o que acontece aqui…

O livro é bem amarrado – no todo, mas nem sempre em suas partes. Júlia é uma personagem interessante, e apesar de sabermos que ela sofreu uma tragédia familiar, a autora mantém o mistério no ar, que faz com que o leitor fique preso, esperando por esta revelação. Gostei desse artifício, me lembrou aqueles segredos de novela que são importantes mas não tanto quantos os que serão revelados no capítulo final. Em A Casa das Orquídeas acontece isso.

E se digo que nem tudo é bem amarrado “parte por parte”, é justamente por a autora se perder lá pelo capítulo cinquenta. E não é um mero deslize: fica parecendo que se trata de uma outra pessoa escrevendo. A mudança que ela provoca nos acontecimentos é tão grande que choca e alguns poderão até mesmo abandonar a leitura. É tudo muito diferente do estilo que ela mantém por todo o livro até ali, da forma como ela conduz os acontecimentos. Mais uma vez me pareceu novela, mas aqui um simplório estratagema de novela mexicana. Achei gratuito o recurso que ela utilizou e que fez com que Júlia partisse em busca de sua verdadeira história, dava muito bem para ela ter feito uso de um outro motivo qualquer, mais limpo, coerente e justo com o livro.

E, já estando nos capítulos finais, fica difícil reverter a situação, e os últimos fatos acontecem com tanta velocidade que parece que ela queria resolver tudo num riscar de fósforo. Não é algo que se possa contornar, e, muito menos, se compensar com um final todo florido e com arco-íris no céu. Até o capítulo cinquenta, o livro merecia um [B+], depois dele cai para um [ C ] fácil. É uma pena, mas regularidade sempre foi uma palavra de ordem.

Somando prós e contras, o saldo é positivo. Não tivesse o pequeno deslize cometido pela autora me incomodado tanto, este seria um dos principais livros do ano.

 

A Casa das Orquídeas (Hothouse Flower, 2011Tradução de Bárbara Menezes de A. Belamoglie, 2012) Lucinda Riley – 560 páginas, ISBN 9788563219961,  Editora Novo Conceito. [Comprar no Submarino]

{C+}

46 comentários:

  1. Eu confesso que quando vi o titulo desse livro já fiz cara de azedo para ele... Enfim, como diria as vezes eu gosto de ler essas histórias sobre grandes famílias e blá... blá... blá... Mas geralmente não. Autores pretensiosos, confusão narrativa no meio do caminho e uma história sobre pessoas que não são acessíveis a mim... Enfim... No fundo eu ainda devo ter muita coisa da garota estranha que lia Admirável Mundo Novo enquanto todo mundo lia Harry Potter, ou seja, melhor seria se eu nem opinasse nesse caso! rsrs

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    1. Pandora, adorei, rsrs. É preciso mesmo muita competência ao se contar uma história familiar, e sem se perder em um livro tão grande. Foi o que aconteceu em "A CAsa das orquídeas", mas parece que os demais leitores não deram muita bola para isso, nas resenhas que estou lendo são todos elogios. Talvez o "efeito desagrado" tenha se dado só comigo. enfim, o livro merece ser lido, só possui o problema que indiquei.

      Abraços.

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    2. Bem, é a primeira resenha que leio sobre esse livro, mas a despeito de sua opinião, penso que seu critério de visibilidade é um tanto quanto diferente de grande parte dos leitores da blogosfera literária!!!

      Eu diria até que é diferente do meu. Aliás, esses critérios usados na escrita das resenhas, essa parcialidade que todos temos, pq eu não acredito em imparcialidade, tem me intrigado tanto que estou esperando os livros de minha parceria com a Saleta chegarem para escrever um post falando sobre o que eu levo em consideração na hora de resenhar.

      Aliás, curto muito os seus critérios! Cá está Gorki que não me deixa mentir e em breve ao lado dele estará Estilhaça-me, que apesar de ser literatura de massa creio que vou gostar.

      Sim, Luciano vc já leu algum dos livros da Trilogia Jogos Vorazes???

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    3. Pandora, sabe que ainda não li nada de Jogos Vorazes! Tá todo mundo lendo e gostand muito, mas ainda não me animei para fazê-lo, não sei a razão. e que bom que Górki está por aí, espero que goste de sua escrita.

