28 de abril de 2014

Colin Fischer, de Ashley Edward Miller e Zack Stentz [Resenha #169]

Colin Fischer - Texto


Sinopse: Resolvendo o crime. Uma expressão facial por vez. O ano letivo de Colin Fischer acabou de começar. Ele tem cartões de memorização com expressões faciais legendadas, um desconcertante conhecimento sobre genética e cinema clássico e um caderno surrado e cheio de orelhas, que usa para registrar suas experiências com a MUITO INTERESSANTE população local. Quando um revólver dispara na cantina, interrompendo a festinha de aniversário de uma das garotas, Colin é o único que pode investigar o caso. Está em suas mãos provar que não foi Wayne Connelly, justamente aquele que mais o atormenta, que trouxe a arma para a escola. Afinal de contas, a arma estava suja de glacê, e Wayne não estava com os dedos sujos de glacê…


Colin Fischer foi uma leitura rápida e prazerosa, como imaginei que seria.

No livro, conhecemos Colin, um adolescente portador da Síndrome de Asperger que está entrando no colegial. Há o enfoque do quanto o período pode ser traumático para os norte-americanos e, devido ao seu problema, especialmente para Colin. Essa conexão é sugerida de cara pelos autores e inteiramente aceita pelo leitor quando, logo em seu primeiro dia, Colin visita as águas de um sanitário, um oferecimento de Wayne Connelly, o “garoto problema”.

Os traços da síndrome em Colin são bem retratados pelos autores, ele é observador, e anota tudo o que se passa ao seu redor em um caderno, geralmente com o seguinte lembrete ao final “Investigar”. E, ainda, dessa característica advém outras tão importantes quanto para o andamento da história: um potencial dedutivo enorme e uma memória invejável capaz de guardar consigo os menores detalhes – apesar de ele, Colin, achar a memória humana traiçoeira, uma vez que ela elenca os fatos de acordo com a importância dos mesmos de forma subjetiva – e uma fluência incrível ao discorrer sobre assuntos de seu interesse. Além do já esperado em livros com personagens portadores de Asperger, como o problema com contatos físicos, espaço pessoal, e interpretação de frases, expressões e sentimentos.

A ação do livro em si se inicia quando, durante um incidente na cantina do colégio, uma arma dispara, alunos e professores fogem em pânico, e só resta no recinto Colin, intrigado pela aparição da arma. De quem ela seria? E qual a razão de alguém levar uma arma para o refeitórios da escola? Colin faz todas essas perguntas e não tem dúvidas de que culparam a pessoa errada quando apontaram Wayne Connelly, o garoto problema, como o responsável. Decide então provar não a inocência de Wayne, mas que estão errados e ele pode indicar a resposta certa.

Achei interessante o recurso utilizado pelos autores para fazer com que Colin se aproximasse de Wayne: um inocente apontado como culpado, um garoto com incríveis capacidades de dedução e que acredita poder encontrar a verdade. O agressor e a vítima. Colin tem dificuldades de se conectar com os outros alunos, e isso advém da síndrome, uma vez que, sendo incapaz de assimilar com perfeição as expressões e sentimentos humanos, ele acaba sendo “treinado” para reagir a elas, e isso o engessa a seguir um roteiro complexo do que se fazer e das rotinas que tem que seguir durante o dia. Com isso, tem apenas uma amiga, Melissa.

O foco no mistério e na investigação trás uma atmosfera mais límpida, não de humor, mas que nos proporciona uma leitura que agrada, faz bem. A narrativa, que mescla aberturas de capítulos em primeira pessoa, narradas por Colin, com a ação em si narrada em terceira,  não é trágica e não aposta na fragilização dos sentimentos de quem lê, e isso é uma novidade para mim em se tratando de sick lit, e agradeço aos autores por isso. Aqui não há vitimização, e, se as coisas não estão bem, também não é preciso se desesperar, Colin se mostra mais adaptável aos imprevisto do que ele, aposto, mesmo acreditaria ser possível.

