25 de novembro de 2014

A Formatura – O Teste: Livro 3, de Joelle Charbonneau [Resenha #197]

A Formatura


Sinopse: O futuro nunca foi tão incerto e desesperador. Cia Vale jamais imaginaria que as coisas pudessem chegar a esse ponto. Ela tem uma importante missão: liderar as ações para a verdadeira reconstrução do mundo pós-guerra, um caminho sem volta. Agora, ela é a peça-chave para concretizar o plano de pôr fim ao Teste, para o bem das pessoas. Diante de um horizonte cheio de cicatrizes brutais, uma guerra prestes a começar e um governo cruel e corrompido, Cia não tem escolha a não ser se preparar para chegar às últimas consequências – se for preciso.


Não são todos os dias que se termina uma série. Para ser sincero, confesso que gosto mais de começá-las que de terminá-las.

Ler séries demanda tempo, dedicação, e muita paciência com o autor quando ele toma um rumo que nos desagrada. E, o mais importante, fortes relações entre leitor e personagens. Como abandonar um personagem que acompanhamos por tanto tempo? Eu vi Harry entrar em Hogwarts, todo bobinho morando com os piores tios trouxas da terra da rainha, foi doído olhar para ele sete anos depois – na cronologia da série – e dizer adeus. Sinto um pouco disso com toda série que termino. É o que estou sentindo agora terminando “A Formatura”.

Como disse na resenha do primeiro livro da trilogia, no mundo de “O Teste”, trilogia da autora Joelle Charbonneau, “os personagens estão inseridos em um mundo, o nosso, em um futuro onde uma série de guerras com uso de armas químicas, biológicas, atômicas e o quanto mais que se puder imaginar tiveram curso, que levaram a um esgotamento da capacidade de regeneração do planeta, e, claro, à extinção ou mutação de formas de vidas animais e vegetais”.

“A sociedade que emergiu após o sétimo estágio se reagrupou em torno de um sistema que evidencia a figura do líder, uma vez que atribuem à fraca liderança das potências mundiais quando do colapso, em especial a americana, a  principal razão para que a guerra não fosse terminada mais cedo.”

De cara gostei do elemento “respeito ao líder”. Em distopias, geralmente temos o “temor ao líder”. No mundo do Teste, a “Comunidade Unida”, o líder é alguém respeitado por ser formatado de tal maneira que seja alguém pronto à responder com energia a todo e qualquer empecilho que se colocar frente ao desenvolvimento social e bem-estar da população. Suas atitudes não são personalistas, ele não quer um trono, longe disso, visa um bem maior. E, ainda, não é temido por determinar massacres e boicotes. Apesar de terem recursos bastante limitados à disposição, há o entendimento de que a sociedade faz o que é necessário para se reerguer, e com o que se tem disponível no momento.

A estrutura social tem cara de maquinário de relógio, com cada um sendo parte da engrenagem que permite o bom funcionamento da comunidade como um todo, sendo os líderes aquelas pessoas que foram aprovados n’O Teste e conseguiram se graduar na Universidade.

O Teste é quase que um personagem do livro. O foco na educação tanto como formadora de lideranças capazes como quanto esperança de um futuro melhor é algo bem trabalhado,mas que não deixa de acrescentar à sociedade uma camada de ingenuidade, na forma de uma confiança cega que a aproxima das demais sociedades distópicas. O fato de que, a cada ano, candidatos de cada colônia são escolhidos para concorrerem a uma vaga na universidade tem pra mim um significado duplo, que depende do tipo de governo no poder: se ele é sincero e age realmente em prol do povo, escolher os melhores alunos de cada colônia faz com que sejam maiores as chances de que sejam aprovados n’O Teste os efetivamente mais capazes, que por fim se tornarão os líderes mais aptos. Se não, se pensam apenas em continuar como classe dominante, retirar dessas colônias suas mentes mais brilhantes é apenas condená-las ao julgo da capital, calando vozes que poderiam se tornar opositoras. 

E, em distopia, você tem de ler para tirar a prova.

Cia é uma das selecionadas para o Teste. Gostei dela. Ela pensa, não apenas morre de amores por alguém. Ela tem sangue nos olhos e coração mole. Questiona. Se sente insegura, mas acata ao que tem de fazer. Ela evolui muito durante os três livros, mas o que me faz admirá-la ainda mais é que em nenhum momento ela se torna dona de uma força ou caráter sobrenatural. Ela segue a mesma menina com as raízes entranhadas na distante colônia de Cinco Lagos, que sente falta da família, e se pergunta se tudo um dia terminará bem.

Não vou falar sobre o enredo desse último livro, mas a autora teve que dar uma boa mexida para fazer o final acontecer. Achei bem diferente dos recursos que ela utilizou nos dois primeiros livros mas serviu para dar uma refrigerada na narrativa, que vinha ficando perigosamente linear. E o melhor de tudo é que as coisas não demoram a acontecer. O livro começa do ponto onde o “Estudo Independente” terminou, e ela, Joelle Charbonneau, ganhou comigo um ponto positivo enorme com isso: não precisei de uma ou duas páginas para me situar na história ou me aclimatar ao mundo de Cia novamente; pelo contrário, foi algo automático, e poucos autores conseguem isso.

