1 de julho de 2013

A Queda dos Reinos, de Morgan Rhodes [Resenha #134]

A Quedas dos Reinos

 

 

Sinopse: Numa terra em que a magia havia sido esquecida e a paz reinara durante séculos, uma agitação perigosa ganha forma quando três reinos começam a lutar pelo poder. Entre traições, negociações e batalhas, quatro jovens terão seus destinos entrelaçados para sempre: Cleo, a filha mais nova do rei de Auranos; Magnus, o primogênito do rei de Limeros; Jonas, um camponês rebelde de Paelsia; e Lucia, uma garota adotada pela família real de Limeros que busca a verdade sobre seu passado.

Em A queda dos reinos, Morgan Rhodes constrói uma mitologia complexa e fascinante, que mistura amor proibido, intrigas políticas e profecias milenares. Narrado pelos pontos de vista dos quatro protagonistas, este é o primeiro volume da série.

Fantasia é um gênero que me prende com uma certa facilidade: construam uma terra fantástica, coloquem nela reinos vizinhos com características distintas e uma história passada de glória ou terror que se contraponha com a atual, agreguem mais um bocado de lendas e terão em mim um leitor atento. Mas, justamente por isso, com o tempo fiquei exigente, não é mais qualquer coisa que me conquista por completo, e não adianta tentar forçar uma história profunda com elementos políticos, e etc., se não a desenvolvê-la bem, bom, não dará liga.

Em “A Queda dos Reinos”, a princesa Cleiona é a filha caçula do rei Corvim, de Auranos, um reino próspero, de terras férteis e com uma fauna que lhes proporciona uma vida sem preocupações quanto ao sustento de seus súditos, o que em muito difere da atual situação dos outros dois reinos que constituem o continente de Mytica: Paelsia, vizinho territorial de Auranos, que vira suas terras secarem pouco à pouco e tornarem-se inférteis a não ser para o plantio de uvas utilizadas na preparação de um famoso de vinho, e Limeros, o reino ao norte de Mytica, que aos poucos tornara-se tão gelado que parece envolto em um longo inverno.

Gaius, o rei de Limeros, é conhecido como o Rei Sangrento, impondo sua liderança à seus súditos por meio do terror, aniquilando quem quer que ouse desobedecer suas ordens, enquanto tenta fazer de seu filho mais velho, Magnus, um rei como ele, mas sem ter certeza da força do filho, que constantemente o desagrada; ao mesmo tempo que espera que se cumpra uma antiga profecia, que diz respeito à sua filha mais nova Lucia, que poderá ser de seu proveito.

Paelsia não possui rei, mas sim um chefe que, creem os paelsianos, possui poderes que um dia farão o país voltar a ser tão fértil quanto antes. Até lá, lhe pagam impostos pesados e lhes fazem sacrifícios, até mesmo humanos, sem se questionarem da inutilidade daquilo tudo, como é comum à ingênua ignorância dos povos desesperados. Tanto para Auranos quanto para Limeros, os paelsianos, pobres, mal nutridos, vivendo em constante regime de subsistência, são considerados “selvagens”.

O que une os três reinos em um conjunto, além do fato de pertencerem ao mesmo continente, é a antiga crença na magia, em especial na figura das duas deusas, Cleiona – de quem a princesa de Auranos herdara o nome – e Valoria, que, segundo à tradição, detinham o poder, respectivamente, do fogo e do ar; e água e terra; e que assumem um aspecto bondoso ou maléfico dependendo do reino em qual se vive.

O interessante é perceber que todos os reinos se afastaram da crença das deusas por motivos próprios: a próspera Auranos não se sente mais tão ligada às Deusas e à crença da magia por não viverem em condições adversas – a maior parte das pessoas, e aqui estou generalizando mesmo, só se lembram da fé quando ela é necessária, leia-se “quando o sapato aperta o calo” – e, também, após o rei se desiludir por não ter seu pedido atendido e sua esposa ter falecido anos atrás. Já Paelsia se sente desvalida, abandonada, e suas únicas esperanças estão na figura de um chefe que vive em meio ao luxo enquanto seus súditos morrem de fome. E, por sua vez, Limeros é talvez o reino mais religioso, mas as pessoas seguem uma fé deturpada encabeçada pelos anseios de um rei sedento de poder e que se apegara à religião graças aos eventos adversos que seu país enfrenta, em uma modalidade desesperada de fé.

A ação do livro se passa após um nobre de Auranos matar um jovem paelsiano, por motivo mais do que fútil, enquanto negociavam a compra de um lote de vinhos. O tal nobre é tido como o futuro noivo da princesa Cleo – Cleiona – o que justifica a presença dela no momento do crime. Se vinte centavos fizeram o Brasil acordar, no livro a indignação pela morte de um rapaz trabalhador pelas mãos de um nobre fizeram com que Paelsia e Limeros se unissem e declarassem guerra à Auranos, mas não somente por isso, e, sim também terem para si todas as riquezas do lugar. Dois reinos podem cair neste ínterim.

