26 de setembro de 2013

Lendo Bukowski

misto quente

Não sei nem que nome dou a este post, mas vamos lá.

Estava com leituras densas demais – ou ruins demais – então decidi parar com tudo e partir para um porto seguro que me trouxesse a tranquilidade de algo conhecido e indiscutivelmente bom – ao menos para mim. Decidi por Bukowski.

Minha última experiência com ele foi lendo Pulp, livro protagonizado por Belane, um detetive que tem que encarar os casos mais estranhos que lhe são trazidos por seus clientes nem um pouco convencionais. Foi muito bom, mesmo, e está entre os melhores do primeiro semestre.

Decidi, então, ler “Misto Quente”, que já estava por aqui há um tempo, e tem uma sinopse que retrata bem como é o livro, nem preciso dizer nada mais sobre ele:

“O que pode ser pior do que crescer nos Estados Unidos da recessão pós-1929? Ser pobre, de origem alemã, ter muitas espinhas, um pai autoritário beirando a psicopatia, uma mãe passiva e ignorante, nenhuma namorada e, pela frente, apenas a perspectiva de servir de mão-de-obra barata em um mundo cada vez menos propício às pessoas sensíveis e problemáticas. Esta é a história de Henry Chinaski, o protagonista deste romance que é sem dúvida uma das obras mais comoventes e mais lidas de Charles Bukowski (1920-1994).

Verdadeiro romance de formação com toques autobiográficos, Misto-quente (publicado originalmente em 1982) cativa o leitor pela sinceridade e aparente simplicidade com que a história é contada. Estão presentes a ânsia pela dignidade, a busca vã pela verdade e pela liberdade, trabalhadas de tal forma que fazem deste livro um dos melhores romances norte-americanos da segunda metade do século 20. Apesar de ser o quarto romance dos seis que o autor escreveu e de ter sido lançado quando ele já contava mais de sessenta anos, Misto-quente ilumina toda a obra de Bukowski. Pode-se dizer: quem não leu Misto-quente, não leu Bukowski.”

Então, peguei o livro e, logo no começo, já se pode ver que é um Bukowski, e dos grandes, quando, lá pela página quinze, dezoito, deparei com isso:

A mão da minha mãe cortou o ar. Fechou-se e ela a trouxe de volta à mesa.
– Peguei – ela disse.
– Pegou o quê? – perguntou meu pai.
– A mosca – ela sorriu.
– Não acredito...
– Vê a mosca voando por aí? Ela sumiu.
– Vai ver que voou para outro lugar.
– Não, está aqui na minha mão.
– Ninguém tem reflexos tão rápidos assim.
– Garanto que ela está na minha mão.
– Bobagem.
– Não acredita em mim?
– Não.
– Abra a boca.
– Está bem.
Meu pai abriu a boca, e minha mãe empurrou sua mão fechada sobre ela. Meu pai deu um pulo, agarrando o próprio pescoço.
– JESUS CRISTO!
A mosca saiu da boca e recomeçou a voar em círculos ao redor da mesa.
– Basta – disse meu pai –, estamos indo pra casa

 

É sério isso? É muito bom e me fez gargalhar por alguns minutos. É isso que se espera de um livro de Bukowski, essa franqueza, uma narrativa tão livre de padronagens e “isto pode, aquilo não” que o leitor se sente próximo à ele, e se encanta com a possibilidade de que aquilo ter sido mesmo real. Nada é impossível, contanto que Bukowski seja seu narrador.

O livro foi publicado pela L&PM na coleção Pocket. Sai resenha em breve.

12 comentários:

  1. Isso é um post espontâneo... Sei como você se sente, as vezes eu canso de tudo também e preciso voltar aos meus amores, aqueles cujos pensamentos me abrigam até de mim mesma e me deixam assim... meio feliz por nada e por tudo.

    Obrigada por compartilhar!

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    1. Pois é, Bukowski me provoca isso!, é sempre muito bom ler algo dele ;)

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  2. Achei bastante interessante, e como a Pandora disse acima, é um post espontâneo :D E adorei a citação, e também ri muito, kkk! Vou procurar ler ele.

    Abraços, Joshua Guimarães
    Blog Pensamentos do Joshua - pensamentosdojoshua.blogspot.com

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    1. Joshua, Bukowski é um gênio, mas tem a boca suja. Sinta-se avisado ;)

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  3. Nunca li Bukowski, mas já dezenas de gente que se dizem cults falando sobre Pulp. Adorei o post repentino, e esperarei pela resenha! :)
    Abraço,
    Vinícius - Livros e Rabiscos

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    1. Vinícius, eu não sou "cult" - e desconfio com todas as minhas forças de quem assim se proclama - mas curto muito Bukowski, vale a pena ler ;)

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  4. Oi, Luciano!
    Não li o livro, mas assisti a peça baseada no livro, encenada aqui no Brasil e o documentário “Bukowski: Born into this” que tem muito da vida do autor e do seu complexo de Édipo - ele odiava o pai - essa cena que cita é bem uma demonstração da vontade que ele tinha de fazer o pai comer insetos! (rs*)
    Bukowski era bastante ousado para a sua época, não criava personagens difíceis e fazia uso de muitos xingamentos (palavrões). Dizem que esse livro foi o melhor de todos. Vou esperar pela resenha!!
    Boa semana!!
    Beijus,

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    1. Luma, eu tenho um carinho todo especial pelo "Hollywood", mas também tenho me divertido bastante com "misto-Quente" ;)

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  5. Hahahahahahaha como muito bem disse a Pandora, post muito espontâneo! E isso é ótimo, adorei! Estou adiando a leitura de Bokowski porque realmente está difícil eliminar os livros da lista, mas acho que vou acabar me rendendo.

    Grande abraço.

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    1. Lu, espero que goste da obra do Velho quando o ler ;) ele tem uma pegada única, não dá pra sair ileso dela - mesmo que isso faça com que ela seja "amor e ódio".

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  6. Massa!!
    Bukowski tem sido bastante comentado, por amigos etc.. Alguma coisa especial ´´deve ter`` hehehe
    Bora adquirir mais um pra lista que nunca findará!

    Bjo
    Camilla

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