23 de junho de 2014

Minha Vez de Brilhar, de Erin E. Moulton [Resenha #175]

Minha Vez de Brilhar - Com Texto

 

 

 

 

 

 

 

 


Sinopse: Em uma noite, Indie faz um pedido para uma estrela. Ela quer muito reencontrar a sua lagosta de estimação, e também quer que sua irmã Bibi volte a gostar dela. Mas ter os seus desejos realizados pode exigir dedicação integral! Indie trabalha no teatro durante o dia, mostrando a Bibi e seus amigos o quanto ela pode ser útil. À noite, ela procura sua lagosta perdida, e para isso conta com a ajuda de seu novo grande amigo, Owen. Tudo vai bem até que Bibi e sua turma começam a pegar no pé de Owen, o maior exemplo de nerd e futuro loser. Será que Indie vai conseguir manter em segredo sua amizade com Owen? Será que, para ser uma pessoa melhor, Indie precisa mesmo ser diferente?


Há quem defenda que é uma perda de tempo que uma pessoa leia livros que são indicados para leitores de uma faixa etária menor que a dela. Bom, eu acho que é uma perda de tempo ficar se metendo na vida alheia e decidindo o que é ou não válido que ela leia. Se eu levasse esses extremistas que parecem fazer parte de uma milícia literária em conta, teria perdido uma excelente experiência com um livro infantojuvenil. Estou falando do “Minha Vez de Brilhar”.

Escrito pela autora Erin E. Moulton, que tem publicado também pela Editora Novo Conceito o “A Jornada”, que ganhou boas resenhas alguns anos atrás, o livro nos apresenta Indie Chickory, uma garota de onze anos, que sente o afastamento da irmã mais velha, antes sua amiga inseparável, mas que entrara na adolescência e agora tinha coisas mais importantes em que pensar do que travar batalhas de caretas de peixe ou deitarem no gramado olhando as estrelas nascerem, traçando as constelações com os dedos.

Como moram em uma cidade costeira, boa parte da atividade econômica se concentra na pesca e no turismo. O pai de Indie é proprietário de uma embarcação pesqueira, e de um restaurante de frutos do mar. Assim, ela tem intimidade com peixes, conhece centenas de espécies, e não sente o nojo natural que vem do cheiro de entranhas e vísceras do bicho. É tudo muito natural para ela, faz parte do seu dia-a-dia, do modus operandi de sua família, mas essa naturalidade irrita sua irmã, que tem apenas uma prioridade em sua vida: ser perfeita.

Indie sofre bullying na escola. Ela tem cabelos embaraçados, se veste como um menino, e cheira a peixe. Isso é o suficiente para que se torne um alvo, e que as outras garotas a apontem, reclamem do mal cheiro, e a chamem, entre outras coisas, de peixólatra. A princípio ela faz a linha do “não ouvi e, de qualquer forma, não me importo com o que você está dizendo”, mas essa é uma atitude vazia, todo mundo sente o baque de uma ofensa, por mais que se tente disfarçar. Indie sente o golpe, que se torna mais doloroso quando ela percebe que sua irmã, Bibi, não mais a defende.

À lista de coisas pouco usuais que se atribuem à Indie, se soma seu bicho de estimação: Monty Cola, uma lagosta dourada que, segundo seu pai, só existem uma em milhões douradas como ela. Porém, um incidente acontece, e Monty Cola se perde no mar.

Eu gostei da forma como a autora tratou dos desejos e da insegurança de Indie. Nada é muito visceral, tudo é tratado com muito tato, mas ao mesmo tempo com muito respeito ao público do livro. Indie quer coisas muito simples e que falam diretamente com o leitor, independente da idade que ele possua: se tornar uma pessoa melhor; e, claro, reencontrar Monty Cola. Elas faz esses pedidos às estrelas.

Além do que, é uma fase complicada a pré-adolescência, e a autora se insinua por uma questão que é especialmente problemática. A identidade. Indie quer se tornar uma irmã melhor, mas o preço a pagar por isso é se deixar moldar por Bibi da forma que ela bem quiser. Ela quer deixar de ser apontada e hostilizada pelas outras garotas, mas para isso tem que lidar com o fato de que admira muito Owen, um garoto nerd, que usa óculos e tem algumas manias estranhas, mas que ela reconhece como um dos garotos mais legais do mundo, sabendo que estar com ele faz dela novamente um alvo. Acho que isso se chama dilema.

Daí vem a questão: até onde é válido se transformar para agradar outra pessoa? E o que significa uma amizade?

O livro tem um toque de estranheza que agrada aos mais novos: um animal de estimação diferente, uma garota diferente, amigos diferentes. Quando tinha a idade de Indie, essas coisas me atraíam em uma leitura – fui um feliz leitor da Coleção Vaga-Lume!, e os livros com toque de mistério ou que fugiam do lugar comum eram meus preferidos – então acho que a autora acertou em cheio ao apostar nesses elementos. E, olhando mais friamente, o estranho é o normal. Existem no mundo mais gente estranha do que gente normal. Eu posso indicar dez pessoas estranhas para cada Angelinas Jolies e Cristianos Ronaldos que conheço. Assim, consegue-se também a tão bem vinda “identificação”.

