13 de dezembro de 2012

Quem Poderia Ser a Uma Hora Dessas? [Resenha #091]

Quem Poderia Ser a Uma Hora Dessas

 

 

Sinopse: Em uma cidade decadente, onde se criam polvos para a produção de tinta, onde há uma floresta de algas marinhas e onde um dia funcionou uma redação de jornal em um farol, um jovem Lemony Snicket começa o seu aprendizado em uma organização misteriosa. Ele vai atender seu primeiro cliente e tentar solucionar o seu primeiro crime, aos comandos de uma tutora que chama carro de “esportivo” e assina bilhetes secretos. Lá, ele vai cair na árvore errada, vai entrar no portão errado, destruir a biblioteca errada, e encontrar as respostas erradas para as perguntas erradas - que nunca deveriam ter passado pela cabeça dele. Ele escreveu um relato sobre tudo o que se passou, que não deveria ser publicado, em quatro volumes que não deveriam ser lidos. Este é o primeiro deles.

Perguntar para qual faixa etária Lemony Snicket escreveu este livro é uma pergunta errada. Primeiro volume de uma série, "Quem Poderia Ser a Uma Hora Dessas" é o tipo de livro que pode ser lido por qualquer um e boa parte destes leitores vão apreciá-lo. É o tipo de livro que me agrada, me proporciona uma boa leitura sem exigir tanto. Alguns de meus melhores momentos como leitor foram proporcionados por livros assim, e não faz muito tempo…

Acredito que saí na vantagem por ter lido apenas um livro da série de maior sucesso do escritor, "Desventuras em Série", e há bons anos atrás. Li "Hospital Hostil" e, mesmo que um pouco perdido por apanhar o bonde andando e já em alta velocidade, consegui me divertir, assim como me identificar com os personagens e a narrativa de Snicket.

Em "Quem Poderia Ser a Uma Hora Dessas", Snicket é um aprendiz em uma organização misteriosa, que escolhe a pior tutora de uma lista para poder agir mais livremente, sem que ela se dê conta do que ele faz. Apesar de ser um tanto quanto paradoxal, faz sentido em pegar o pior professor da classe se você quer seguir seus próprios caminhos mais livremente: nada como um espertalhão para te barrar o caminho.

Sua tutora, S. Teodora Markson – não pergunte o que significa o S, é um dos mistérios do livro – e sua farta cabeleira rebelde, tem um modo peculiar de agir: em nenhum momento ela questiona o que diz o cliente, e elabora as mais impossíveis teorias para qualquer coisa, além de ter o péssimo hábito de explicar detalhadamente o que diz cada expressão.

Com ela, e sua cabeleira, parte para Manchado-pelo-Mar a bordo de seu esportivo maltratado, até uma enorme mansão. O vilarejo está em plena decadência com a diminuição da produção de tinta, antes maior fonte de renda da região: várias casas estão abandonadas, e um dos poucos comércios é um café automatizado; e são nestes cenários curiosos – entre eles um farol que já foi  a sede de um jornal – que Snicket vai ter de desvendar grandes segredos.

Snicket possui um grande talento para compor cenários. Suas locações nunca são corretas - que aqui assume o sentido de certinhas, ou normais - e nos presenteia com uma cidade à beira mar que não tem mais mar por perto, um farol onde funcionava um jornal impresso com tinta de polvo que colocava seus exemplares para secar em uma grande boça; uma enorme mansão tão grande que parece que diversas mansões se juntara; e uma floresta de algas que não morreram quando o mar secou – ou sumiu, ou foi drenado – pelo contrário, cresceram.

Assim como seus personagens. O solícito dono do hotel onde ficam hospedados, Próspero Perdido; Qwerty, o sub-bibliotecário; os irmão Chico e Juca, que dirigem o táxi da família enquanto o pai está doente - e que cobram pela corrida um dica, e não dinheiro - o casal Mitchell, policiais da cidade, que fecham os olhos para as diabruras de seu filho Stew, são personagens adoráveis, estranhamente no lugar certo em uma cidade completamente deslocada do mundo.

Mas não se comparam com Moxie, filha do dono do jornal falido, que vive datilografando em uma máquina de escrever, se preparando para o dia em que trabalhará em um jornal de verdade. É a personagem que mais gostei, e, quando um segundo personagem feminino atrai a atenção do garoto não pude deixar de sentir um pouco de ciúmes por ela, mas o andamento do livro explica tudo.

A narrativa de Snicket me fez lembrar os antigos filmes de espionagens, e o tom de memória que ele assume - inclusive quando diz que o livro não deveria ser lido - só faz aumentar o clima, que é muito bem vindo para a cidade que o autor criou.

O trabalho gráfico da editora Seguinte foi excelente. As letras possuem um bom tamanho e um espaçamento adequado. Você não se cansa de ler e as páginas são consumidas bastante rápido, quase sem que você se aperceba. As ilustrações ajudam a entrar no clima, e estão no lugar certo, o que apesar de óbvio nem sempre é seguido pelas editoras. E o que posso falar da capa? Bastante chamativa, tem um estilo que casou bem com o livro, e ainda por cima é “emborrachada”, quase que não consigo começar a ler, só alisando-a, mas acho que não deveria mencionar isso.

Primeiro volume da série Só Perguntas Erradas,  "Quem Poderia Ser a Uma Hora Dessas" não poderia ser um livro melhor. Há mais mistério do que se pode imaginar, o Snicket personagem desde o começo se vê envolvido neles, e a narrativa em primeira pessoa só aumenta o clima. O fato de o leitor pouco saber não estraga a aventura, que, de tão prazerosa, pode ser lida em um dia.

 

Quem Poderia Ser a Uma Hora Dessas?, de Lemony Snicket com ilustrações de Seth (Who Could That Be At This Hour?, 2012Tradução de André Czarnobai, 2012).  240 páginas, ISBN 9788565765046  Editora Seguinte.

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7 comentários:

  1. Eu tenho o primeiro volume do Desventuras em série, ainda não li, comprei porque adorei o filme (devo ter visto ele umas cem vezes) e você dizendo que trata-se de um autor inteligente que trabalha com cenários meio imprevisíveis me da vontade de atacar o livro agora mesmo.

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    1. Pandora, Snicket é muito inteligente, um narrador competente, construtor de enredo/personagens/cenários brilhante. Adorei ler ;)

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  2. Talvez - na verdade provavelmente - Snicket é meu autor preferido. Tipo, pra sempre. A única coisa que li dele foi Desventuras em série, mas ainda assim - o cara é genial por conseguir fazer um livro para todas as idades, que não subestima os pequenos nem entedia os grandes. Estou tentando não comprar livros (meu armário está lotado/preciso economizar/tenho livros demais para ler) mas acho que VOU TER QUE quebrar a regra com esse.

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    1. Isabel, se já é fã então esta é uma leitura obrigatória! Tenho certeza de que vai adorar.

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  3. Eu quero muito este livro! Preciso ler, é muito fofo.

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  4. Ainda não li nada do autor. Mas sou muito curioso em conhecer "Desaventuras em série" e esse livro acabou de entrar para minha listinha 2013.
    A Seguinte vem trazendo ótimos titulos, estou gostando de todos lançados até agora - ao menos, das sinopses.
    Aaaa e a resenha está magnifica como sempre.

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    1. Lucas, o line up da Seguinte foi bom demais, com diversos títulos interessantes que me surpreenderam. Lemony Snicket é um autor que me conquistou, tem um texto leve, ideias mirabolantes, tudo o que um bom leitor precisa ;) Vale ler.

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