3 de novembro de 2015

Galveston, de Nic Pizzolatto [Resenha #236]

Galveston


Sinopse: No mesmo dia em que é diagnosticado com câncer no pulmão, o matador de aluguel Roy Cady pressente que o chefe, um agiota e dono de bar que é o mandachuva em Nova Orleans, quer vê-lo morto. Conhecido entre os membros da gangue pelo nada afetuoso apelido de Big Country, por causa do cabelo comprido e das botas de caubói, Roy desconfia de que o serviço de rotina para o qual foi enviado possa ser uma emboscada. E de fato é. Mas consegue inverter os papéis e, após um banho de sangue, escapa ileso.

Além de Roy, só há mais uma pessoa viva no local, uma mulher, e num ato impensado ele aponta uma arma para a cabeça dela e a leva consigo na fuga em direção à cidade de Galveston - uma decisão imprudente e sem volta. A mulher, uma prostituta de 18 anos chamada Rocky, é jovem demais, durona demais, sexy demais - e certamente trará para Roy problemas demais.

Alternando passado e presente, Galveston é um thriller impregnado com o melhor da atmosfera noir. Uma narrativa ágil, permeada de diálogos marcantes e construída com o máximo de tensão, prova do inegável talento literário de Nic Pizzolatto.


Galveston vem sendo vendido mundo afora como “o primeiro romance do criador de True detective”. Uma das coisas boas de eu ser um tanto desligado quanto a lançamentos e leitura de sinopses é que, caso contrário, teria passado longe desse livro.

Explico.

Detestei True Detective e toda a sua ânsia em ser cult, com seus personagens de gestos largos e falas embotadas, ou muito me engano, resisti a dois episódios antes de pegar no sono e abandonar a série para todo o sempre. Sendo assim, se o maior chamativo para “Galveston” fosse o fato de que é um livro do criador da série, não teria me atrevido a ler, e teria perdido um dos melhores livros do ano.

Roy Cady tem o pior dia da sua vida quando, pela manhã, recebe do médico a notícia de que tem câncer no pulmão e, pela noite, é traído pelos seus companheiros de crime.

Primeiro: Cady não é um cara legal. Ele é nosso anti-herói e a gente vai se apegando a ele graças aos seus princípios e também pela solidariedade em compartilhar com ele todos os dissabores do fim da vida entre um gole e outro de Johnnie Walker. Apesar de ter boas memórias da infância, como um bom pai e uma mãe que dava suas escapadas mas não fazia disto um lar infeliz, ele acaba em lares adotivos e instituições para órfãos quando eles morrem, até que vai trabalhar com um antigo conhecido da sua mãe, e começa sua carreira no crime.

Ele começa a sentir algo estranho no ar quando seu chefe pede que ele vá dar uma dura em um sujeito, mas que não vá armado. Acontece que é uma armadilha, por algum motivo seu chefe o quer morto, e, se ele tivesse seguido à risca suas ordens, não sairia dali vivo.

O que ele sai dali é: com a certeza de que tem que desaparecer por um tempo; e sabendo que tem que levar a garota que presenciara a cena consigo.

Galveston é um livro carregado de um clima sombrio, desesperançado e espesso, com raríssimos momentos de alegrias, que sempre são fugazes. Por mais que eu insista e já tenha falado por aqui que não gosto de livros com grandes monólogos, o tom contemplativo que preenche a narrativa em primeira pessoa, e os pensamentos de Cady acerca da vida, do tempo, da morte e de todas as merdas que a gente acaba fazendo cabem perfeitamente naquele universo.

O fato de saber que está doente faz com que Cady se sinta fragilizado e amargo de diversas maneiras, mas é interessante ver como a forma como ele reage a isso – e como planeja o futuro – muda com a presença de Rocky, a garota com quem ele foge: se ele está morrendo, porque deveria se preocupar se seus antigos amigos virão atrás dele? Rocky é, para ele, uma maneia de fazer diferente, com que ela, que apesar de jovem possui uma história tão difícil quanto a sua, tenha uma perspectiva diferente.

De ponto negativo, só a insistente impressão de que tudo o que era narrado estava roteirizado demais, em alguns momentos mais com formato de filme – tipo o U Turn, do Oliver Stone – que de livro.

Aos que se animarem para ler, não tomem True Detective como base, o livro é infinitamente melhor, e preparem-se para encontrar um livro que fala da vida sem apelar aos contos de fada. Muitas vezes cru, Pizzolatto recria uma existência que choca por sabermos que ela não só é plausível, mas sim a realidade de muita gente.

Galveston, de Nic Pizzolatto (Galveston Tradução de Alexandre Raposo, 2015) – 240 páginas, ISBN 9788580576504, Editora Intrínseca.

{A-}

8 comentários:

  1. Fiquei na dúvida. Pera.... Vou ler de novo a resenha pra ver se eu gostei, rs.
    Sério, fiquei bastante indecisa.

    Bjksssss

    Lelê

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  2. Oie,
    Me perdoa, mas aqui está um livro que não penso em ler. Por mais que ele tenha te surpreendido, não consegui pensar em lê-lo, só pela modo sombrio, amargo e cru que me falou. Mas também não te direi que não lerei, afinal falar que desta água nunca beberei é um erro. Boas Leituras!!!

    Beijos Elis
    http://amagiareal.blogspot.com.br/

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  3. Oii, sabe que quando saiu a sinopse deste livro já me deu vontade de ler. Adoro quando o protagonista é anti-herói e mau hahaha. E gostei muito de True Detective, então se o livro é melhor, certeza que vou gostar.

    Beeijo,Paola
    uma-leitora.blogspot.com.br

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  4. Olá! Gostei da forma como você escreveu. Tinha lido uma resenha sobre este livro e tinha me apaixonado por ele por falar tanto do lugar, mas você falou de uma outra forma, que tem que ser melhor analisado. Ainda bem que não assisti a esta série, True Detective, porque pensaria como você.

    Beijos,

    Greice Negrini

    Blogando Livros
    www.amigasemulheres.com

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  5. Boa noite,

    Essa é a primeira resenha que leio desse livro, gostei da sinopse e estava bem curioso, agora com certeza vou ler...abraço.

    devoradordeletras.blogspot.com.br

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  6. Não gosto dessas narrativas cruas não... livros que correspondem muito à realidade não costumam me conquistar, sou mais os que apelam para os contos de fadas ou me fazem viajar para mundos não existentes ou realidades alternativas. Por isso, não acho que seja leitura para mim. Também não sou muito chegada em anti-heróis, nem em livros com clima sombrio e desesperançado. Mas que bom que gostou tanto!

    Beijo.

    Ju
    Entre Palcos e Livros

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  7. Oi Luciano, tudo bem
    Confesso que não conheço True detective e também não conhecia esse livro. Fiquei com pena da situação em que ele se encontra, tenho certeza de que o drama dele iria me tocar. Só fiquei um pouco em dúvida, quando você disse que é retratado de forma crua e apresenta monólogos. Acho que vou pegar em alguma livraria para dar uma olhada na narrativa. Independentemente disso, gostei da forma como escreveu sua resenha e apresentou o personagem.
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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  8. True Detective (primeira temporada) é simplesmente a melhor série já feita. Reveja seus conceitos.

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