16 de outubro de 2014

A Evolução de Calpúrnia Tate, de Jacqueline Kelly [Resenha #191] + Promoção

A Evolução de Calpúrnia Tate - Texto


Sinopse: Calpúrnia Virginia Tate tem 11 anos em 1899, quando pergunta o porquê de os gafanhotos amarelos em seu quintal serem tão maiores do que os verdes... Com uma pequena ajuda de seu notoriamente mal-humorado avô, um ávido naturalista, ela descobre que os gafanhotos verdes são mais fáceis de ser vistos contra a grama amarela e, por isso, são mortos antes que possam ficar maiores. Por gostar de explorar a natureza ao seu redor, Callie acaba criando um relacionamento próximo com seu avô enquanto enfrenta os desafios de viver com seis irmãos e se depara com as dificuldades de ser uma garota na virada do século. Em seu livro de estreia, Jacqueline Kelly habilmente traz Callie e sua família para a vida, capturando o crescimento de uma jovem com sensibilidade e humor.


Poucas vezes encontramos um livro cuja leitura seja plenamente prazerosa. Mas, quando isso acontece, temos em mãos uma experiência única. Foi mais ou menos assim que me senti com relação ao “A Evolução de Calpúrnia Tate”.

No livro somos apresentados ao ambiente familiar de Calpúrnia, única menina em um conjunto de sete irmãos, sendo exatamente a filha do meio, com três irmãos mais velhos, e três mais novos. Seu avô, Capitão Tate, é um veterano de guerra que conseguira prosperar com uma beneficiadora de algodão, dando à sua família uma boa condição de vida, e o que permitira com que se recolhesse mais cedo, deixando os negócios nas mãos do único filho e passando a se dedicar à sua verdadeira paixão: a ciência e a investigação da natureza.

No começo Callie vê o avô como alguém excêntrico, mal humorado e não muito interessado na família, tanto que ela duvida que ele sequer saiba seu nome, mas conforme vai crescendo nela o interesse pela natureza ao seu redor e seus mistérios, essa barreira vai sendo derrubada, e ela inesperadamente encontra no avô um grande incentivador do pensamento científico, um verdadeiro adepto das ideias escandalosas de Darwin bem ali sob seu teto.

Eu não gostava nada de biologia na escola, então fiquei um tanto apreensivo com o quanto de ciência e afins encontraria durante a leitura e o quanto isso me faria perder o foco. Bom, o livro é bem mais sobre relações familiares, sobre a descoberta do mundo por Calpúrnia que sobre descrever filos e reinos e etecetera, então vemos nomes científicos sendo ditos esparsamente durante o texto que em nada atrapalham à narrativa. O que chamam a atenção mesmo são os questionamentos que a garota faz do alto de seus onze anos, nenhum deles gratuitos, todos potencialmente escandalosos para a época.

Calpúrnia é uma revolucionária. Em pleno século XIX ela questiona as utilidade de se aprender a tocar piano, cerzir, cozinhar, tricotar, e, num grau mais profundo, de ser “apresentada à sociedade” quando tiver uma idade adequada para tanto. O que os que estão à sua volta não entendem que ela vê questões muito mais práticas e importantes a se conhecer no mundo lá fora do que se preparando para ser uma boa esposa. E o fato de ser filha única só faz com que sua mãe tenha ainda mais expectativas sobre ela.

Um outro ponto que me agradou muito foi a ambientação. A propriedade da família Tate ganha vida nas palavras de Calpúrnia, e essa vida fervilha numa intensidade cada vez maior conforme ela vai aprendendo a reconhecer novas espécies. Na companhia do avô, ela conhece mamíferos, aves, insetos, vegetais, e tudo isso sem que ela deixe de ser a criança solta que é. E temos o calor. Li alguma vez em algum ligar que a vida fervilha sob o calor, e no livro isso não é diferente.

A condução da narrativa por parte da autora é perfeita. Primeiro que Calpúrnia é uma personagem carismática demais, possível demais, e que a gente acaba por se afeiçoar demais. Segundo que o livro mescla momentos de “descobertas científicas” com outros de pura descontração que só as relações familiares podem trazer, ainda mais quando se fala de uma família numerosa como a dela. Há assim um equilíbrio muito bem vindo e saudável, que faz com que a leitura flua com extrema naturalidade.

