14 de julho de 2014

O Teste, de Joelle Charbonneau [Resenha #178]

O Teste - Texto


Sinopse: No dia de formatura de Malencia ‘Cia’ Vale e dos jovens da Colônia Cinco Lagos, tudo o que ela consegue imaginar – e esperar – é ser escolhida para O Teste, um programa elaborado pela Comunidade das Nações Unificadas, que seleciona os melhores e mais brilhantes recém-formados para que se tornem líderes na demorada reconstrução do mundo pós-guerra. Ela sabe que é um caminho árduo, mas existe pouca informação a respeito dessa seleção. Então, ela é finalmente escolhida e seu pai, que também havia participado da seleção, se mostra preocupado. Desconfiada de seu futuro, ela corajosamente segue para longe dos amigos e da família, talvez para sempre. O perigo e o terror a aguardam. Será que uma jovem é capaz de enfrentar um governo que a escolheu para se defender?


Uma coisa é inegável: o sucesso de Jogos Vorazes abriu caminho para que ou que diversas séries distópicas fossem publicadas por aqui ou que aquelas já em publicação ganhassem maior destaque. Eu gosto do gênero, do assombro que sempre me causa pensar o quanto de hipotético um futuro distópico tem se olharmos para o mundo como o vivemos hoje. Se as distopias se caracterizam por retratar um futuro sombrio onde a população sobrevivente a um evento próximo da extinção são subjugados por uma elite dominante e opressora, eu não me considero pessimista ao ver que há coerência e coesão se olharmos para o nosso presente e identificarmos caminhos que nos levarão até um futuro assim.

Se não me engano estou acompanhando quatro – Estilhaça-me, Divergente, Weepers, Starters – e tenho interesse em pelo menos mais duas – Jogos Vorazes e Legend –, além do original Battle Royale, e mesmo que o esboço inicial de todas elas sejam muito parecidos, cada uma tem particularidades que as façam valer a pena serem lidas.

No caso de “O Teste”, os personagens estão inseridos em um mundo, o nosso, em um futuro onde uma série de guerras com uso de armas químicas, biológicas, atômicas e o quanto mais que se puder imaginar tiveram curso, que levaram a um esgotamento da capacidade de regeneração do planeta, e, claro, à extinção ou mutação de formas de vidas animais e vegetais. No livro fala-se em Sete Estágios de Destruição. A sociedade que emergiu após o sétimo estágio se reagrupou em torno de um sistema que evidencia a figura do líder, uma vez que atribuem à fraca liderança das potências mundiais quando do colapso, em especial a americana, a  principal razão para que a guerra não fosse terminada mais cedo.

A reconstrução se baseia em um sistema de colônias fundadas nos mais variados lugares, a fim de que sejam reparados os danos pós-destruição, com cada uma dessas colônias fornecendo às outras e ao poder central – a capital, Tosu City – os recursos que elas são mais capazes de produzir. Se uma colônia, por exemplo, consegue neutralizar as toxinas do solo, ela fornece alimentos às outras; enquanto se uma outra é mais capaz em produzir energia, fóssil ou solar, é isso que ela tem a oferecer.

Mas para essa reconstrução é necessária mão-de-obra especializada, assim como líderes. Com isso, todos os anos, cada colônia envia à capital alguns jovens que devem participar d’O Teste, uma espécie de vestibular para saber quem é apto à cursar a universidade e assim poder ser enviado a alguma das colônias para ajudar a sociedade em seu desenvolvimento. Até aqui tudo bem.

Malencia, ou Cia, para a família e os amigos, mora na colônia de Cinco Lagos e quer muito ser selecionada para o teste, a fim de poder cursar a universidade, como seu pai. Mas, quando ela é escolhida, seu pai não fica muito feliz, e tem com ela uma conversa decisiva.

Acho justo os ideais pelos quais são regidas a sociedade no livro. O foco na capacitação dos líderes para que eles conduzam o desenvolvimento da sociedade é algo lógico, mas daí eu paro para pensar – e os acontecimentos subsequentes do livro me ajudaram nessa – que tipo de líderes eles estão buscando? Um benevolente mas suscetível de ser intimidado, ou alguém pronto para qualquer coisa – mas qualquer coisa mesmo? Cia logo percebe que o teste é algo bem mais difícil do que imaginava, e erros não são tolerados, assim como poucos são dignos de confiança.

Um deles, aparentemente, é apenas o primeiro volume da série então é prematuro se fazer juízo de valor com alguma pretensa precisão, é Tomas, da mesma colônia de Cia e que já nutria por ela digamos que cores especiais. Eu teria ficado muito frustrado se a autora  optasse por inserir no ambiente hostil, degradado, repleto de animosidade, um romance bonitinho ou doce demais. Não combinaria com nada e nem faria bem a ninguém. felizmente não é o que ela faz. Em um livro que trás um teste que propõe verificar até onde cada candidato pode ir, corações demais só atrapalhariam.

Este é meu segundo livro da Única – o outro foi o Garota Interrompida – e sigo gostando muito do trabalho que ela desempenha. O Teste, em especial, tem um trabalho gráfico de capa bastante caprichado. Eu gostei muito do tom da narrativa durante todo o livro, a autora soube imprimir impressões fortes, há tensão, há desconfiança, uma sugestão de medo e temores pelo futuro. Fiquei empolgado com a série, e a continuação, Estudo Independente, já foi lançada pela editora. Para quem curte distopias, “O Teste” é uma excelente opção.

