11 de novembro de 2013

O Dom – Witch & Wizard Livro 02, de James Patterson e Ned Rust [Resenha #150]

O Dom - Texto


Sinopse: Os irmãos Allgood nunca desistem de lutar contra os poderes autoritários e desumanos d’O Único Que É O Único, mas, agora, eles estão sem Margô — a jovem e atrevida revolucionária; sem Célia — o grande amor de Whit; e sem seus pais — que provavelmente estão mortos... Então, em uma tentativa de esquecer suas tristes lembranças e, ao mesmo tempo, continuar seu trabalho revolucionário, os irmãos vão parar em um concerto de rock organizado pela Resistência onde os caminhos de Wisty e de um jovem roqueiro vão se cruzar. Afinal, Wisty poderá encontrar algo que lhe ofereça alguma alegria em meio a tanta aflição, quem sabe o seu verdadeiro amor... Mas, quando se trata destes irmãos, nada costuma ser muito simples e tudo pode sofrer uma reviravolta grave, do tipo que pode comprometer suas vidas. Enquanto passam por perdas e ganhos, O Único Que É O Único continua fazendo uso de todos os seus poderes, inclusive do poder do gelo e da neve, para conquistar o dom de Wisty... Ou para, finalmente, matá-la.


É complicado falar sobre o segundo volume de uma série: se você fala como os personagens chegaram até ali, pode contar um fato importante do livro anterior, da mesma forma como, se fala sobre para onde o atual livro os levou, pode acabar revelando mais do que deve sobre um futuro volume. O mais simples, então, acho eu, é fazer uma comparação entre eles: o que o volume anterior me entregou, e o que esperava deste.

Bom, no volume anterior conhecemos os irmãos Whit e Wisty, que são levados de casa no meio da noite por um governo repressor chamado de “Nova Ordem”, comandado por um sujeito misterioso e temido – como deve ser em toda distopia que se preze – O Único Que É O Único, sob a acusação de bruxaria. Antes de deixarem o lar, seus pais lhe entregam dois objetos: um livro em branco para Whit, e uma baqueta para Wisty.

Tirando o fato de achar muito estranho uma polícia repressora permitir que seus prisioneiros levem consigo algum souvenir, dei crédito ao livro e segui na leitura. Faço parte do time que, no geral, gostou do primeiro volume e tinha interesse em seguir acompanhando a série, torcendo para que os pontos fracos do primeiro livro fossem corrigidos. Aqui começam os problemas.

Enquanto o livro um da série foi escrito por Patterson em parceria com a Gabrielle Charbonnet, neste ele teve como parceiro o Ned Rust. À princípio, não vejo nenhum drama nisso, talvez ele também – Patterson, o chefão – tenha sentido alguns problemas na condução da história e tenha decidido mudar seu parceiro de escrita na tentativa de corrigi-los. OU ele tenha programado a série para ser escrita desta forma: cada co-autor escrevendo um volume... Mas eu me pergunto se não seria melhor dar novas diretrizes à Charbonnet, guiando-a rumo ao ponto que ele gostaria de chegar. Se fosse eu apostaria nisso, mas o que acontece é que a historia é de Patterson, não dela, então talvez ele tenha sentido que seria mais simples agir assim – ou de acordo com os planos.

Só fazendo um parêntese, isso mostra um problema no Pattersonismo – tá aqui eu tentando fazer piada com fordismo, taylorismo e afins, não deu, eu sei! – o modo como ele funciona. Como pode ser visto nesta matéria da revista Alfa, o sistema de escrita à quatro mãos do autor é organizado da seguinte forma: ele cria o básico, sinopse, personagens, características, de onde são e onde devem chegar, começa a escrever e envia ao parceiro, que conclui o livro tomando por bússola o que ele quer, e lhe devolve o trabalho terminado. Após isso, conversam entre si, o manuscrito vai e volta até que ele considere que está no ponto, e o manda para o forno.

Meus questionamentos partem do pressuposto de que, mesmo não tendo Gabrielle criado os personagens, não há como ela ter escrito o livro sem ter se envolvido com eles e deixado ali sua marca pessoal. Por mais que Patterson seja o mestre do tabuleiro, os peões podem não reagir integralmente da forma como ele quer. Assim, trocar de parceiro – e eu não tenho a mínima ideia dos motivos que o levaram a fazê-lo, é tudo especulação – me causou um estranhamento no texto que tive dificuldade de superar.

E, ainda, ao fazer isso, ele deixa um tanto mais claro o quanto de “linha de produção” sua escrita tem.

Os capítulos curtos de que tanto gostei no livro anterior não funcionam mais tão bem. Atribuo a Ned Rust uma pressa sem tamanho, tudo ficou muito corrido, nada muito fundamentado, e me perdi várias vezes tamanho o estranhamento que senti entre o ritmo do primeiro volume e esse. Mas o maior problema ainda é o fator “idade mental dos protagonistas”.

