18 de março de 2013

A Vez da Minha Vida, de Cecelia Ahern [Resenha #114]

A Vez da Minha Vida


Sinopse: Certo dia, quando Lucy Silchester volta do trabalho, há um envelope de ouro no tapete. E um convite dentro dele para se encontrar com a Vida. Sua vida. Pode soar peculiar, mas Lucy leu sobre isso em uma revista. De qualquer forma, ela não pode ir ao encontro: está muito ocupada desprezando seu emprego, fugindo de seus amigos e evitando sua família. Mas a vida de Lucy não é o que parece. Algumas das escolhas que fez — e histórias que contou — também não são o que parecem. Desde o momento em que ela conhece o homem que se apresenta como sua vida, suas meias-verdades são reveladas totalmente — a não ser que ela aprenda a dizer a verdade sobre o que realmente importa. Lucy Silchester tem um compromisso com sua vida — e ela terá de cumpri-lo.


Meu primeiro livro da Cecelia Ahern – a resenha de PS Eu Te Amo foi feita aqui pela Jaci – e me deixou em maus lençóis. Por um lado eu gostei dele, mas, por outro, não posso deixar de ficar pensando: então, é isso?

No livro, Lucy é uma mulher quase balzaquiana que de muitas formas não está satisfeita com sua própria vida: solteira, e com um relacionamento mal resolvido no currículo, um emprego que odeia mas que serve para pagar as contas, um apartamento minúsculo e uma relação complicada com sua família.

Mas o pior mesmo é que Lucy montou ao redor de si uma teia de mentiras que, grandes e pequenas, servem para blindá-la dos julgamentos do mundo exterior. É aquela velha história: contamos uma mentirinha aparentemente inocente aqui e logo ali nos pegamos tendo que justificá-la com outra mentira. Isso acontece. E, no caso de Lucy, ela foi criada em uma família onde se espera que se mantenha a compostura, e que se realize grandes feitos pessoais e profissionais: nada de ser demitido, de ficar bêbado, de chorar, e de, caso você seja cirurgião plástico, ganhar a vida implantando silicone.

Para não ser crucificada a cada reunião familiar ou com os amigos, Lucy vai se esquivando da verdade, até que recebe uma carta que pode mudar sua vida.

E a carta é da Vida dela.

Eu sei, não faz sentido e isso me incomodou durante o livro inteiro. Como assim uma carta de sua própria vida lhe “intimando” para, juntos, resolverem todos os problemas que a cerca? E que tipo de pessoa mentalmente sã se predisporia a aceitar se encontrar com um completo estranho que se apresenta como “sua vida” e conhece seus segredos mais sujos e vexatórios?, e ainda tem uma aparência horrível para representar que sua própria vida está em péssimas condições?

Bom, Lucy aceita, pois o livro tem que seguir.

Vida a acompanha em casa, no trabalho, e diz que a cada mentira que ela contar ele revela uma verdade em público. Isto serve de motivação para que ela venha a se tornar uma pessoa mais transparente em suas relações, e que possa se dedicar mais à sua vida.

Tirando a estranheza natural com relação à Vida, Cecelia Ahern construiu um bom texto. Ela é uma narradora competente, assim como o é enquanto criadora de personagens e cenários. O apartamento minúsculo de Lucy e seu emprego ganham vida com a escrita da autora,  e se tornam paisagens palpáveis na imaginação do leitor. E o mesmo ocorre com os personagens. Lucy é carismática e o leitor torce por ela mesmo em meio à confusão que seu personagem é no início do livro.

Claro que a narrativa em primeira pessoa, sob o ponto de vista de Lucy, ajuda nesta identificação. E o tom de bom humor mesmo durante os queixumes a torna mais agradável, mais fácil de aceitar, embora não tenha compreendido a Vida dela como um personagem.

Acho que a principal falha do livro é justamente com relação à Vida. Se uma pessoa me escrevesse insistentemente dizendo que tenho que cuidar da minha vida eu responderia com um “Helloooooooo! Então por que raios não cuida da sua, atrevido!” E isto pode ser um problema se se considerar que o livro gira em torno disso: Lucy lidando com sua Vida – e ela na forma de um sujeito às vezes bem desagradável. Mas daí temos que considerar que esta é uma obra de ficção, e que, em muitos casos, uma boa dose de “licença poética” faz muito bem.

E, por fim, me fica aquela sensação de “é isso?” que mencionei no começo da resenha. Apesar de bem escrito, o livro pareceu entregar pouco em comparação com as reações que a autora desperta nas redes sociais. Não entendi todo o frisson, a histeria, a ansiedade. É bom, sim, mas não é pra tanto. Em todo caso, pegaria algo mais dela para ler. Vai me entender.

 

A Vez da Minha Vida, de Cecelia Ahern (The Time of My Life,2011Tradução de Ronaldo Luís da Silva, 2012) – 384 páginas, ISBN 9788581630120, Editora Novo Conceito. [Comprar no Submarino]

{B+}

15 comentários:

  1. Hahahahahahaha juro que sempre que penso em uma sinopse tipo "vou te ajudar a ajeitar sua vida", penso em Jogos Mortais. Bizarro, não? Mas pensando friamente, é quase o mesmo princípio, assim, esse tipo de história quase me soa absurda. Pelo que entendi da sua resenha, talvez você curta o livro Eu Sou o Mensageiro, tem uma ideia meio parecida, mas tem umas passagens mais interessantes e bizarras, e bom, é do autor de A Menina que Roubava Livros. Acho que fica a dica hehehe

    Abração!

