11 de abril de 2013

A Seleção – The Selection Livro 1, de Kiera Cass [Resenha #120]

A Seleção


Sinopse: Para trinta e cinco garotas, a “Seleção” é a chance de uma vida. Num futuro em que os Estados Unidos deram lugar ao Estado Americano da China, e mais recentemente a Illéa, um país jovem com uma sociedade dividida em castas, a competição que reúne moças entre dezesseis e vinte anos de todas as partes para decidir quem se casará com o príncipe é a oportunidade de escapar de uma realidade imposta a elas ainda no berço. É a chance de ser alçada de um mundo de possibilidades reduzidas para um mundo de vestidos deslumbrantes e joias valiosas. De morar em um palácio, conquistar o coração do belo príncipe Maxon e um dia ser a rainha.

Para America Singer, no entanto, uma artista da casta Cinco, estar entre as Selecionadas é um pesadelo. Significa deixar para trás Aspen, o rapaz que realmente ama e que está uma casta abaixo dela. Significa abandonar sua família e seu lar para entrar em uma disputa ferrenha por uma coroa que ela não quer. E viver em um palácio sob a ameaça constante de ataques rebeldes.

Então America conhece pessoalmente o príncipe. Bondoso, educado, engraçado e muito, muito charmoso, Maxon não é nada do que se poderia esperar. Eles formam uma aliança, e, aos poucos, America começa a refletir sobre tudo o que tinha planejado para si mesma — e percebe que a vida com que sempre sonhou talvez não seja nada comparada ao futuro que ela nunca tinha ousado imaginar.


Li em alguns blogs que “A Seleção”, primeiro volume da série “The Selection” se tratava de uma distopia, outros de um romance e, ainda, havia quem defendia que se tratava de uma mescla de ambos. Faço parte do último time: o livro trás elementos pontuais que remetem à uma distopia, mas apresenta uma “quantidade” tão grande de romance que ambos os gêneros chegam a se chocar no momento de uma conceituação. Mas isto importa? Não!

Fiquei com o livro na estante um bom tempo e, mesmo que as melhores resenhas me causassem um comichão para o ler logo acabei deixando-o lá até que o lançamento de “A Elite”, segundo volume da série, fosse iminente – deve acontecer ainda este mês – para não ter que ficar esperando tanto tempo pela continuação em uma tortura sem fim digna do ser compulsivo que sou.

Decidido a ler, me deparo com America, uma jovem que vive em uma sociedade dividida em castas,  enumeradas de 1 a 8, sendo 1 a realeza – o Rei, a Rainha, e o Príncipe – e a 8 a mais baixa, servos sem direito nem mesmo à educação básica. America pertence à casta 5, e dentre as atividades que pode exercer estão às artes, e ela tem especial talento para o canto e instrumentos de corda, então se apresenta em troca de remuneração para ajudar em casa.

No futuro apresentado pelo livro, os EUA se dissolveu, ocorreram a terceira – e se não me engano também a quarta – guerra mundial e o que restou do país se juntou em um novo agrupamento, um novo país chamado Illéa, que tem como sistema de governo a monarquia autoritária.

É aqui que o livro se aproxima das distopias: em um futuro hipotético, uma guerra aconteceu, pessoas morreram, a civilização como se conhecia foi destruída e a que surgiu em seu lugar lembra muito pouco a democracia de outrora. Divididos em castas, o povo é obrigado a viver de acordo com o que lhe é permitido e com pouquíssimas esperanças de ascensão social, tendo de conviver, a maioria das castas, em condições sub-humanas e com a presença constante da fome e da insegurança.

Mas a parte romântica não fica tão longe, e America é apaixonada por Aspen, um garoto de uma casta inferior à sua, e espera viver com ele abertamente, já que graças a uma política do governo, não podem assumir o romance, ao menos não ainda. Mas tudo muda quando ela é convidada a participar d’A Seleção: o príncipe se aproxima da idade para se casar e, como é costume, levado também pelo isolamento que a família real vive,  o evento social se faz necessário para que ele tenha contato com aquela que, dentre as escolhidas, será sua futura esposa e Rainha de Illéa.

Aspen pede que America se inscreva, por mais que ela não demonstre interesse algum na Seleção, explicando que ele não ficaria em paz consigo mesmo se acreditasse que, de alguma maneira, impediu que ela tivesse um futuro glorioso como rainha. Ela aceita se inscrever, ajudada por uma oferta da mãe, apesar de achar que em todo o reino existam milhares de moças mais belas e interessantes que ela. A mãe de Aspen comenta, na fila de inscrição para a Seleção, que seu filho está juntando dinheiro, está diferente e ela pensa que ele vai se casar logo. É de uma ironia monstruosa por parte da escritora, Kiera Cass, que o sorriso que America dá ao tirar uma foto para a inscrição, de pura felicidade por se imaginar esposa de Aspen, seja, provavelmente, o que fez com que ela seja selecionada entre as 35 garotas a participar da seleção!

