14 de abril de 2014

Operação Cavalo de Troia 1 – Jerusalém, de J.J. Benítez [Resenha #167]

Operação Cavalo de Troia Jerusalém - Texto


Sinopse: Relato de um militar e cientista norte-americano que, como integrante de um projeto batizado pela NASA de Operação Cavalo de Tróia , participou de uma experiência que lhe permitiu voltar quase dois mil anos no tempo e ser testemunha ocular da vida de Jesus Cristo.


Ok. Pensei muito antes de resenhar este livro por acreditar que, inevitavelmente, questões religiosas teriam de ser abordadas e este não é o caminho que alguma vez pretendi tomar com o blog. Em duas ou três ocasiões já falei – ou mencionei de leve – religião em minhas resenhas, mas sempre de forma a não julgar, desmerecer, ou validar uma como melhor alternativa a qualquer outra.

Por outro lado, a série me trouxe momentos tão bons – já havia lido os volumes um, “Jerusalém”; o três, “Saidan”; o quatro, “Nazareth”; e o cinco, “Cesarea”; e agora resolvi reler todos para enfim terminar com a série, que vai até o nono volume – que achei injusto que não compartilhasse minhas experiências com ela em forma de resenha. Eu sei que vou mexer em um vespeiro, só não sei ainda o tamanho. Então, #MeJulguem

Meu primeiro contato com a série se deu há quase dez anos, quando alguém fez uma doação para a biblioteca da escola onde estudei dos volumes “Saidan”, “Nazareth” e “Cesarea”. Com os livros nas mãos, fiquei intrigado com a sinopse, havia ali, mais até que religiosidade, questões que em atraíram por ser eu o fã de ficção científica que naquela época já era. Depois de uma rápida pesquisa, meu irmão conseguiu na faculdade o volume “Jerusalém”, e pude então ler.

Agora, decidi recomeçar, partir do zero, e ler no espaço de tempo mais curto que conseguir – são nove livros – e não acho que será um trabalho tão grande assim. Benítez escreve bem. Muito bem.

Mas, antes de começar a desenvolver a resenha, acho justo responder a três perguntas que podem facilitar a quem ler que entenda minhas razões e o que nela falo:

Se eu acredito na figura histórica de Jesus? Sim.
Se eu acredito em Jesus como o filho de Deus? Sim.
Se eu acredito na série “Operação Cavalo de Troia” como algo mais que ficção? Não.

Estamos conversados? Então, prosseguindo.

Neste primeiro livro, acompanhamos Benítez até o México, onde uma figura misteriosa fez contato com ele dizendo que havia algo que talvez interessaria ao escritor, já na época um renomado pesquisador de fenômenos paranormais, ufológicos e religiosos. Mas, para ter acesso a tais informações, eles tem de se encontrar pessoalmente. Contato feito, pouco depois Benítez parte para os Estados Unidos, onde tem algumas pistas do local onde as informações estão guardadas, e ali ele percebe o quão importantes são, já que agentes americanos ficam no seu encalço, decididos, ele acredita, a não deixar que saia do país de posse destas informações.

Já aqui Benítez dá mostras do quão talentoso ele é como narrador e quão dono do ritmo do texto demonstra ser. Já nos primeiros capítulos, ele mescla a apreensão e ansiedade de se ele conseguirá ou não encontrar os documentos, com momentos de ação em seu desespero de manter a salvo aquilo que encontra, e humor por seu azar perene. Para sua surpresa e do leitor, o que vê ali é algo inimaginável, então, de volta a Espanha, transcreve o conteúdo dos documentos escritos por seu contato no México. Este é o primeiro livro.

O conteúdo encontrado por Benítez nos Estados Unidos é parte de um relato de uma operação supersecreta das forças armadas norte-americanas, que conseguira descobrir um meio de manipular o tempo através de complicados princípios de física quântica, tornando possível a viagem temporal. Após muito estudo e pesquisa, decidem que a primeira parada da expedição é a Jerusalém da época de Cristo, devendo os dois militares que nelas partissem tomar conhecimento dos fatos que aconteceram e que – se não me falha a memória – vão da triunfal entrada de Cristo em Jerusalém, até a crucificação; sem contudo, tomarem qualquer atitude que possa alterar o fatos.