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    1. Lu, eu tenho uma curiosidade grande acerca do Marcus Zusak, já me disseram muitas coisas boas dele -e já li muitos elogios lá no aceita um Leite? também.

      O livro peca um pouco no argumento, mas a autora consegue construir personagens e enredo interessantes. No final dá liga, mas aquela estranheza não passa por completo.

      Abraço ;)

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  2. Depois de ler a resenha pensei: "Ora alguém disse a Cecelia o mesmo que eu!" Ou seja, que para o tipo de história que ela gosta de contar a narrativa em primeira pessoa torna a história mais aconchegante. shuashuas Sentiu como a pessoa é metida?!?! kkkk #VaidadeVaidadeVaidade

    A parte isso, a Cecelia é realmente uma competente contadora de histórias, clara, boa para construir cenários e situações inusitadas...

    E ela não faz sucesso só nas redes sociais, o livro que ganhei de você é um dos campeões de circulação da minha estante e por isso me tornei mais atenta ao que a Cecelia faz e até achei que poderia ser mais generosa com ela quando resenhei... Vivo emprestando P.S Eu te amo para minhas amigas não tão leitoras na faixa do "depois dos 25 antes dos 30" e elas gostam muito, refletem sobre si lendo o livro e talvez porque as suas protagonistas são politicamente incorretas, estão tentando se acerta e encontram um tipo de ajuda sobrenatural para isso seja o motivo da empatia... Tenho a impressão que nós que estamos vivendo um período de "Que vida de droga eu tenho vivido!" meio que sonhamos muito com o "e se isso acontecesse comigo...!

    Desconfio que nós tenhamos vontade que algo fora do comum venha a nos dar força para mudar o que precisamos mudar... Pura ilusão romântica.

    Adorei a resenha e concordo com suas conclusões sobre a autora, tenho a impressão que elas não divergem das minhas de forma geral. E sim, eu também voltaria a ler a Cecelia.

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    1. Ah, então, apesar de ela escrever bem eu não achei "tudo isso" que se dizia nas redes sociais. É bonito, bem trabalhado e executado. Como ferramenta de entretenimento é ainda melhor.

      Também acredito que possa ser por causa da identificação que você citou, pra mim este argumento faz todo o sentido do mundo.

      Mas, enfim, leria Cecelia novamente.

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  3. Li Ps Eu te amo e gostei muito. A Cecelia Ahern me impressionou muito com sua narrativa e como diz é uma excelente contadora de histórias.Li várias críticas quanto a a ter usado terceira pessoa nesse livro. Ainda não li A Vez da Minha Vida e confesso que estava empolgada, mas vejo que a história tem seus "senões". Agora não seria a Vida dela o seu eu pedindo um basta com suas mentiras? Acho que ela crio um mundo que depois de um tempo não cabia mais continuar alimentando uma farsa para ela mesma.

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  4. A sinopse me trouxe uma vontade imensa pela leitura, mas a sua resenha me desanimou um pouco hahahaha! Melhor assim, não espero tanto da leitura do modo como a propaganda toda tem me feito esperar.

    Beijos. Tudo Tem Refrão

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  5. A premissa parece ser bastante interessante, mas... Realmente, não faz muito sentido. Por isso que evito ao máximo criar expectativas quanto ao autor X ou Y: quase nunca esse tipo de coisa dá certo. {Ou tento não amar muito um autor, pelo menos não depois de minha irmã ter me dito que Palahniuk - sim, Palahniuk - só tem três ou quatro livros bons... :(}

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  6. Adorei a resenha, quero muito ler esse livro!!!

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  7. Não tenho lido muitas resenhas favoráveis desse livro, mas como nunca li nada da autora e segunda consta seus livros são sucesso de vendas, terei que ler e tirar a prova. Ansiosa para formar uma opinião à respeito.

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  8. Estes livros que trabalham as questões da vida de modo geral sempre terminam com essa sensação. Se a ideia é passar uma pessoa real, então tem que seguir o molde da vida, que nem sempre é trágico ou felizes para sempre.

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  9. Gosto de livros divertidos e personagens carismáticos e posso ver que com esse não será diferente. Amei a resenha e toda a história do livro. Me interessei por ele, principalmente por causa do título e da capa. São lindos.

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  10. adorei a resenha do livro! adorei a capa e o nome também, já me interessei muito, assim quer der vou comprar, haha

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  11. Oi realmente não têm como não gostar da escrita da Cecelia. Sou fã dela e sempre quando tenho tempo leio algum livro dela. Eu tenho esse livro e confesso que não gostei muito, comecei a ler o inicio e não estava entendo nada rsrsrs. Mas prometo que vou terminar.

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  12. Muito bom e vou amar reler.Principalmente depois de sua resenha,fiquei relembrando cenas que imagino no livro.Beijos.

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  13. Esse foi o primeiro livro da Cecilia que li e gostei do tom de humor que ela utiliza em sua narrativa, apesar da historia ser algo fora da realidade, me agradou muito...me diverti muito com as trabalhadas e mentiras de Lucy, e entendi a historia como uma lição, tipo, se vc não dá atenção a sua vida, não se importando com o que te acontece, ela com certeza terá uma aparência horrivel, tal qual a "Vida" da Lucy se apresentou a ela...muito boa sua resenha, bjão!

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Oscar