America é uma personagem adorável. Apesar de ser apenas da casta 5, ela não se faz de coitadinha, e mesmo ante as dificuldades sabe muito bem onde está sua dignidade para agir de acordo com a situação. E ela precisa de muito jogo de cintura para conviver com as outras 35 candidatas da Seleção, pois imaginem o clima hostil que deve surgir ao se trancafiar em um castelo tantas jovens juntas concorrendo ao grande prêmio: um príncipe. Posso dizer que ela se sai bem e, graças ao acaso, consegue conhecer Maxon, o príncipe, antes que as outras, e começar a perceber que, na realidade, ele pouco se parece com a figura deslocada e distante que sempre aparece na tv.

A justificativa da Seleção, que lembra muito o baile da Cinderela, pode não ser original, mas funciona muito bem. Há muita coisa por trás da aparente intocabilidade do castelo e seus moradores reais que me atiçaram como leitor, fazendo a leitura fluir rapidamente.

Fico admirado com o tanto que a autora conseguiu condensar nas páginas do livro. Me sobrou material para, até mesmo, questionar a figura paternalista do rei e, não há como tirá-la do bolo, da Rainha. Apesar de adorado pelo povo, que anseia por suas aparições públicas na tv, ele nada faz para mudar a estrutura social, esconde detalhes da política de seu país – como o que querem os chamados “rebeldes”  que vez ou outra invadem o castelo – e corrobora com práticas violentas e medievais, que muito lembram os regimes autoritários que, mesmo atualmente, se podem ver por aí: punições severas para pequenos crimes, como o furto – mesmo se motivado pela fome e inanição – a prática sexual antes do casamento, e um toque de recolher que tem um caráter bastante miliciano, ainda mais se se considerar que sua justificativa é a de “proteger” a população.

Sem contar que a Seleção em si me parece uma política de Pão e Circo: 35 garotas escolhidas sem, num primeiro momento, se levar em consideração sua casta, abrindo oportunidade para a ascensão social de qualquer uma delas. Todos os pertencentes àquela casta passam a torcer pelas suas representantes, tendo, inclusive, uma falsa ilusão de que elas são um exemplo vivo da mobilidade social do regime, mas não é bem assim! Por mais que estas meninas colham bons frutos, o sistema social de Illéa seria o carvalho e não o junco naquela famosa fábula.

O livro se desenvolve bem, a autora tem o enredo nas mãos e não se perde em nenhum momento. Por mais que acompanhar a seleção de uma nova princesa possa parecer bastante fútil e arrastado, há veneno e ódio o suficiente no ar entre estas garotas para tornar tudo divertido – e, ainda, não se pode esquecer os segredos que a formação do Estado de Illéa escondem, assim como os elementos distópicos.

Eu também gostaria de falar sobre a amizade de America, mas tenho medo de ser spoiler. Mas acho que posso falar que ela parece forçada no início. Outro ponto que me deu uma incomodada foi que, em alguns momentos, o livro tem um problema de – na falta de uma palavra melhor – continuidade. America esta na sala então pega um vestido no quarto. É um detalhe, mas eu gostaria de ver ali algo como “No quarto ela”, ou “após ir ao quarto”, etc., são coisas assim que fazem um livro {A} ganhar um variante {-} .

É um bom começo de série, a autora faz com que nos envolvamos o bastante para que nos sintamos preocupados com America, então mal posso esperar para ler “O Príncipe”, conto gratuito que será foi lançado pela Seguinte e que mostra a visão do Príncipe Maxon sobre a Seleção – será que ele é um cara legal o bastante para que America fique com ele e não com Aspen? Enfim, promete, e vale a pena acompanhar.

 

*Para fazer o download de “O Príncipe”, clique aqui.

 

A Seleção, de Kiera Cass (The SelectionTradução de Cristian Clemente, 2012).  368 páginas, ISBN 9788565765015  Editora Seguinte. [Comprar no Submarino]

{A-}

19 comentários:

  1. A Aleska leu esse livro e o melhor foi a boa reflexão que fez sobre distopias, que inclusive foi parar em uma aula minha sobre teoria da história com sucesso significativo - e eu nem contei a ela.

    É um livro que a priore não me interessou, porque já estava com três séries na época (Trilogia do Mago/Jane True/Heróis do Olimpo) e você sabe como séries nos deixam... O mercado editorial se aproveita de nosso bolso demais. Mas estou gostando das resenhas, então quando a história tiver completa é uma daquelas que pode entrar no meu sesto de compras no submarino/saraiva e derivativos.

