26 de maio de 2014

Graffiti Moon, de Cath Crowley [Resenha #172]

Graffiti Moon - Texto


Sinopse: Uma aventura emocionante e perigosa como um grafite clandestino. Uma noite de arte e poesia, humor e autodescoberta, expectativa e risco e, quem sabe, amor verdadeiro. Um artista, uma sonhadora, uma noite, um significado. O que mais importa? O ano letivo acabou, aliás, o último ano do ensino médio. Lucy planejou a maneira perfeita de comemorar: essa noite, finalmente, ela encontrará o Sombra, o genial e misterioso grafiteiro, cujo fantástico trabalho se encontra espalhado por toda a cidade. Ele está de spray na mão, escondido em algum lugar, espalhando cor, desenhando pássaros e o azul do céu na noite. E Lucy sabe que um artista como o Sombra é alguém por quem ela pode se apaixonar — se apaixonar de verdade. A última pessoa com quem Lucy quer passar essa noite é o Ed, o cara que ela tem tentado evitar desde que deu um soco no nariz dele no encontro mais estranho de sua vida. Mas quando Ed conta para Lucy que sabe onde achar o Sombra, os dois de repente se juntam numa busca frenética aos lugares onde sua arte, repleta de tristeza e fuga, reverbera nos muros da cidade. Mas Lucy não consegue ver o que está bem diante dos seus olhos.


Depois de semanas difíceis, só mesmo um livro muito bom para fazer com que o leia de um impulso só. Graffiti Moon é desse tipo de livro, e agora tenho a difícil missão de falar sobre ele. É aquela velha história: é muito difícil falar sobre algo de que você gostou tanto. Vou tentar.

Em Graffiti Moon, conhecemos Lucy, uma garota que acabara de se formar e que, ao lado de sua melhor amiga, Jazz, e Daisy, resolvem sair para comemorar. A noite perfeita depois de muitos anos de escola, que marcaria a transição entre a vida de colegial e o ingresso na faculdade. Eles se juntam  a Dylan, que namora Daisy, e seus dois amigos, Leo e Ed. A ideia não agrada muito a Lucy, que tivera um encontro traumático com Ed anos antes, mas eles garantem que conhecem o Sombra, um misterioso grafiteiro que espalha suas obras pela cidade, e que Lucy quer muito conhecer. Decidem então partir noite afora visitando as obras do Sombra, para, quem sabe, se encontrarem com ele.

O livro começa despretensioso mas ganha exponencialmente o interesse do leitor com o decorrer da história. Fica claro logo no início que existem uma ou duas cartas marcadas, mas a autora não esconde isso nem se intimida, e ela altera toda a lógica do suspense e dos finais grandiosos ao usar isso ao seu favor. O leitor durante todo o tempo enxerga todo o quadro que Lucy e suas amigas veem só uma parte. Resta a ele então torcer, e isso não é nem um pouco monótono, assim como não o é o fato de toda ação do livro se passar em uma noite.

Gostei muito da narrativa seguir uma onda “sensorial”. Enquanto os personagens vão conversando entre si ou tecendo monólogos, o andamento da narrativa é definido pelos sentimentos que o assunto sobre o qual estão falando causam neles, assim não seguem uma linha pré-determinada, preponderantemente cronológica, mas bastante sentimental, o que aproxima muito de como se dão as conversações no mundo real. Em um livro que fala sobre personagens que gostam de arte e a tratam com respeito, isso ganha uma cor diferenciada. O fato de se alternar os capítulos entre os personagens dá uma agilidade enorme ao texto, além do tão bem vindo conhecimento dos dois lados da moeda.

A autora, Cath Crowley, tem todos os méritos do mundo por fazer de seus personagens tão palpáveis. Eles são adolescentes que falam de arte com paixão, e não soam forçados, mas tampouco são perfeitos. Lucy, a protagonista, quer ser uma artista e tem como imagem de homem ideal a figura de um grafiteiro conhecido como Sombra, em cuja obra, ela acredita, se viu representada. Jazz, sua melhor amiga, é uma aspirante a atriz com a intuição superdesenvolvida que ganha um dinheiro trabalhando como vidente. Ed abandonou a escola para ajudar sua mãe, que conta os centavos para fechar as despesas no fim do mês, mas na verdade se sente incomodado e diminuído por ter problemas com a leitura – acredito que ele seja disléxico – e está disposto a se arriscar para salvar a pele de seu melhor amigo, Lou. Eles são adolescentes normais, tem sonhos, dúvidas, e não se parecem com personagens de comercial de margarina que sempre me irritam tanto.

Apesar de ter poucas páginas, são menos de duzentos e cinquenta, o livro não é curto, ele tem tudo de que precisa. É maravilhoso “ouvir” jovens que falam de arte não de maneira técnica, mas traduzindo em palavras os sentimentos que ela lhes provoca, tornando sólidas as partículas do que sentem, que é mais ou menos o que acontece quando você se lembra de um livro ou filme ou música e se sente emocionado com aquela memória – no meu caso, e mais recentemente, Lost, Quando Tudo Volta, e Dour Percentage, do of Montreal. De certa forma que para mim faz todo o sentido, isso os legitima, faz com que sejam reais todas as qualidades e defeitos que a autora lhes atribuiu.