Gostei muito também de como a autora introduziu no texto os paralelos entre céu e mar. Não bastasse morar em uma cidade costeira, Indie também aprecia as estrelas. E o livro perdeu um pouco na tradução do título – no original é Tracing Stars – pois os astros são um elemento importante na esperança que Indie tem de se tornar uma pessoa melhor, no que ela, enquanto criança, acredita.

O livro é mais um lançamento do selo #irado, da Editora Novo Conceito, e segue com um trabalho muito caprichado, em capa dura, e com diagramação cheia de detalhes. Eu gostei. Mesmo sendo já um tanto mais velho que o público alvo, o livro conseguiu conversar comigo. Até por que, eu posso até não ser mais aquela criança, mas ainda me lembro constantemente dela.

 

Minha Vez de Brilhar, de Erin E. Moulton (Tracing Stars, 2012 Tradução de Bianca Bold, 2014) – 188 páginas, ISBN 9788581635033, Editora Novo Conceito, #irado.

{B+}

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12 comentários:

  1. Essa história de idade certa para livros é pura balela! Eu acho sim que existe uma certa "triagem" e tem livros que me incomodam exatamente por serem muito juvenis, mas tem autores que sabem muito bem conduzir suas histórias de forma mais democrática, e se eles têm esse talento, por que não prestigiá-los, certo? Acho válido!

    Eu fiquei curiosa a respeito desse livro, mas na atual situação, talvez eu só consiga lê-lo em e-book. Adorei as novas imagens das resenhas, deu um toque elegante!

    Abração!

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    1. Então, também acho desnecessário esse policiamento..... não tem explicação, e eu estou em uma fase bem infanto juvenil em minhas leituras ;)

      E obrigado!! Eu queria mudar o blog, mas achei mais fácil inventar outra coisa que mudar o layout ;)

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  2. Hoje, devido ao fim do semestre, passei a metado do meu tempo corrigindo provas na sala dos professores e quando uma das professoras disse que eu pareço "Bete a feia" eu lembrei muito bem da menina que fui na infância.... E acho bobagem ditar regras de leitura para os outros, cada um sabe o que gosta de ler e o que não gosta, eu vivo relendo "Alice no país das maravilhas" e qual é o problema?!? E sim, eu não era fã da "Série Vagalume", mas sou fã de protagonistas diferentes, de pessoas que passam por dilemas e de livros que agradam meus amigos leitores cri cri. "Minha vez de brilhar" já estava na minha lista, agora é leitura fundamental.

    Cheros Luciano, como sempre um prazer está aqui na segunda. A resenha ficou inspirada :)

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    1. Essas regras são castradoras demais, nem vale à pena levá-las em consideração. Olha, vale a pena ler o livro, ele é bonitinho, bem escrito, dá gosto ler.

      Ah, mas a Bete é a eficiência em pessoa ;)

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  3. A Erin é muito boa em falar para jovens né? Eu li A Jornada e gostei, mesmo eu não sendo jovem, rsrs.
    Este livro está lindo, e sua resenha está perfeita.
    Ainda não li o livro, mas pretendo fazer isso logo pois sei que vou curtir muito.
    Adorei saber que ela é diferente e tem um animal de estimação diferente, rsrs. Muito bom isso!!!!

    Adorei, adorei, adorei!!!

    Bjks

    Lelê - http://topensandoemler.blogspot.com.br/

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    1. Muito boa mesmo! Eu fiquei curioso pra ler o livro anterior dela, ela tem uma narrativa cativante, e um ritmo constante que me agradou. Vale muito a pena ler o "Minha Vez de Brilhar", espero que goste ;)

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  4. Não vou julgar o livro pela faixa etária nem nada, até porque eu mesma leio livros infantis e acho lindo. Porém, esse livro em específico não combina com o tipo de leitura que eu gosto, principalmente por me passar a sensação de ter um roteiro um tanto "bobo", posso estar errada, mas é uma sensação que eu tenho.

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    1. Débora, eu não chamaria de bobo, eu diria que é terno. Mas é aquela coisa, cada um sabe bem com que tipo de literatura combina... eu acho que vale a pena lê-lo ;)

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  5. Oie,
    Sou daquelas que nós adultos, podemos ler até gibi que está valendo. O importante é ler e com certeza apreciei muito a resenha, pois por mais que o livro seja infanto, ele nos faz recordar alguns bons momentos da infância. Eu gosto de retornar a recordações e me comparar com os personagens. Creio que gostarei muito da leitura...bjus Elis!!!

    http://amagiareal.blogspot.com.br/

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    1. Elis, também sou dessa opinião!!! Tomara que goste do livro, ele nos coloca pra pensar.

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Oscar