Agora é difícil não linkar o livro com “Passarinha”. Acho que uma das grandes diferenças do “Colin” para o “Passarinha”, cuja protagonista também é portadora da Síndrome de Asperger, é o contexto no qual os autores decidiram inserí-la. Enquanto em Passarinha, a protagonista, Caitlin, vinha de uma família desestruturada, com uma mãe falecida e um pai que não conseguira superar a trágica morte do filho, filho este que era quem “traduzia” o mundo para a irmã; Colin tem pais presentes e preocupados, que sabem lidar com seu problema, lhe dão espaço e fazem de tudo para que ele consiga se adaptar ao cotidiano. Em muitos momentos, Colin cita sua terapeuta, e apesar de em diversos trechos ele tomar uma interpretação nada convencional do que ela tenta lhe explicar, é inegável o quanto ela é importante para que ele entenda os roteiros sociais. Podendo pecar pela generalização, dá pra resumir da seguinte forma: em “Passarinha” o leitor deveria chorar; já em “Colin Fischer”, conhecer tudo de que é capaz um portador da Síndrome, que resulta no fato de levar uma vida como outra pessoa qualquer.

Gostei bastante da amizade incipiente que Colin consegue, e de algumas dicas que os autores deixam escapar ao longo do último capítulo. Eu torci por Colin, mas também torci o nariz para um ou dois fatos, nada que cause um ataque fulminante, mas que poderiam ter sido melhor explicados. Agora, o melhor mesmo é a promessa de um novo livro que se insinua nas últimas linhas. Espero por ele, ansiosamente. Colin é um cara legal.

 


+ sick lit

Corações Feridos, de Louisa Reid
Extraordinário, de R.J. Palácio
O Enigma da Borboleta, de Kate Ellison
Passarinha, de Kathryn Erskine


 

Colin Fischer, de Ashley Edward Miller e Zack Stentz (Colin Fischer, 2012 Tradução de Henrique Amat Rêgo Monteiro, 2014) – 176 páginas, ISBN 9788581634166, Editora Novo Conceito.

{B+}

16 comentários:

  1. Olá Luciano,
    Mesmo não tendo lido "Passarinha", consegui lembra-lo dele quando li a resenha desse livro. Confesso, que este livro não me interessou de cara, passaria longe dele numa livraria. Mas, o tema, Síndrome de Asperger, me chama muita atenção desde que assisti a uma temporada de Grey's Anatomy e lá tinha uma médica com essa síndrome.
    Então sim, pretendo ler e muito mais agora com suas ponderações. Ótima resenha!

    Lucas - Carpe Liber
    http://livrosecontos.blogspot.com.br/

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    1. Lucas, eu acho que a "grande sacada" dos chamados sick lits são os livros onde os personagens possuem algum tipo de desordem mental e/ou psicológica, pois aí o autor consegue entrar em um mundo completamente diferente. Pessoalmente são os que mais me chamam a atenção.

      Agora, recomendo a leitura de ambos, "Passarinha" e o "Colin Fischer", eles retratam o mesmo problema de pontos de vista diferentes, acho bacana fazer a comparação.

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  2. Ah, esse é o tipo de livro para ler e curtir. Nada de problemas ou dramas só uma boa história com um protagonista, pelo visto, cativante. Entrou para minha lista lindamente Luciano... Aaaah, eu quero ler!!!!

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    1. Pandora, pois é, é uma mudança muito bem vinda no gênero, ele não nos procura fazer chorar, ao contrário, a gente sorri em diversos momentos da leitura. Vale muito a pena ler!

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  3. Ai que resenha fofa ♥ É uma das minhas próximas leituras, e o fato de você ter citado Passarinha já me deixou morrendo de vontade de ler logo.
    Gosto do tema, acho ótimo que autores explorem mais e mais este tema.
    E que bom que não é tão triste, sei que vou me divertir muito!!