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    1. Eu bem sei como é seguir tantas séries, tenho que parar pra ver quais tenho lido, pois, sinceramente, já me perdi.

      Gostei do livro, é bem escrito e permite uma boa margem de interpretação acerca do caráter dos personagens, o que é bem vindo, não fica naquela do "fulano é bom, ciclano é mau", entregue de bandeja. Vale a pena ler ;)

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    2. Corrigindo minha pérola *cesto de compras

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  2. Como você disse na resenha, de inicio pensei que realmente fosse um livro bem fútil. Mas com tantas resenhas do lançamento para cá, fui mudando de opinião. Mas, acho que vou deixar para ler mais na frente, minha lista de séries incompletas só cresce.

    Ótima resenha!

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    1. Lucas, no começo pensava assim, mas as resenhas me ajudaram a mudar meu pensamento. Vale a pena ler.

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  3. Preciso ler logo... Haha
    Eu tinha a mesma impressão que você. Mas depois de ler algumas resenhas, vi que de fútil não tinha nada. Comprei alguns dias atrás e estou louca para ler!

    BjO
    http://the-sook.blogspot.com.br/

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    1. Blake, pois é, a gente pode se surpreender com o quanto as primeiras impressões são equivocadas.

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  4. Eu li muitas resenhas positivas sobre o livro, e não duvido que seja uma história estimulante e divertida, mas eu cheguei num ponto em que, não sei me expressar melhor, mas dou mais valor ao meu tempo de leitura. Talvez eu tenha começado a considerar que o ideal seja ler obras mais sólidas e deixar a leitura despretensiosa um pouco de lado, e A Seleção me parece um livro muito despretensioso.

    Digo isso porque só na sua resenha captei diversas referências e a premissa do livro não me pareceu boa: eu torci muito pela Katniss em Jogos Vorazes ou pela Tris em Divergente porque eram casos de vida ou morte, mas no caso da America é: ficar rica ou casar com o amor da sua vida, confirma, produção? Acho que eu não conseguiria levar esse livro a sério, so, why bother?

    Mas sua resenha está ótima, como sempre. Eu e minha meta de leitura é que estamos passando por tempos nebulosos hahahahaha

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    1. Lu, é um modo de pensar, muitas vezes - e por melhor que seja o livro - o estilo dele não casa com o nosso. Acontece ;)

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  5. Estou adiando a leitura de A Seleção por um bom tempo e não via a hora de ler uma resenha de algum blogueiro confiável. Agora sei que preciso passar o livro um pouco mais pra frente dos que tenho que ler. hahaha;

    Beijos. Tudo Tem Refrão

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    1. Ágata, eu também a adiei, mas até foi bom, assim consigo ler os livros com um curto espaço de um para o outro, rsrs. Ah, vale a pena ler :)

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  6. Juro por tudo que vou comprar esse livros desde o lançamento, mas acabei nem dando muita bola. Acho que vou acabar comprando o box da série inteira, quando terminarem de lançar hhaah Não posso deixar de dizer que tinha achado, até agora, a distopia de A seleção um pouco estranha - como assim reis e rainhas, principes e princesas? Geralmente, nesse gênero, a coisa é bem mais mutável, sem esse toque da tradição que associo a um momento pré, e não pós, democracia...

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    1. Isabel, concordo que é um desfecho estranho para um livro distópico: terminar numa monarquia, mas se se considerar que tudo mudou acho que é até plausível, e, certamente, deu um charme a mais.

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  7. Adorei "A Seleção"! Li no final do ano passado, lembro que comprei na pré-venda porque adorei a capa!

    Eu gostei bastante da trama, acho que tem mais romance do que distopia, mas gostei mesmo assim. E torço para America ficar com o príncipe e ter o Aspen como amante! Esse Maxon é muito fresco! kkkk

    Li o conto na semana passada, também é legal! Agora é só esperar "A elite" chegar às livrarias!

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    1. Aléxia, eu também quero que ela fique com Maxon, mas o Aspen tem de sair de cena, eu não vou muito com a cara dele não, rsrsrsrs.

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  8. Estou louca para ler esse livro. São 2 livros?

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  9. Sei que distopias estão na moda, mas acredito que toda distopia tenha seu fundo de realidade futura, ainda mais com o mundo indo do jeito que está. Lógico que uma seleção de garotas pra se tornar princesa é surreal, mas gosto do tema como foi abordado. Vou ler e assistir a série logo mais.

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    1. Summy, eu acho que este é o ponto nas distopias que nos atrai tanto: de um modo geral elas simulam um futuro hipotético que muitas vezes pode ser vislumbrado em nosso presente. Ah, também estou ansioso para assistir a série ;)

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Oscar