Pensando em uma maneira de definí-lo, o que me vem logo a cabeça é que o livro é desesperançado sem ser, mas isso não é definitivo. É um pouco como a nossa vida, dependendo da forma e do momento em que pensamos nela. E ele é tão válido de ser lido quanto a vida é de ser vivida.

 

Graffiti Moon, de Cath Crowley (Graffiti Moon, 2010 Tradução de Marina Slade, 2014) – 240 páginas, ISBN 9788565859226, Editora Valentina. [Comprar no Submarino]

{A+}

17 comentários:

  1. Eu acordei meio melancólica hoje... a sua reflexão final me pegou de jeito Luciano... E a crônica literária me fez acrescentar Graffiti Moon a enorme lista de livros que você indicou e eu vou ler, mais cedo ou mais tarde...

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    1. Leia! É muito bom, eu gostei muito mesmo. Eu estava um pouco melancólico quando escrevi a resenha, acho que isso refletiu um pouco nela.

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  2. Só a capa do livro já me deixou bastante impressionada, mas sua resenha foi determinante! Agora eu preciso desse livro - mais um, ó céus! Eu gosto de livros que tem essa proposta e narrativas não tão óbvias, acho que o mundo adolescente precisa ser melhor explorado, então quando um livro o faz, a leitura é obrigatória.

    Abraços!

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    1. Exato! Eu não aguento mais romances centrados em adolescentes estereotipados num grau absurdo. A Cath Crowley soube fugir disso, ela acertou muito ao narrar as impressões dos personagens acerca de arte, e manteve junto de si um livro digno. Vale muito a pena ler!

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  3. Lu, que amor!!!!!!!!!
    Eu vou começar uma maratona literária, portanto lerei sem pausa e sem respirar, rs. Escolhi este livro para ser o próximo depois do fim da maratona.
    Acho que fiz bem!!
    Depois de uma pauleira eu gosto de ter um livro pra relaxar e respirar, mergulhar bem na leitura. E este me chamou a atenção logo na sinopse.
    Agora lendo a resenha é que tive muita certeza que será incrível!!!

    Bjks

    Lelê - http://topensandoemler.blogspot.com.br/

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    1. Lele, leia que o livro é muito bom, eu gostei muito!! Ele é um livro de leitura não diria fácil, mas recompensadora, vale muito a pena.

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  4. Conheci esse livro ontem, quando o vendedor da Saraiva disse que era da mesma autora de Passarinha. ¬¬ Fala sério!
    A capa é meio melancólica, e a sinopse me pareceu meio clichê. Mas sua resenha me animou um pouco, se eu tiver a oportunidade de ler não vou deixá-la escapar.
    Beijinhos!
    Giulia - Prazer, me chamo Livro

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    1. Hahaha, acho que ele quis dizer editora!!! Olha, o livro é muito bom, vale a pena ler :)

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  5. Oi, Lu!
    Na última viagem que fiz, baixei vários livros e um deles foi Graffiti Moon. Ainda não tinha lido nenhuma resenha, mas sigo o blogue da autora - ela parou de postar ano passado, mas antes disso postou um booktrailer desse livro. Quando o li foi a mesma sensação que tive quando li "You Against Me" de Jenny Downham. O livro em si é uma obra de arte, divertido, profundo e bem escrito. Quase li em uma sentada, o que não foi possível por estar viajando.
    Bom fim de semana! Boas leituras!!
    Beijus,

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    1. Luma, eu gostei muito do livro, mas muito mesmo!, é muito sensorial a experiência de leitura com ele, fiquei impressionado.

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  6. O seu último parágrafo me deu aquele frio no estômago.... nunca li ninguém com uma descrição parecida sobre um livro.
    Acredito então que a leitura deve ser absolutamente deliciosa e me entregarei a ela sem reservas.

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    1. Fabíola, leia, espero que goste, o livro é muito bem escrito!

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  7. Ainda nao tive a oportunidade de ler nenhum livro dessa autora para conhecer sua narrativa, mas gostei da maneira que ele desenvolve a trama desse livro. Parece ser uma boa, espero futuramente pode lelo.

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    1. Jessica, ela escreve muito bem mesmo, e desenvolve a narrativa de uma forma muito competente. Espero que goste!

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  8. A capa é de chamar bastante atenção. Adoro graffitis e este livro já me conquistou. vou dar uma chance a ele, só porque você me deixou curiosa a respeito. Espero gostar também. Beijocas.

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    1. Beth, quem tem um pé nas artes sai na frente na leitura desse livro. Vale a pena ler!

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  9. Pela resenha parece bem sentimental... no momento procuro livros de aventuras e fantasia... quem sabe futuramente eu leia

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Oscar