O  que mais me incomodou no livro anterior foi o fato de os personagens agirem de forma extremamente infantil frente à perigos reais. Neste volume, numa tentativa de deixar suas atitudes mais condizentes com a idade e papel de salvadores, fizeram de Wisty uma adolescente superpoderosa matando cachorro a grito: todo mundo olha para seu irmão com segundas intenções, assim como todo mudo que a abraça o faz por um milésimo de segundo a mais que o recomendado. Qual a necessidade disso? O esquema aqui deveria ter sido o “segura na mão da distopia e vai, de preferência sem olhar para os lados”.

Muitas coisas continuam mal explicadas mas eu torço para que seja por uma boa razão: um bom volume final, amarrando tudo. E, sim, essa é minha versão otimista. E, ainda, sinto que fui um pouco cruel com o livro: ele não é ruim que dói, muitos leitores gostarão do que encontrarão e vão ficar ansiosos pelo próximo título da série. Meu problema com o livro se deve ao fato de que, tendo gostado do anterior, esperava que neste se corrigissem os problemas daquele, mas, na melhor das hipóteses, eles foram maquiados.

Existem tantos bons títulos de distopia no mercado que uma série não consegue sobreviver sendo apenas o.k. Não dá, mesmo que tenha na capa a grife de um autor que vende horrores. Apesar de algumas boas surpresas e ganchos que mantém o leitor de orelha em pé, a série precisa melhorar, e rápido!

 


+da série: Bruxos e Bruxas – Witch & Wizard Livro 01

 

O Dom - Witch & Wizard Livro 02, de James Patterson e Ned Rust (The Gift - Witch & Wizard, 2010Tradução de Lígia Mendes Ramos, 2013) – 288 páginas, ISBN 9788581632810, Editora Novo Conceito. [Comprar no Submarino]

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6 comentários:

  1. Eu sou muito adepta do "qualidade antes da quantidade", e me fica muito claro que o objetivo do Patterson é ganhar dinheiro, ponto. Tudo bem escrever com parceiros, mas poxa vida, custa escrever UM livro pelo menos, do jeito tradicional??? Dan Brown está aí para provar que você não precisa de 95 livros diferentes para ser um grande autor e ainda assim, comercial. Eu acho as obras do Patterson muito rasas, se ele aplicasse todo o esforço da manufatura numa boa história, ele teria muito mais o meu respeito. Não pretendo ler mais nada do autor.

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  2. James Patterson era um nome que não me dizia nada, agora ele é sinônimo de picaretagem literária lindamente! Mas não me surpreende essa resenha, desde que vi essa série senti o cheirinho acre de picaretagem e parece que foi isso mesmo que aconteceu.

    Enfim, eu adoro uma boa porcaria literária, mas até isso tem que ter alguma honestidade, o leitor tem que saber onde tá botando os olhos, não gosto quando um livro tenta me enganar me levando a pensar que ele é algo que não é, senti isso em relação a esse Patterson.

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  3. Luciano,
    Até me assustei somente com um C....pra mim essa leitura rendeu um F....se pudesse até um T..sahsuahu...e teria de ser um -T ainda, olha eu nem acredito que li esse livro, concordo com você em todos os pontos contra...tive um ou dois pontos bons, mas olha se o James criar esses livros a 4 mãos assim, acho melhor ele mudar urgentemente para ontem e ontem...não sei não para eu ler o terceiro volume só se eu ler uma resenha de alguém de confiança que tenha gostado muito.....fiquei com a impressão de tudo passar num borrão e realmente quanta infantilidade...mesmo gostando da maneira de aumentar o poder e de umas tiradas irônicas da Wist eu não aprovei a leitura e nem recomendo pra ninguém....kkk...dei somente um conselho para caso tenham amado muito o primeiro que leiam esse e tirem suas próprias conclusões, mas pra falar a verdade eu ainda não vi ninguém elogiando e se eu ver ficarei com o pé atrás...shaushua.....beijoaks elis!!!!
    http://amagiareal.blogspot.com.br/2013/11/novidades-modo-editora.html

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  4. gostei muito do primeiro e tenho ser tesa que vou gostar desse
    ja estou seguindo
    livro-azul.blogspot.com.br

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  5. Ainda não li o primeiro e, graças a sua resenha, consegui entender melhor do que se tratam os dois livros. Posso garantir que agora estou muito mais interessado (Eu já era, por causa das capas) e pretendo, muito em breve, ter os dois na minha estante.
    A resenha ficou ótima, adorei também a sua escrita.

    Primeira vez aqui e te convido a conhecer o nosso novo espaço. Abraços
    http://booksdeluxe.blogspot.com.br/ - Ítalo (Léo)

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  6. Oi, Luciano!
    Li o primeiro e achei a leitura bem fácil. Talvez por isso mesmo os personagens sejam infantis... o leitor não precisa pensar em nada enquanto lê.
    Acho muito esquisito o modo de produção desses livros. James Patterson está agindo como se fosse o gerente de uma linha de produção. Talvez ele esteja dando a chance para novos escritores e faça dos livros uma "oficina".
    Desanimei de ler os livros dele... :(
    Bom fim de semana!!
    Beijus,

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