3 de maio de 2013

O Cavaleiro Fantasma [Resenha #125]

O Cavaleiro FantasmaSinopse: Jon Withcroft não estava nada feliz. E quem gostaria de ser mandado para um internato bem quando a mãe tinha arranjado um namorado novo? Pois, quando chegou em Salisbury, o garoto só pensava nos acidentes que o Barba (apelido “carinhoso” pelo qual Jon se refere ao seu grande rival) poderia estar sofrendo e no que seria escrito na lápide dele caso algum escorregão fosse fatal.

Até que... na sexta noite em Salisbury, Jon descobre um novo motivo para querer voltar correndo para casa: ele passa a ser perseguido por um bando de fantasmas, que desejava nada mais nada menos que a sua morte.

Mas em vez de pedir ajuda para a mãe, Jon recorre a um outro protetor: sir William Longspee, um cavaleiro fantasma que está enterrado na catedral da cidade e que jurou, antes de ser assassinado, estar sempre ao lado dos fracos e inocentes. Ao lado de Jon e de sua amiga Ella, sir William percorre cemitérios e duela contra zumbis, lutando não só para ajudar as crianças como também para cumprir seu próprio destino. Mas, para saber qual seria esse grande mistério que ronda nosso nobre cavaleiro fantasma, só lendo a história toda.

Minha primeira experiência lendo um livro da autora Cornelia Funke, “O Cavaleiro Fantasma” traz um garoto, Jon, contando como foram suas aventuras quando foi mandado para um internato pela mãe, para que – ele suspeitava – ela pudesse ter uma nova chance de amar alguém, mesmo que esse alguém fosse um dentista – profissão mais odiada por dez em cada dez crianças; dono de uma barba estranha, sendo então, justamente apelidado por ele como o “Barba” – evitando seu novo namorado de ter de aturar todas as artimanhas de seu filho para fazer naufragar o relacionamento.

O que a mãe de Jon não poderia adivinhar é que um fantasma maléfico assombrava a cidade de Salisbury, onde ficava o orfanato, prometendo matar todos os Hartgill homens, em uma louca vingança por terem, um dia, condenado à morte um tal, Lorde Stourton, que se tornara o fantasma vingativo. E Jon era um Hartgill, pois este é o nome de solteira de sua mãe.

Parando pra analisar, temos um garoto em um internato tendo de lidar com seres sobrenaturais e uma herança que, como toda herança, ele não pediu para possuir, mas, mesmo assim, também tem de lidar com as consequências trazidas por ela. Lembra Harry Potter? Lembra, mas a autora não tem medo de ser feliz, e, inclusive, cita o bruxinho – ganhando um ponto positivo comigo – quando Jon ainda se sente ferido por ter sido mandado pra longe de casa:

Eu era o conde de Monte Cristo, que voltaria da terrível ilha-presídio para se vingar de todos aqueles que o haviam mandado para lá. Eu era Napoleão, exilado em Santa Helena para morrer solitário. Harry sob a escada dos Dursleys.

– Página 16.

Até porque eu acho muito forçada toda essa comparação: vai agora um menino pra uma escola e ele quer ser Harry Potter? Não é bem assim, mas, devido à todo o sucesso da obra de Rowling, é inevitável que ela tenha, em muitos casos, se tornado referência em livros infanto-juvenis. Assim como se vampiros começarem a brilhar por aí.

Bom, se existe um fantasma querendo Jon morto certamente existe um que o mantenha vivo, para equilibrar a balança, e ele é Sir William Longspee, que é “apresentado” á Jon por Ella, uma garota da mesma escola de Jon, neta de uma senhora pra lá de simpática que organiza roteiros turísticos assombrados na cidade.

Tendo uma relação estreita com a avó, Ella conhece muitas histórias de fantasmas e fala sobre Longspee para Jon, pois, segundo a lenda, o cavaleiro jurara, há muito tempo, proteger aos desvalidos, mesmo após morto, se tornando então a maior esperança do garoto.

A ação do livro é tão rápida que falar mais seria entregar muita coisa, mas é claro que os dois passarão por diversas situações estranhas até o final do livro. O texto é bastante rápido, o que pode causar certo estranhamento aos leitores mais velhos, mas que, certamente, vai agradar aos mais jovens, afoitos por aventuras que não necessitam de muita profundidade, sendo de bom tom se apelar para a brevidade dos fatos, sem necessidade de, por exemplo, se descrever em mínimos detalhes a paisagem ou a passagem do tempo.

A narrativa em primeira pessoa também facilita uma identificação com o personagem. Apesar de aprontar com o namorado de sua mãe, Jon é um bom garoto, e não há como não sentir por ele quando se depara com a primeira criatura sobrenatural pedindo sua cabeça. E aqui tenho que parabenizar a autora por ter conseguido manter o tom: nada é assustador demais que impeça os mais novos de dormir, mas, por outro lado, também não é tão ensolarado assim.