Faziam parte da etapa prática da missão duas pessoas, um piloto, chamado de Eliseu, e o Major, que entregara a Benítez seu relato da missão, e que nela era chamado de Jasão, ambos já situados no que diz respeito aos costumes da época, vestidos como as pessoas se vestiam, e fluentes em idiomas como o grego e o aramaico. Enquanto Eliseu permanece no módulo que os transportara, Jasão deveria seguir em busca de acompanhar os atos de Jesus e dos apóstolos, tendo como primeiro objetivo encontrar a residência de Lázaro, o amigo que Jesus trouxera de volta dos mortos, e onde, com o beneficio dos relatos evangélicos, o controle da missão já sabia que o próprio Cristo estaria dentro de pouco tempo. Não há dificuldades em encontrá-la, todos sabiam acerca da ressurreição, Jasão é bem recebido e ali aguarda pela chegada de Jesus. Seu primeiro contato com aquele que ora chama de Mestre, ora de Galileu e Gigante, é um dos momentos mais ternos da narrativa do primeiro volume, assim como a conversa abaixo:

 

— Jasão, amigo, que se passa contigo? [disse Jesus]

Aquela descoberta voltou a mergulhar-me em confusão. O Mestre, sem sequer me olhar e sem esperar por uma resposta — que tipo de resposta lhe poderia dar? — continuou, num tom de cumplicidade que logo adivinhei.

—... Estás aqui para dar testemunho e não deves desfalecer.

— Então sabes quem sou...

Jesus sorriu, e pondo-me o seu comprido braço nos ombros, apontou a porta do jardim, onde ainda os seus discípulos montavam guarda.

— Passará muito tempo até que eles e as gerações vindouras compreendam quem sou e porque fui enviado por Meu Pai... Tu, por vires de onde vens, estás mais perto do que eles da Verdade.

 

Sem querer fazer resumo dos fatos, Jasão faz contato com Jesus e seus apóstolos, acompanha de perto os fatos daquela semana, graças a hospitalidade do povo judeu, e ficamos sabendo de tudo através de seu relato. Não é sobre isso que quero falar.

O ponto aqui é aplaudir o trabalho de pesquisa de Benítez. Todo o livro é recheado de notas de rodapé que nos situam sobre todos os aspectos possíveis referentes à sociedade israelense da época e perante as quais inevitavelmente Jasão irá se confrontar, como medidas de peso, distância, área, volume, costumes sociais, palavras, rituais, comidas, enfim, tudo é muito bem explicado nessas notas e não nos deixam flutuando na narrativa. Assim como a construção histórica e a descrição dos ambientes. A Jerusalém vista pelos olhos de Jasão nos é descrita em pormenores, e não só aspectos arquitetônicos, mas também sociais, e culturais, e isso contribui muito para a experiência que se tem com o livro.

Tenho um conhecimento bíblico bastante limitado, mas há  um consenso no que diz respeito que a narrativa de Benítez difere bastante da tradição cristã, e no livro vemos passagens importantes, como a entrada no Templo, a audiência com Pilatos, a Via Crúcis. Um exemplo é o fato de, segundo a série, os apóstolos portarem armas e terem um perfil psicológico mais explosivo, além de não entenderem completamente o que lhes diz seu Mestre, acabando sempre por ficarem alheios ao sentido da mensagem que o Galileu gostaria de passar.

De toda forma, acredito que o livro é muito melhor aproveitado quando encarado como obra de ficção. E ponto. Fazendo isso o leitor tem a chance de se libertar de preconceitos e ideias preestabelecidas, podendo absorver melhor o que é narrado. O que não é tão fácil. Apesar de ter tomado esse caminho, não pude deixar de me emocionar uma porção de vezes, de não sentir uma ternura enorme pela figura de Jesus – que é, até certo ponto, o Jesus como eu o imagino: olhar penetrante, sorriso largo, abraço afetuoso – e de não sofrer com ele e os seus durante seu martírio.

No fim, recomendo a leitura. E não somente aos que creem. É literatura de primeira grandeza, bem estruturada, bem narrada, e ainda embasada em fatos que moldaram o mundo como ele é. Ninguém tem que terminar a leitura e acreditar que tudo ali fora real. Ao contrário. E, para quem gosta de narrativas históricas, é um prato cheio.


(…) que é o Amor?
— Dar.
— Dar? Mas o quê?
— Dar. Desde um olhar até à tua vida.

 

Nem falei tanto de religião quanto imaginava que o faria. Melhor assim!

Operação Cavalo de Troia - Jerusalém, de J. J. Benítez (Caballo de Tróya 1 – Jerusalén, 1984 Tradução de Hermínio Trica, 2008) – 619 páginas, ISBN 9788576653738, Editora Planeta.