      Quanto as resenhas, bom, eu até tento ser imparcial, mas acho mesmo que não dá, em se tratando de uma opinião, se manter totalmente isento. Faz parte :)

      Beijos.

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  2. Nossa e eu achando que esse seria um daqueles livros onde eu mergulharia de uma maneira que não pararia até fim, bem ainda não li, de repente eu nem note tudo isso...rsrsr....vai que me apaixono de cara...rsrsrs....só depois de eu ler para compararmos. Mas gostei da sua resenha, sempre aprecio elas por sua sinceridade e por saber apontar os pontos positivos e negativos. Eu sou tão emotiva na hora de resenhar que falo mais do que senti do que do livro..rsrsr....beijokas elis

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    1. Elis, certamente vai acontecer isso, mas lá pelo 50 você vai sentir o que disse, e isso é bem chato para oo leitor, e injusto com o livro, que é excelente até então. É uma pena.

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  3. O Blogger! Esta resenha era para sair na segunda-feira, como sempre, mas sabe-se lá a razão de ter sido publicada antes, mas enfim, sem problemas. Espero que gostem.

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  4. Só tenho lido resenhas positivas sobre esse livro, confesso que já nem estava acreditando mais nelas hahaha. Acho muito difícil que um mesmo livro agrade a todos. Gosto de ler sem grandes expectativas. Bom saber sua opinião! Boa semana!! Beijus,

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    1. Luma, pois é, muita gente tem gostado muito, eu era um deles, até acontecer o que acontece, rsrs. Mas o livro é bom no todo, quem conseguir não ligar para a mudança se dará bem com ele.

      Beijos.

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  5. Bom.. eu estava in love com ele, mais depois das duas ultimas resenhas que li sobre ele nao sei mais.

    beijos

    blanc - mododaeeu.blogspot.com

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  6. Eu não me lembro de ter lido alguma resenha a respeito desse livro, mas a sua está tão completa que acho que nem será necessário ler outra resenha para formular uma opinião. Adorei sua comparação com o transporte público quando se referiu à quebra do ritmo, não tinha pensado nessa analogia! Hahahaha adorei! E muito obrigada pela menção.

    Abraços

    Lu Tazinazzo
    http://aceitaumleite.blogspot.com.br

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    1. Lu, apesar de todos os pesares, o livro deve ser lido, talvez nem todos sintam a mudança como eu senti. Pode acontecer ;)

      Abraços.

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  7. Luciano,

    Imagina você, que nem é fã da narrativa em 1ª pessoa (como eu!), tendo que enfrentar essa mudança brusca... rs Triste.
    E confesso que tenho muito medo desses livros com capas bonitas... rs Estou ficando uma leitora paranóica.

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    1. Joelma, raramente me dou bem com livros em primeira pessoa - apesar de estar me educando para aceitá-los - mas o choque causado pela mudança atrapalha e muito o ritmo de leitura.

      Ah, a capa é linda, mas a contracapa é ainda mais ;)

      Abraços.

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  8. Não sei se é porque li muitas resenham falando bem do livro, mas acho pouco provável que seja fraco.
    Como você bem disse, há falhas. E isso pode acontecer em qualquer obra, principalmente em um livro longo.
    Não espero um Senhor dos anéis da vida, mas tenho muita expectativa para a leitura desta obra. Veremos!
    bjs

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  9. Oiii
    Quero muuito ler esse livro.Já tinha lido algumas resenhas dele antes, e desde a primeira delas que eu li, já estava loouca para lê-lo...Adorei a sua resenha, parabéns..
    Bjs
    http://shakedepalavras.blogspot.com.br

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  10. Bem,acho que vou me arriscar mesmo assim, como vc disse o livro não é ruim de todo e fiquei muito curiosa com o seu comentário a respeito do livro.
    É decepcionante qdo vc está lendo um livro e ele dá uma caida dessas, mas vamos ver quem sabe eu ganhe e volto prá contar o que achei.
    Obrigada e parabéns pelo blog.

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  11. Ainda não li o livro, mas já li várias resenhas e todas falam muito bem do livro. Sua resenha tá otima, eu gostei muito, parabéns!