Os mais jovens encontrarão um livro bem estruturado, na medida, sem excessos, que lhes renderão bons momentos – e algumas doses de adrenalina. A presença do glossário agrega à obra – que tem uma capa linda e um papel com uma gramatura excelente, coisa rara nos dias de hoje – pois lá fica-se sabendo que muitos dos personagens do livros, inclusive os cavaleiros, existiram realmente, assim como a abadia e a escola, que, essas sim, seguem sólidas.

Foi uma boa primeira experiência. Se já me satisfaz com uma obra voltada a um público bem mais jovem, me pergunto o que a autora não pode me proporcionar com algo mais denso.

 

O Cavaleiro Fantasma, de Cornelia Funke (Geister Ritter Tradução de Laura Rivas Gagliardi, 2011).  176 páginas, ISBN 9788565765107  Editora Seguinte.

{B+}

14 comentários:

  1. Tenho muita vontade de ler Cornelia Funke desde que assisti Coração de Tinta.
    Essa é a segunda resenha que leio sobre O cavaleiro fantasma e confesso que estou ficando bem interessada, provavelmente venha a ser minha primeira experiência com a autora também!

    Também acho que a referência a Harry Potter seja inevitável em algumas das obras atuais, em especial porque praticamente toda uma geração de leitores tem em Rowling sua primeira referência literária. Bons autores fazem isso com inteligência (como parece ser o caso de Funke) e não apenas "copiam" a estrutura de HP.

    ;)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Carol, eu também tinha bastante curiosidade acerca da autora, e gostei bastante, espero ler outros livros dela em breve.

      E HP sempre será uma referência para livros do gênero, não há como fugir.

      Excluir
  2. Vc tema alguma coisa contra Edward??? Rúm!!! Adoro literatura infanto-juvenil só lamento que o ocidente seja mais generoso em construir esse tipo de narrativa maravilhosa tendo meninos como protagonistas, gostaria de ver mais meninas enfrentando o mistico e coisas do gênero.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Qual Edward? O que brilha? Pior que não, eu gosto da série, mas preferia que a mocinha ficasse com o Jacob. E é verdade, os meninos meio que dominam o gênero...

      Excluir
    2. Todos os meninos que conheço e não odeiam mortalmente Crepúsculo tem mais simpatia pelo Jacob! #IncrívelIsso :p

      Excluir
  3. Ouço falar muito bem de Cornelia Funke graças a coração de tinta, e li um pouco sobre esse livro em um artigo que dizia como escrever um livro com uma premissa que já fez sucesso (a comparação com HP, no caso).
    Enfim, sou um pouco desconfiada com infanto juvenis não densos. Sério, essa é uma fase tão importante - de crescimento e tudo mais - e apesar de ser difícil introduzir isso de forma legal para o leitor, há uma gama muito vasta de aspectos profundos a se introduzir. Não tão vasta quanto para um adulto, é claro, mas talvez mais intrincada e rica...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Isabel, acho que a autora utilizou bem a premissa, o livro ficou bem escrito, mas ele não é tão denso quanto muitos outros títulos do gênero, mas acredito que ele seja bom para ser um livro de transição...

      Excluir
  4. Gosto muito da autora, li a trilogia Mundo de tinta e amei, mas ainda não li esse, parece muito legal. A escrita dela é bem diferente da J. K. Rowling, não tem como comparar, aliás acho difícil alguém escrever uma série tão fantástica como a da Rowling.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Vanessa, Mundo de Tinta é meu próximo foco de leitura de livros da autora, Espero ler em breve.

      Excluir
  5. EU lia apenas Coração de Tinta da autora e gostei bastante, pretendo ler os demais da trilogia. Essa obra já conhecia, mas ainda nao tive a oportunidade de ler. Mas ta na lista!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Kézia, vale a pena ler ;) agora vou atrás de outros títulos dela ;)

      Excluir
  6. O talento da autora é inegável, e vivemos num mundo onde é quase impossível não comparar uma coisa a outra. Mas se isso desvalorizasse todos os livros, não teríamos mais publicação nenhuma, afinal, seguindo esse pressuposto, Coraline e O Mágico de Oz não poderiam ser considerados bons livros porque têm o mesmo "conceito" de Alice no País das Maravilhas...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Lu, eu gostei bastante, quero ler outras obras dela. E eu acho essas comparações forçadas em alguns casos, acredito que se pode haver inspiração, mas tudo para por aí.

      Excluir

Olá, seu comentário é muito importante para nós.

Nenhum comentário aqui publicado sofre qualquer tipo de edição e/ou manipulação, porém o autor do blog se reserva o direito de excluir todo e qualquer comentário que apresente temática ofensiva, palavras de baixo calão, e qualquer tipo de preconceito e/ou discriminação racial, estando assim em desconformidade com nossa Política de Privacidade.

Oscar