{B+}

16 comentários:

  1. A proposta é, com certeza, ousada. Acho que a leitura já vale só para ver como o autor lida com seu enredo. Eu mesma me considero agnóstica, mas gosto de algumas mitologias religiosas, acho que a religião é a história de ficção mais bem trabalhada, afinal, foi contada por diversos "autores" ao longo dos séculos. Enfim, é uma discussão que não cabe aqui, mas achei a resenha muito pertinente!

    Abraços!

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    1. Eu reconheço que a religião é um bálsamo, nunca pedi provas mas já aconteceu um fato comigo que me deu uma confirmação, mas também acho que não cabe aqui. Agora, fugindo do aspecto crer ou não, o livro - e a série como um todo - vale como obra ficcional, e é muito bem escrita.

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  2. Olha, vou dizer o que eu achei.
    Quando eu li a resenha fiquei bem interessada, parecia uma história super bacana, maas.. eu li a introdução e tipo: "espera, não é ficção? O autor quer me convencer que isso é sério? Aff!" para piorar a introdução fala muito mal da igreja católica, como se a igreja tivesse tentado de tudo para impedir o livro e não sei o quê... enfim desanimei.

    Como uma tia minha tinha lido e amado, resolvi tentar mesmo assim, acho que até tentei demais, desisti na página 208. Detestei o livro, especialmente porque foi muito em conflito com o que eu acredito... enfim... para mim não deu.

    É realmente uma série bem polemica, tem gente que ama e gente que odeia rs, parabéns pela coragem de falar dela no blog, o negócio é dar a cara a tapa mesmo, se todos pensassem do mesmo modo, não teria porque haver tantos de nós.

    ;*

    http://espeloteadaepatricinha.blogspot.com.br/

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    1. Olha, por isso que disse que se deve ler de peito aberto, considerando tudo uma ficção, assim fica mais fácil tolerar os ataques. Obrigado pelo comentário.

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  3. Poxa!!! Eu não daria muita coisa por esse livro a principio. Ele tem cheiro de suspense e romance policial, mas sei lá... Eu sou cristã, também imagino Jesus assim como você e poxa, deu vontade de ler!!!

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    1. Pandora, a série é grande - 9 livros! - mas vale a pena ler. Claro que a gente sente alguns golpes durante a narrativa, mas, como obra de ficção, compensa.

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  4. Oi, Luciano!
    Para ler nove livros de uma mesma história, o autor deve ser muito bom! Sabendo que é uma ficção, não dá para levar à sério as questões religiosas, mas há quem seja radical e não goste do assunto por tê-lo como sagrado. O fato do autor afirmar que Deus não exige templos e nem rituais, já me ganhou.
    Se você gosta desse tipo de leitura, indico a leitura do livro de Urântia.
    Boa semana!!
    Beijus,

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    1. Luma, dá primeira vez li até o quatro, mas pulei o dois, agora estou recomeçando, eu gosto bastante da forma como o autor desenvolve a narrativa, espero conseguir ler todos desta vez. Então, eu tento levar a série sem muitos preconceitos, mas às vezes a gente sente o golpe, rsrsr.

      Vou anotar a dica de livro ;) Beijos.

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  5. Nossa!!! Que resenhão!!! MelDels!!

    Mas ficou incrível. Não sei se eu leria agora, mas acho que posso mudar de ideia daqui uns dias, rs. Sou assim fazer o quê?!

    Enfim, mais uma que adorei ♥

    Bjkas

    Lelê - http://topensandoemler.blogspot.com.br/

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  6. Que maravilha, nunca imaginei que existiam livros assim como esse. Adorei a sua resenha e achei que você nem discutiu tanta religião assim. Achei super interessante você mostrar o seu ponto de vista e assim eliminar grande parte do mimimi que poderia existir. Mais um livro para a minha lista de compras. Bjoks da Gica.

    umaleitoraaquariana.blogspot.com
    @GicaTeles

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  7. Não me pegou! Sei lá... não sou fã destas questões religiosas e acredito que este livro não me prenderia a atenção exatamente porque sempre o veria com minha cara de "não gosto de temas religiosos" e etc.

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  8. Não li nenhum da série ainda. Foi a primeira vez que li algo a respeito e fiquei agradavelmente satisfeita pelo livro ter um tema tão bom. Realmente temas que abrangem religião é algo difícil de se falar. Mais pelo jeito valeu. Pois você conseguiu me deixar curiosa a respeito. Vou tentar ler a série e ver se gosto também. Beijos.

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  9. Um tipo de livro que eu não gostaria de ler, não curto esse coisa de misturar ficção com religião

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  10. O orgulho ainda atrapalha muito quando o assunto é religião.

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Oscar