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  12. É o estilo de leitura que gosto apesar de não ter lido nada de Lucinda Riley. Haverá empre algo a se opinar em um livro extenso e como não li ainda não tenho como avaliar. Pela sua avaliação já fiquei mais animada.
    Beijos

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  13. Só lendo o livro para dar uma opinião mais objetiva pois já li vários elogios nos blos sobre ele. Sou como São tomé :Só lendo para crer.


    Um leve bater de asas para todos!!!!

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  14. Gosto dos livros que vão e vem entre presente e passado. Interessante que tenha comentado sobre a velocidade na reta final, pois já vi que outras pessoas tiveram a mesma impressão.

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  15. Não gosto de autores que vão amontoando as coisas e depois costuram tudo pra não ter que jogar fora, tenho vontade de ler os livros dela, mas mudança de narrativa é uma coisa que eu também não gosto, só quando muda o narrador, aí é bacana, mudar a pessoa da narrativa não acho legal =/

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  16. Eu também sou fascinada por livros onde locais, no caso uma mansão, faz parte da história. Gostei do fato de a autora alternar fatos do passado com do presente, mas também não acredito que funcione numa narrativa em terceira pessoa de repente 'dar voz' a uma personagem em particular, passando para a primeira pessoa. De qualquer forma esse é um dos lançamentos desse ano que mais me chamou atenção e quero muito ler esse livro.

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  17. Oi!
    Esse livro me despertou uma leve curiosidade na primeira vez que vi, mas eu tenho um verdadeiro pavor de histórias que mudam de repente e parece que o autor (ou autora) desistiu e deu o livro para a tia terminar de escrever, sabe? É terrível! Então agora fiquei dividida!

    Abraço!

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    1. Concordo com vc, tudo se passa rápido demais como julia e kit se apaixonam de repente, o diário os acontecimentos da guerra sei lá não estou gostando não..

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    2. Concordo com vc, tudo se passa rápido demais como julia e kit se apaixonam de repente, o diário os acontecimentos da guerra sei lá não estou gostando não..

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  18. Este é um livro desejado, mas não tanto.

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  19. Poxa eu adoro quando tudo muda, gosto de surpresa, odeio caso arrastado sofrimento eterno e meleira em livros, por isso não tenho muita apciencia para romances, mas por este detalhe que te incomodou quero ler o livro já!

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  20. Que pena saber que muda assim eu sou das antigas gostro de tudo bem costurado, bem narrado, não arrastado, ams que seja leve e de uma leitura que te tire o folego, isso sim é boa leitura!

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  21. ja ouvi tanto e tantos elogios desse livro. E simplesmente o Kit dele é lindissimo (eu queroooooooooooo *=*).Histórias desse tipo me atraem bastante.
    http://garotoonerd.blogspot.com.br

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  22. Livros com muitas páginas me desanimam um pouco, mas pelos comentários positivos que já li e por essa resenha acho que vale a pena ler! =)

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  23. O titulo e a capa do livro não me chamaram muita atenção, mas já que ando lendo muitas resenhas positivas sobre ele, acho que leria. Gosto de todo livro que se é passado na segunda grande guerra. Por incrível que pareça, eu gosto da narrativa em primeira pessoa. Adoro livros gordinhos ^^

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  24. Amei o jeito como você analisou a resenha, me fez querer ler o livro! Vai que eu ganhe no sorteio, hein. :)

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  25. Estou doida para ler este livro, amei o enredo e a capa e achei a resenha ótima

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  26. Adorei á resnha e tö doidinha pra ler o livro,gosto de quando á historia muda derepente,dá um gostinho de quero m ias,bjs.

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  27. Olha, vi muitas resenhas positivas desse livro, a maioria falando tri bem , porém eu olhando para ele não tenho aquela vontade louca de ler, mas pelo visto mesmo não sendo assim tão maravilhoso é uma leitura boa e que vale a pena... Tomara que eu tenha a oportunidade :)

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  28. Não conheço a autora,na resenha gostei dessa ligação entre presente e passado,o mistério...

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  29. Já vi vários comentários sobre este livro, algumas boas, outras ruins e isso me deixou com uma enorme vontade de ler para que eu possa ter minha própria opinião! Amei a resenha, pelo visto você gostou né! (:

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  30. O livro é maravilhoso, leiam sem medo... E o sobrenome da família é Crawford... não Crawley...

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Oscar