    Adorei!

    Bjkas

    Lelê - http://topensandoemler.blogspot.com.br/

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    1. Lelê, pois é, o livro não apela muito para o sentimentalismo e isso é uma mudança muito bem vinda! A leitura é bem leve e rápida, acho que vai gostar ;)

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  4. A premissa do livro me parece interessante, livros que retratam a realidade de pessoas com alguma dificuldade cognitiva sempre me interessam, e com este livro não foi diferente. Ainda estou me devendo a leitura de Passarinha também, acho que é um combo a se considerar.

    Ótima resenha, como sempre!!!

    Abraços!

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    1. É uma boa pedida ler os dois, eles tem pegadas diferentes, visões diferentes sobre a síndrome, e ambos são livros muito bons ;) Vale ler!

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  5. Inicialmente pela capa do livro não me liguei muito, mas depois de ler algumas resenhas positivas e mais a sua que não só detalhou bem como fez comparativos muitos importantes com relação aos diversos comportamentos do portador da Síndrome de Asperger.
    Li também o Projeto Rosie que retrata a história de um professor e universidade na cadeira de Genética super metódico que mostra os inúmeros TOC's , mas depois que ele dá uma palestra para portadores da síndrome de Asperger isso o impressiona pelo coeficiente cultural deles.
    Da mesma forma como tive pessoas conhecidas que constataram em seus filhos após 3 anos de idade essa síndrome.
    Enfim uma síndrome que cada vez está mais em evidência e livros surgem retratando diversas histórias.
    Gosto de ler suas resenhas.
    Espero estar lendo esse livro agora para semana.
    Beijos
    Saleta de Leitura

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    1. Irene, o livro é muito interessante e trás um lado "não dramático" do problema, e é interessante acompanhar a história sob esse ponto de vista. Vale a pena ler ;)

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  6. Oi, Luciano!
    Eu quero ler esse livro! :D Me interesso muito pelas pessoas portadoras dessa síndrome; Elas são simples, diretas, sinceras... Ao contrário do jogador Messi, que também é portador, mas no caso dele, é quase que um "marginal", pois usa da sua especialidade e da síndrome, para bullyingnar outros jogadores.
    O argumento do livro é muito bom!
    Beijus,

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    1. Luma, eu gostei bastante, leitura simples, não apela para o sentimentalismo, e isso é uma novidade no enfoque dos livros do tipo. Vale muito a pena ler ;)

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  7. Oi Luciano,
    Que estranho te chamar pelo nome, parece que nem te conheço...suahsua....chamo todo mundo por algum apelido..shuahsa...bem o caso é que foi meu irmão que leu esse livro pra mim esse mês...saushua...e bem ele não gostou muito, mas lendo sua resenha acho que eu teria gostado mais que ele....mas é legal ver as opiniões diversas sobre uma mesma leitura....mais a frente vou pegar para ler...=D.....beijokas elis - http://amagiareal.blogspot.com.br/

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  8. Este Colin é um dos mais novos queridinhos dos blogs. rsrsrs Pois só leio elogios e comentários de como é diferente e interessante. Muito bom isso. O livro não havia me conquistado no começo por causa da capa, mas depois que li as resenhas,vi como foi injusta minha justificativa. realmente não devemos julgar um livro pela capa. Ele pode ser excelente como este o é. Beijos.

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  9. Eu não conheço muito bem a Síndrome de Asperger e sua resenha me deixou bastante curiosa para ler os 2 livros citados. Mas creio que este do Colin me agradará mais, uma vez que goste de livros com tons mais positivos sobre a vida (sim, sou das melhores otimistas do planeta!).

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  10. Nao sei porque mais tenho uma certa paixão com personagens assim, eles são tao especiais e passam uma otimo pensamento para quem le. Gostei da trama do livro, ambos livros que foram citados estou agoniada para ler, enfim vou colocar na minha lista.

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Oscar