Mas a autora também ousa. Em se tratando dos Estados Unidos no século XIX, ainda há um forte componente racista presente na sociedade – e que, não sejamos ingênuos, persiste até hoje. Em sua visão pura de criança, Calpúrnia narra passagens de preconceitos tanto de raça quanto de gênero, que vão da mulher que enganara o marido por ser mais que um oitavo negra (oi?), ou do momento em que uma das criadas da casa a repreende por ela estar fazendo um trabalho manual indigno de: uma mulher, uma branca, uma Tate.

Um dos meus momentos preferidos do livro é a primeira vez que Calpúrnia olha em um microscópio e percebe toda a vida que existe nas águas do rio onde ela se banha para amainar o calor, o que a deixa um tanto assustada, por, raciocínio dela, enquanto ela temia cobras e outros animais maiores, o lugar estava povoado de criaturas que ela sequer era capaz de ver a olho nu.

Quando um livro nos encanta não há muito o que fazer se não declará-lo favorito. É certamente uma das melhores leituras do ano. A autora encontrou o tom certo, soube conduzir os fatos e entregou um livro e tanto. É o tipo de livro que deixa uma saudade latente e um sorriso nos lábios quando nos lembramos dele. Simplesmente leiam.

 

A Evolição de Calpúrnia Tate, de Jacqueline Kelly (The Evolution Of Calpurnia Tate, 2009Tradução de Elisa Nazarian, 2014) – 384 páginas, ISBN 9788567028415, Editora Única [COMPRAR NO SUBMARINO]

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Em caso de dúvidas, deixe-as nos comentários.

Boa sorte ;)

33 comentários:

  1. Legal! O livro parece ser bem interessante, além de possuir uma bela capa. Quero ganhar! hahahah
    Abraço!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Esse livro me chamou a atenção pela capa, mas até agora eu nem sabia direito do que se tratava. Parece muito bom, quero ler!

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  4. Eu amei esse livro, e mesmo sendo uma leitura simples e fluída, a narrativa e a história de Calpúrnia capta nossa atenção, e quando percebemos, são muitas páginas já viradas. Foi uma leitura prazerosa mesmo, apesar de eu não classificar como "a melhor do ano", mas não vou tirar o mérito da obra.

    Adorei a construção da personagem Callie, suas dúvidas, seus questionamentos e sua curiosidade, a tornaram uma criança madura, em um conceito diferente para a dita maturidade daquela época. Mesmo que no fim saibamos que Callie terá que se inserir no contexto social e nas regras estabelecidas, ela carrega consigo uma certa liberdade.

    E a arte dessa capa *-*

    Abraços,
    - pensamentosdojoshua.blogspot.com

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    1. Joshua, eu tinha boas expectativas para o livro e ele as cumpriu, não tem como não gostar da Callie e do ambiente familiar onde ela vive. Eu não reclamaria se houvesse uma continuação ;)

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  5. Não éo tipo de livro que eu leria mas sua resenha me fez mudar de ideia. E o comentário acima também me ajudou a redefinir minha opinião.

    http://alinenomundo.com.br

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    1. Aline, o livro é bem leve, com um ritmo excelente. Acho que não encontrará dificuldades na leitura.

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  6. Amei conhecer essa Calpúrnia feminista e inteligente!!
    Comprei o livro na bienal, mas ele está agora mesmo dando uns pulinhos aqui na minha frente para ser lido o mais breve possível!!

    Adorei, adorei, adorei a resenha como sempre!!! MARAVILHOSA!

    Não vou participar porque comprei. Então, boa sorte para todos!!!

    Bjksssss

    Lelê - http://topensandoemler.blogspot.com.br/

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    1. Lelê, leia, é muito bom! Tenho certeza de que você vai gostar!