Em um primeiro momento se pode pensar o que dois reinos que passam por dificuldades podem fazer contra um terceiro, inigualavelmente próspero. É preciso se lembrar, no entanto, que tempos de paz fazem diminuir a vigilância; assim como a revolta e o ódio gerado pela ganância, inveja e/ou sentimento de injustiça são combustíveis bastante eficazes em uma revolução. Assim, nada está certo na guerra que está por vir, e, além disso, o rei Magnus tem um trunfo nas mangas.

O livro tem uma  porção de personagens e a narrativa segue cada um deles alternadamente, com cada capítulo destinado à ação desenrolada em um dos reinos ou no Santuário, terra dos vigilantes, seres que ficaram encarregados de zelar pelos elementos mágicos que garantiam a prosperidade ao continente de Mytica, e que, claro, os perderam. Justamente por isso é difícil estabelecer uma conexão, ter empatia pelos personagens, e os sentimentos ficam confusos em boa parte do tempo, sendo que Cléo é a personagem que mais se destaca, e não por acaso, a que tem a história melhor desenvolvida nesse volume.

A impressão que se tem, de uma forma geral e ao se ter conhecimento de um panorama maior do que se desenvolve no livro, incluindo questões políticas, sociais, religiosas, seres e elementos mágicos, é que a autora quis abraçar o mundo, mas não conseguiu chegar à divisa do município; com muitas coisas ficando sem ser desenvolvidas como se deveria, e com um toque de pressa que pode ser bom para fazer fluir à narrativa, e aqui eu a agradeço!, mas, no momento em que se optou por abordar tantos temas complexos, seria melhor que as coisas fossem mais detalhadas, com calma, sem pressa. Mas isto é algo que tende a acontecer em primeiros volumes, há muito a se introduzir, e as páginas são limitadas.

Ao final temos uma busca, um sentimento de vingança, e muitas perdas acumuladas – a autora, Morgan Rhodes, é da escola do tio George RR Martin, e não tem pena nem pensa duas vezes antes de matar um personagem que o leitor julgue importante – ficamos com um mundo aberto de possibilidades a serem exploradas num próximo volume. Eu sou curioso por natureza, então que venha uma continuação, certamente a lerei, e, espero, talvez os problemas sejam solucionados.

 

A Queda dos Reinos, de Morgan Rhodes (Falling Kingdoms, 2012 Tradução de Flávia Souto Maior, 2013).  400 páginas, ISBN 9788565765138  Editora Seguinte. [Comprar no Submarino]

{B-}

7 comentários:

  1. Oi, Luciano!
    Mais uma resenha incrível que me deixou com vontade de ler o livro! Não sei de onde tirei que esse livro era infanto-juvenil. A capa é linda! Ainda não li nada do autor, mas já li sobre o autor e seu modo de conduzir suas narrativas.
    Boa semana!!
    Beijus,

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Luma, a autora também me surpreendeu, esperava um livro menos denso, que não tocasse tanto em temas espinhosos.... acho que tudo pode melhorar em um segundo volume.

      Excluir
  2. Esse livro parece interessante, mas seria leitura certeira se eu não tivesse 5 As Crônicas de Gelo e Fogo para ler. Eu gosto dessa capa e da abordagem da Seguinte, mas no momento, eu não leria.

    Abraços!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, o gênero fantasia tem uma concorrência acirrada, o que pode afastar alguns, num primeiro momento, deste, mas vale a pena conferir.

      Excluir
  3. Sabe que quando você estava pela banda do 5º paragrafo eu já estava achando coisa demais para um livro apenas ai quando você disse: "quis abraçar o mundo, mas não conseguiu chegar à divisa do município" eu pensei: "Eu sabia!". Não sei se ia topar essa aventura, talvez porque tenha coisa de 12 livros em minha lista de leitura... talvez porque por mais que fantasia de me fascine enredos muito complexos tem me dado dor de cabeça.

    De toda forma, como sempre sua resenha foi perfeita. Cheros Luciano :p

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, ficou tudo meio corrido, não dá pra se sentir muito convencido pela autora, mas ela acerta em alguns pontos, acho que o que mais pesou foio fatio de ser o primeiro de uma série, introdutório, é complicado.

      Excluir
  4. Oie Amigo,

    Bem pela sua resenha acho que esse é um dos livros que eu levaria meses para ler, por ele não me prender totalmente, gosto de personagens e aventuras, mas tem que ser muito bem tramado e me prender.

    Boas leituras...beijoaks elis

    ResponderExcluir

Olá, seu comentário é muito importante para nós.

Nenhum comentário aqui publicado sofre qualquer tipo de edição e/ou manipulação, porém o autor do blog se reserva o direito de excluir todo e qualquer comentário que apresente temática ofensiva, palavras de baixo calão, e qualquer tipo de preconceito e/ou discriminação racial, estando assim em desconformidade com nossa Política de Privacidade.

Oscar