 


A editora disponibilizou um ebook grátis  introdutório ao livro, que nos dá uma noção maior do que acontece em Cinco Lagos, do clima familiar onde Cia está inserida. Gosto desses adendos, eles são sempre bem vindos ao expandirem o universo da série.

 

O Teste - Teste Livro 1, de Joelle Charbonneau (The Testing, 2013 Tradução de Santiago Nazarian, 2014) – 320 páginas, ISBN 9788567028231, Editora Única. [COMPRAR NO SUBMARINO]

{A-}

 

 

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8 comentários:

  1. Já lançaram o segundo e eu ainda não li o primeiro.
    Eu ganhei de presente e venho enrolando. Quero muito ler, mas não tive tempo.
    Resenha linda como sempre.
    Realmente JV deu um chute maior para os lançamentos das distopias, mas existem muitas maravilhosas e bem antigas.
    Das que você quer ler, eu li e recomendo JV e Legend.
    Todas são parecidas em alguma coisa, mas cada uma tem seu quê de diferente e que me ganha de coração!!
    Adoro várias, e O Teste com certeza será mais uma que vou ler, acompanhar e amar.
    Quero ler em breve!!

    Bjks

    Lelê - http://topensandoemler.blogspot.com.br/

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    1. Lelê, o livro é muito bom e termina de uma forma surpreendente, tenho de ler o segundo logo! É muito bom quando, em meio a uma porção de títulos do gênero, algo novo se sobressaia, e é o caso do "O Teste". Vale a pena ler ;)

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  2. Estou a 300 páginas de colocar fim a leitura de "Jogos Vorazes", o livro praticamente se ler então isso não é muito acredite. Mas, não sei se depois disso vou querer voltar ao gênero porque a Suzanne Collins inspirada em Battle Royale está dando tantos socos em meu estomago que eu não aguento... O vol. 3 deveria se chamar "Desesperança" e não "Esperança" e o que esse azul na capa?!?! Azul é minha cor feliz e ela está estragando até isso... E sim "Jogos Vorazes" é genial.

    Li também, por culpa sua [estou tão dawn que não consigo dizer influência] a "Trilogia Estilhaça-me" e gostei muito do lirismo da autora, das suas escolhas para os personagens, embora ela tenha deixado o romance sufocar a distopia, no final o livro virou um "Morro dos Ventos Uivantes" com final tipo "Orgulho e Preconceito", mas foi legal.

    Quanto a "O teste", vou precisar superar toda essa ressaca literária, ler alguns bons romances açucarados [mas que péssima ideia pegar depois de "O festim dos corvos" esse "Jogos Vorazes"] para depois encarar outra distopia, quando fizer isso no minimo tenho que saber que o livro não tem tanto drama no meio, porque se romance estraga a distopia o drama estraga meu humor kkkk....

    Cheros Luciano! :)

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    1. Kkkkk, é a vida! Eu tenho nutrido certa curiosidade pelo Jogos Vorazes, mas de uns tempos pra cá me bateu uma vontade maior de ler o Battle Royale, então não sei, devo demorar ainda um pouco mais. Eu estou esperando terminar com o Gaiman para ler o desfecho de Estilhaça-me, acho que a autora pesa um pouco a mão no romance, vamos ver como ela se sai.

      E, sim, se puder, leia o "O Teste", vale a pena ;)

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    2. Pesa um pouco é uma metáfora néh?!?! Ela foca nisso, da até raiva!!! kkkkk Eu precisa de um tempo até poder me aventurar em distopias, mas nunca se sabe néh?!?!

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  3. A editora disponibilizou um capítulo de graça desse livro em e-book e eu vou ler para saber se quero ou não me aprofundar nessa saga. Depois de já ter lido Jogos Vorazes, Divergente, Starters (inserir onomatopeia de vômito) e Legend, além das distopias clássicas, ainda me pergunto se o gênero tem algo de novo a me oferecer. Não sei se eu entendi direito como a sociedade de O Teste está construída, mas me pareceu semelhante à Divergente, então eu meio que pergunto: what's the point?

    Ainda vou decidir se incluo O Teste na minha lista ou não =) ótima resenha!!!

    Abraços!

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    1. Lu, no geral acho que ele e Divergente estão em um patamar semelhante no que diz respeito à estruturação do universo da série e tals, mas a Joelle sai na frente com a narrativa, ela é mais experiente e precisa, dominando de forma mais pontual o texto.

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  4. Primeiramente, peço perdões pela minha gigante ausência, mas, os estudos estão me sufocando!!! Porém, consegui uma folga antes das provas neste final de semana, para dar uma passada nos blogs :)

    Então, eu já li "O Teste" e "Estudo Independente", e sou um fã de carteirinha do gênero distópico. Já li tantos do segmento, desde os mais aclamados atualmente, "Jogos Vorazes" e "Divergente", e alguns outros que estão lutando por seu espaço, como "Legend" e "A Seleção". Bom, há muitos outros, como os clássicos e etc, etc...

    Sobre "O Teste", eu realmente adorei o que a Joelle criou, e isso se concretizou ainda mais em sua sequência. É o tipo de distopia que cumpre o que promete, bem fechadinha, e com um enredo genial. Os personagens ganham facilmente a simpatia do leitor, e principalmente, é fácil engolirmos o estado distópico da série.

    Atualmente, já que terminei a trilogia "Divergente", é minha paixão no segmento, e fico ainda mais feliz que a Única vai lançar o último, "Graduation Day", ainda esse ano :D

    Abraços,
    - pensamentosdojoshua.blogspot.com

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