7 de março de 2012

Vathek [Resenha #041]

vathekSinopse: Publicado pela primeira vez em 1786 como 'Vathek, uma história árabe' ou 'A história do califa Vathek', este texto entrou para o rol dos romances góticos mais conhecidos do público, como 'Frankenstein', de Mary Shelley, e 'O castelo de Otranto', de Horace Walpole. Entre aqueles que declararam terem sido influenciados pela obra encontram-se Lord Byron, Edgar Allan Poe, Stéphane Mallarmé e H. P. Lovecraft. Trata-se da insólita história da queda do califa Vathek que, renunciando ao Islã, lança-se numa série de atividades licenciosas na tentativa de obter poderes sobrenaturais. Segundo o autor – o crítico de arte e político William Thomas Beckford (1760-1844) –, a história foi escrita em três dias e duas noites. Reflexo da obsessão setecentista por tudo que fosse oriental, 'Vathek' maravilha o leitor com um misto de cultura árabe, um clima de 'As mil e uma noites' e fantasias aterrorizantes.

 

Vathek me confundiu. Não tem um texto difícil, ao contrário, mas as vezes não conseguia entender muito bem qual era, realmente, a intenção de seu autor, o excêntrico Sir William Beckford. Pela sinopse, esperava um livro mais sombrio, e não tão detalhado quanto as maravilhas que cercavam o califa, Vathek, que fora tentado pelo bichinho do conhecimento.

Confesso que esperava algo mais na linha de “O Caso de Charles Dexter Ward”, do mestre Lovecraft, mas talvez o erro tenha sido meu. Os primeiros escritores de romance gótico primavam por esconder mais que mostrar, como fez Walpole em “O Castelo de Otranto”, e até mesmo na época de Rudyard Kipling, que escreveu algumas das mais impressionantes histórias sobrenaturais – reunidos neste livro, que devorei na adolescência – criticava-se aquele autor que apelasse para recursos baixos, como descrever monstros purulentos e etc.

Talvez por isso Vathek seja mais sutil. Publicado pela primeira vez em 1786 – duzentos anos antes de meu nascimento! – não agradaria a sociedade da época se fosse uma história escrachada, aberta. Optou-se por esconder, mas não se conseguiu o mesmo efeito de outros autores, como os que citei no parágrafo anterior; apesar de durante o texto obter alguns sucessos pontuais: a descrição de uma torre dedicada a “artes mágicas” e do inferno e seus castigos é realmente aterrorizante – como se imaginar com o coração em chamas por toda a eternidade?!?

O livro é fininho, e uma ótima oportunidade de se aprofundar na mitologia árabe, seus gênios, suas superstições de forma rápida, apoiado em um texto clássico, escrito por alguém que sempre adorara tudo que se referia à região, como é o caso de Beckford. A edição que li, da coleção L&PM Pocket, dentro da “sub-coleção” L&PM Pocket Plus, trás dois prefácios de Jorge Luis Borges, além de uma breve biografia do autor. Me lembro que quando mais novo abominava livros que não traziam informação alguma sobre seu autor, além das tradicionais “fulano de tal nasceu em não sei aonde, escreveu tantos livros e hoje mora com a mulher, os filhos e o cachorro em tal lugar”. O tempo me deixou mais tolerante quanto a isso, mas me sinto bastante feliz quando tenho em mãos alguma obra onde os editores ainda mantém esta preocupação.

 

Vathek (Vathek, 1786Tradução de Henrique de Araújo Mesquita ) William Beckford – 128 páginas, ISBN 9788525406200, Editora L&PM.

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8 comentários:

  1. Ainda não li o livro, mas tanto a cultura árabe, quanto o tom de mistério e magia que passou no post me interessam. Teve um tempo na Europa que tudo que se referia ao oriente era motivo de curiosidade e por isso os "Contos de mil e uma noites" foi publicado e fez tanto sucesso, como faz até hoje. De certa forma, um califa renunciar ao islamismo, tendo uma mãe que pratica magia negra, chega a ser contraditório ;) Mais um mistério para desvendar!
    Boa semana! Beijus,

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    1. Luma, o livro é bem interessante, e quem já tem um pouco de conhecimento sobre a cultura árabe sai na frente, passando pela fase de adaptação. Vale a pena, apesar da estranheza de algumas passagens ;) Boa semana.

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  2. Nossa, em uma só resenha tua já peguei várias recomendações, hehe, pois adoro romances góticos, sobretudo os do Romantismo britânico propriamente dito e/ou da época vitoriana, sendo "Frankenstein" e alguns contos de vampiros, de diversos autores, os meus prediletos. Aliás, "O Castelo de Otranto" é uma obra que desejo ler há séculos.

    Quanto ao "esconder mais que mostrar", só os autores góticos mais tardios, a exemplo de Bram Stoker, ousaram inverter esse jogo com propriedade, sem perder o domínio das sutilezas quando necessário. Abração!

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    1. Jorge, li "O Castelo de Otranto" nos tempos de escola, e vou te dizer: leia! É muito bom, coisa fina mesmo. Stoker era um gênio, "Drácula" é uma verdadeira obra de arte, dá até vontade de ler novamente ;)

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  3. Como o Jorge, peguei várias dicas através dessa resenha!
    Tem esse livro disponível lá no Livra-Livro, será que compensa pegar? rs
    Também gosto quando o livro tem uma parte dedicada a vida do autor, acho muito legal conhecer a 'pessoa real' por trás do mito.

    =)

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    1. Joelma, o livro é bom, mas não é maravilhoso não. Até achava que ele seria melhor, então fico com o pé atrás pra fazer uma indicação...

      Abração.

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  4. Você me deixou bem curiosa, Luciano!

    Um romance gótico da cultura árabe [!], que influenciou gente tão célebre...! Com certeza sua leitura valeu a pena, e você escreveu uma bela resenha. ;]

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    1. Jéssica, se puder leia, Vathek é um marco na literatura, e certamente merece uma chance.

      Abraços.

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