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  7. Eu tenho milhares de fracos pelo século XIX, muito do que vivemos hoje é uma reação em cadeia a coisas que começaram a ocorrer lá e claro é meu século de estudo. Também tenho um enorme fraco por histórias com crianças, e gosto de ciências, não só as sociais e sim também as da natureza. As vezes me pego conversando com meus alunos sobre matemática, química, física, biologia eu queria ser uma intelectual renascentista \o/ Ou algo como a Mery Shelley que sabia um pouco de tudo porque o conhecimento me fascina!

    Eu senti um pouco de resistência a esse livro, a capa me lembrou "O livro das coisas perdidas" e a temática é parecida o que me pareceu ser o texto um daqueles que vem em grife... Mas agora me pego pensando que se livros doces, calidos, acolhedores e afetuosos se tornarem um tipo de grife no mundo literário, certamente vai ser uma grife que eu vou usar bastante.

    Obrigada pela resenha linda Luciano, um bom texto refresca a alma em um tarde quente e Recife é uma cidade quente.

    Cheros.

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    1. Te garanto que, por aqui também, essa seria uma grife bastante utilizada ;) Vale muito a pena ler, adorei o livro, é dos preferidos do ano!

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  8. Já estou de olho nesse livro há um tempo, porque acho a capa muito bonita, Que bom que o resto do livro acompanha a qualidade da capa, já botei na minha lista de futuras leituras.

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    1. Marília, o miolo é ainda melhor! Estou certo de que vai gostar!

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  9. Louca p ler esse livro!!!

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  10. Gostei da resenha, achei bastante interessante o livro, além da capa ser de fato muito bonita =)

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    1. Juliana, o trabalho gráfico da capa é muito bonito. O livro segue isso ;)

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  11. Estou animadíssima com essa resenha! Tudo me interessou nesse livro: personagens, sinopse, ambientação. Mesmo as questões não ortodoxas, como o racismo, me interessam, porque trazem mais complexidade à história.

    Adoro quando um livro trás questionamentos "modernos" em relação à época da história, mas que ainda hoje se mostram pertinentes e relevantes, afinal, a gente nem mudou tanto assim, né?

    Espero que eu ganhe _o/

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    1. A autora construiu um mundo caloroso, afetivo, uma personagem carismática, possível, e tudo isso em uma realidade que é bastante interessante. Vale muito a pena ler ;)

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  12. Primeira vez que vejo uma resenha sobre esse livro, mas estou bastante entusiasmada pra ler.... gostei muito!
    Espero ter a oportunidade de ler em breve
    bjos

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    1. Luiza, definitivamente esse é um livro que merece ser - muito - lido! Vale a pena ;)

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  13. Participando. \0/
    tania.schubert@pop.com.br

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  14. participando!
    alicizinhae@hotmail.com

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  15. Muito bom ter tido um gostinho do quanto esse livro é excelente através de uma resenha feita com paixao por ter se tornado um favorito, e tambem como diria na sua resenha: feita com calor!
    Temas bem interessantes abordados por uma garota numa época muito conservadora, deve ser uma otima leitura!

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  16. Já faz um tempo que estou curiosa com a leitura desse livro. a capa me chamou a atenção e eu nem sabia direito sobre a história, e sua resenha foi a primeira que li e gostei muito, sobre o tema, gosto de livros que se passam em outra época.

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  17. Essa sua resenha em particular, me chamou a atenção, porque eu desejo muito esse livro. Fiquei ainda mais interessado depois de lê-la. Eu sempre gostei de biologia, e parece que a autora soube incluí-la na história com maestria. Sem falar na arte de capa, que é linda! Parabéns pela resenha, me deixou com aquela sensação de "preciso ler esse livro!!". Haha.

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  18. Este livro já estava na minha lista e depois de ler sua resenha me deu vontade de esquecer tudo que tenho para ler e me entregar a sua leitura para conhecer a história de Calpúrnia Tate. Linda resenha que transmite a beleza e grandiosidade dessa leitura. Um livro que é um dos Top para você só pode ser bom mesmo.

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  19. Oi, eu já tinha visto algumas resenhas sobre esse livro, mas ainda não havia criado tanta vontade de ler. A sua é bem detalhada, despertando o interesse por determinados aspectos da história.
    A Capa é realmente muito bonita e ao mesmo tempo intrigante.
    Maravilhosa a sua resenha.
    beijos

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Oscar