Ela, a autora, já tinha se mostrado bastante inteligente ao jogar com o leitor no quesito “em quem Cia pode confiar”, lembrando-nos a todo momento de um conselho dado à Cia pelo pai dela pouco antes de ela deixar Cinco Lagos, mas aqui isso toma proporções gigantescas, e os cenários possíveis vão sendo validados até as páginas finais do livro. Não fica claro para o leitor durante o livro quem é o bom e quem é o ruim. Arrisco até a dizer que muitos leitores vão levar um tempo para definir o que acham quanto à isso após a leitura.

Gostei bastante do livro, assim como de toda a trilogia. A autora cuidou para dar respostas sobre o destino de cada personagem, mas as palavras finais do livro, “E ainda há muito por fazer”, me soaram como uma promessa. Não sou eu quem vai reclamar.

 


+ da série:

O Teste: O Teste: Livro 1
Estudo Independente: O Teste: Livro 2


 

A Formatura - Teste Livro 3, de Joelle Charbonneau (Graduation Day, 2014 Tradução de Elisa Nazarian, 2014) – 320 páginas, ISBN 9788567028477, Editora Única. [COMPRAR NO SUBMARINO]

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15 comentários:

  1. Bom, já que você gostou tanto da trilogia como um todo. A ponto de dar uma nota "A", eu vou com certeza mergulhar nela.
    Vi uns comentários negativos que tinham diminuído minha vontade, mas confio muito na sua opinião.

    Vou ler e depois te conto!

    Bjks

    Lelê - http://topensandoemler.blogspot.com.br/

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    1. Lelê, das que eu li é a melhor, agora quero investir em Jogos Vorazes para ver como me saio ;)

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  2. Oi, Luciano!
    Acho que você nunca fez uma outra resenha tão apaixonada. Lembro de comentar a resenha do segundo livro porque havia lido outras resenhas um tanto quanto imparciais. Você me conquistou com esse fechamento!
    O sobrenome Charbonneau é um nome de peso no meio literário, religioso e político no Canadá. Vou pesquisar sobre a autora.
    Beijus,

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    1. Luma, obrigado!

      Eu gostei muito da série, e, o melhor, ela veio em uma crescente bacana, com um livro sempre melhor que o anterior. Vale a pena ler ;)

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  3. Eu amo essa trilogia, e foi uma das grandes surpresas de 2014, e também, no gênero distópico. "O Teste" foi mediano, "Estudo Independente" foi incrível, e "A Formatura", eu nem tenho palavras para descrever o quão esse desfecho foi inteligente e bem construído. Joelle se mostrou capaz e nos entrega uma trema repleta de ação, intriga, conspiração, ao mesmo tempo que impacta o leitor com certas decisões de seus personagens. Eu realmente me surpreendi, e os livros dela agora são meus favoritos. Excelente resenha!

    Abraços,
    - pensamentosdojoshua.blogspot.com

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    1. Joshua, somos dois! Fiquei positivamente impressionado com a Joelle, espero que ela produza mais em breve!

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  4. Oi Luciano!
    Eu quase nunca termino as séries... Então acho que acompanhar uma até o final é um grande feito!
    Ainda não li nenhum livro dessa série, mas como gosto de distopias e ela terminou tão bem, fiquei curiosa.

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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  5. Eu ainda estou cansada de séries distópicas! Eu sempre acho que já estamos em uma distopia então depois de Jogos Vorazes entrei em jejum disso, não consegui ler nem Divergente! Mas ainda leio séries e termina-las sempre é uma coisa complicada para mim, minha parte preferida delas é o meio, aquele momento no qual a gente já sabe quem são os personagens, onde estão seus corações e a gente pode observa-los vivendo suas vidas.... depois disso a história caminha para o desafio final, as perdas... o desfecho e a gente tem que deixar todos para viverem suas vidas e continuar a nossa, se despedir.... terminar uma serie é melancólico.

    Adorei a resenha Luciano, especialmente pela sua reflexão a respeito dessa coisa de alguém poder escolher quem vai ter a oportunidade de ampliar seus conhecimentos. É perigoso dar a qualquer administrador dos bens públicos a oportunidade de decidi por si quem é apto a qualquer coisa, para mim são as pessoas que devem escolher quais aptidões querem adquirir, independentes delas serem capazes ou não de serem excelentes no que farão!

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    1. Ah, essas ressacas são normais! Sabe que eu não tinha pensado nisso, de estar nas mãos do governo a escolha de quem vai seguir com os estudos....

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  6. Como eu amo muito distopia, desconfio de todos os lançamentos hahahahaha Mas já li resenhas bem positivas a respeito da série, incluindo as suas. Estava esperando essa última resenha para decidir ler a série ou não. PORÉM, eu ainda tenho 1% de dúvida, então vou começar a ler pelo Kindle. Se eu não gostar, acho que o apego é menor hahahaha

    Fico contente que a série tenha agradado, espero ter uma experiência tão positiva assim!

    Abraços!

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    1. Hahahahaha! Mas quanta dúvida! Eu gostei bastante, o formato do Teste foi bem elaborado, e a narrativa é bastante competente. Sigo indicado ;)

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